A Microbiota Intestinal e a Doença Celíaca: Perspectivas Terapêuticas
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18 de mar. de 2024
A doença celíaca (DC) é uma condição imunomediada desencadeada pela exposição ao glúten e suas proteínas relacionadas em indivíduos com predisposição genética. Embora os fatores genéticos, como os genes HLA-DQ2 e DQ8, desempenhem um papel crucial, há uma interação complexa entre esses fatores e o ambiente. Recentemente, tem-se observado um interesse crescente no papel da microbiota intestinal na modulação da resposta imunológica e na permeabilidade intestinal, afetando assim o desenvolvimento e a progressão da DC. A microbiota intestinal, composta por milhares de espécies bacterianas, desempenha um papel fundamental no equilíbrio imunológico e metabólico do organismo humano. Sua influência na digestão e metabolismo do glúten tem sido objeto de estudo, destacando-se a capacidade de certas bactérias em metabolizar a gliadina, uma proteína do glúten. Além disso, a composição da microbiota tem sido associada a alterações na permeabilidade intestinal e na resposta imune, fatores cruciais na patogênese da DC. Alterações na Microbiota Intestinal na Doença Celíaca Estudos têm demonstrado alterações significativas na composição da microbiota intestinal em pacientes com DC, caracterizadas por um aumento de bactérias Gram-negativas e Bacteroidetes, e uma redução de Bifidobactérias e Lactobacilos. Essas alterações podem influenciar a resposta imune local e a inflamação intestinal, contribuindo para a progressão da doença. Perspectivas Terapêuticas e Potencial Terapêutico No contexto da doença celíaca (DC), os probióticos têm o potencial de influenciar a composição e as funções da microbiota, possivelmente retardando ou prevenindo o desenvolvimento da doença. Estes microrganismos podem regular uma série de processos, incluindo a degradação de toxinas, bloqueio de locais de adesão, produção de substâncias inibidoras contra patógenos e resposta imune por competição de nutrientes. É frequente que pacientes com DC, que aderem à dieta isenta de glúten (DIG), apresentem sintomas persistentes. Acredita-se que os probióticos, especialmente aqueles relacionados ao metabolismo da gliadina, como Bifidobacterium e Lactobacillus, possam servir como terapia adjuvante para esses pacientes , potencialmente reduzindo as reações adversas associadas a uma dieta isenta de glúten rigorosa. Embora os probióticos tenham mostrado promessa no controle de sintomas em pacientes com DC em DIG, os dados disponíveis são limitados e não conclusivos. Os prebióticos emergem como uma adição promissora e segura à DIG entre as novas terapias propostas, com impacto positivo na saúde humana. Estes compostos, ao estimularem o crescimento e a atividade de cepas bacterianas benéficas como Bifidobacterium e Lactobacillus no intestino, podem regular a microbiota intestinal e potencialmente aliviar os sintomas associados à DC. Embora haja uma hipótese de que a adição de prebióticos à DIG possa ser uma terapia adjuvante econômica e conveniente para DC, há apenas um número limitado de estudos preliminares em humanos investigando seus efeitos na inflamação intestinal em geral e na DC em particular. Microbiota e DC na Literatura Um estudo conduzido por Krupa-Kozak et al. mostrou uma redução na contagem de Lactobacillus e um aumento na contagem de Bifidobacterium em crianças com DC que consumiram inulina enriquecida com oligofrutose. Outros prebióticos, como lactulose e ácido lactobiônico, podem estimular diretamente cepas de Lactobacillus e fornecer um substrato ideal para bactérias mitigarem os impactos negativos do estresse dos ácidos biliares. Estudos adicionais têm mostrado aumento no número de Bifidobacterium em indivíduos saudáveis que consumiram inulina, bem como melhorias na microbiota fecal e aumento de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) totais, como propionato e butirato, com o uso de inulina enriquecida com oligofrutose na DIG. Intervenções dietéticas visando modular a microbiota intestinal têm sido exploradas como uma abordagem terapêutica para pacientes com DC. Estudos preliminares sugerem que a suplementação com prebióticos e probióticos pode melhorar a resposta imune intestinal e restaurar a integridade da mucosa intestinal após a exclusão do glúten. No entanto, são necessários estudos clínicos adicionais para avaliar a eficácia e determinar os protocolos ideais de tratamento. Prática Clínica A compreensão do papel da microbiota intestinal na DC oferece novas perspectivas terapêuticas para a gestão dessa condição. A identificação de estratégias que visam modular a microbiota pode representar um avanço significativo no tratamento da DC e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. No entanto, são necessárias mais pesquisas para validar essas intervenções e determinar sua eficácia a longo prazo. Continue Estudando… Sugestão de leitura: Carboidratos e seu impacto na microbiota intestinal Sugestão de leitura: Influência da microbiota na glicemia Sugestão de leitura: Doenças metabólicas e microbiota