Interação entre Exercício Físico e Microbiota Intestinal
Brunno Falcão
3 min
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17 de abr. de 2023
O exercício físico previne contra várias doenças crônicas e a microbiota intestinal pode estar envolvida em muitos desses efeitos benéficos. Entretanto, algumas diferenças específicas devem ser consideradas com base nas várias formas de se praticar exercícios: frequência, modo ou intensidade do exercício e as peculiaridades do treinamento aeróbico ou exercício resistido. A exemplo do papel de atividades específicas de treinamento, foi observada uma relação inversa entre a qualidade e a natureza da atividade física e a quantidade de ácidos biliares fecais, e essa correspondência se torna mais forte à medida que a atividade física se intensifica. Este é um exemplo específico de como a frequência, o modo ou a intensidade do exercício podem afetar a microbiota intestinal ( RINNINELLA et al, 2019 ). O perfil e a concentração relativa de ácidos biliares individuais podem desempenhar um papel no favorecimento de populações microbianas específicas. Table of Contents Toggle Exercício físico e Microbiota intestinal na Literatura Prática Clínica Referências Bibliográficas Exercício físico e Microbiota intestinal na Literatura A atividade física regular influencia o eixo intestino/cérebro, resultando em um estado imunorregulador anti-inflamatório. Além de que por reduzir o tempo transitório de evacuação e, portanto, o tempo de contato entre os patógenos e a camada de muco gastrointestinal, o exercício de baixa intensidade pode ajudar a reduzir o risco de câncer de cólon, diverticulose e doenças inflamatórias intestinais em indivíduos submetidos a sessões regulares de treinamento ( SANTACROCE et al, 2021 ). Foi observado que o exercício resistido resulta em uma diminuição transitória do fluxo sanguíneo visceral (até 80% dos níveis basais) com potenciais alterações subsequentes na morfologia e fisiologia dos tecidos intestinais (MAILING et al, 2019). Essa redução depende do aumento da resistência arterial no leito vascular visceral, secundária à maior ativação do sistema nervoso simpático. Assim, quando o exercício físico é excessivamente prolongado, o aumento da permeabilidade intestinal pode favorecer a translocação bacteriana do cólon com um risco subsequente associado de problemas gastrointestinais. Daí uma das várias associações entre esportes de longa duração e complicações gastrointestinais. Um denominador comum do perfil microbiano em pessoas que praticam atividade física de forma regular é a composição da microbiota por bactérias tidas como “boas”. Essas bactérias “boas” estão associadas a uma maior produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). Os AGCCs produzidos pela microbiota podem ativar a quinase dependente de AMP (AMPK), um regulador do metabolismo energético nas células musculares. Essa população bacteriana “boa” varia de acordo com o tipo de modalidade de exercício. Além disso, uma presença aumentada de Veillonella spp. e uma cepa particular de V. atypica foi observada em amostras de fezes de um grupo de corredores de maratona ( SCHEIMAN et al, 2019 ). Já o filo Bacillota e F. prausnitzii spp. foram particularmente representados em atletas em um estudo observacional transversal feito com atletas profissionais de rugby ( CLARKE et al, 2014 ). Prática Clínica As evidências demonstram que o treinamento regular, juntamente com adequação dietética e uma diversidade microbiana intestinal específica, podem contribuir de maneira significativa para a plena capacidade de performar fisicamente. Nesse contexto, em casos de prescrição de probióticos, é necessário adequação ante as variações ocasionadas pelas diferentes práticas de exercício físico na microbiota intestinal. Podendo ser mais interessante uma abordagem com prebióticos, devido a complexidade individual do perfil microbiano. 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