Já é Possível Individualizar a Suplementação Nutricional a partir do Perfil Genético do Paciente?
Brunno Falcão
4 min
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4 de jul. de 2024
Genes, comportamentos, estilo de vida e meio ambiente são fatores que afetam a saúde e o desempenho das pessoas. Dessa forma, a genética é um tema cada vez mais comum e presente tanto em pesquisas quanto no dia a dia dos profissionais de saúde. Assim, quando observamos a obesidade, percebemos que ela é uma combinação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais, com diversos genes atuando em diferentes vias metabólicas que também levam ao ganho de peso. No contexto esportivo, a genética impacta significativamente a performance dos atletas. Por exemplo, estudos indicam que 251 polimorfismos estão associados ao desempenho esportivo , e 128 marcadores genéticos são positivamente relacionados à performance atlética. Além disso, na alimentação e suplementação, a genética também desempenha um papel crucial, pois cada atleta responde de forma única. Essa resposta depende de fatores intrínsecos , como genes, nível de atividade e microbiota intestinal. Por exemplo, a cafeína e a creatina podem agir de maneira diferente em cada indivíduo, dependendo do seu genótipo. Portanto, a individualização e a personalização das recomendações são essenciais, e os testes genéticos são ferramentas valiosas que podem ser utilizadas . Esses testes, contudo, não são diagnósticos, mas preditivos, ajudando a orientar as estratégias nutricionais e de suplementação. Ainda, dentro da suplementação, nutrientes como ferro, vitamina D, ácido fólico e cafeína merecem atenção especial devido aos seus impactos no organismo dos atletas. Ferro O ferro desempenha um papel fundamental na melhora da produção de energia, transporte de oxigênio, imunidade e performance dos atletas. Em testes genéticos, o gene HFE é responsável pela regulação da absorção intestinal de ferro . Quando ocorre uma mutação nesse gene, pode haver uma sobrecarga de ferro, desencadeando respostas adversas, como o estresse oxidativo no corpo. Vale ressaltar que, em atletas de elite, a prevalência do polimorfismo do gene HFE é de 80%, enquanto na população geral é de 27%. Consequentemente, isso pode proporcionar uma vantagem genética , pois esses indivíduos mantêm níveis de ferro no limite superior da faixa normal, mas não excessivos. Assim, é crucial entender a genética do atleta para que a suplementação de ferro seja administrada de forma adequada, prevenindo danos à saúde. A personalização da suplementação é essencial, pois alguns genótipos podem predispor os atletas a um risco aumentado de deficiência de ferro. Portanto, o teste genético não só ajuda a identificar aqueles que podem ter uma vantagem genética, mas também aqueles que necessitam de uma suplementação específica para evitar deficiências. Além disso, a utilização de testes genéticos permite uma abordagem mais precisa e eficaz na suplementação de ferro, garantindo que os níveis sejam otimizados para a melhor performance atlética sem comprometer a saúde do atleta. Essa individualização é fundamental, especialmente em atletas de elite, onde a m argem para otimização do desempenho é estreita e qualquer desequilíbrio pode ter consequências significativas. Vitamina D A vitamina D desempenha um papel crucial na melhora da im unidade, massa muscular, saúde óssea, controle glicêmico, recuperação muscular e redução da inflamação. No entanto, algumas pessoas podem apresentar polimorfismos que afetam a vitamina D, especificamente nas enzimas responsáveis por sua ativação e na proteína que realiza seu transporte no organismo. Esses polimorfismos podem comprometer a eficiência com que a vitamina D é processada e utilizada pelo corpo , levando a uma série de problemas de saúde relacionados. Portanto, quando exames revelam níveis baixos de vitamina D em um paciente, a utilização de testes genéticos pode ser extremamente útil. Esses testes ajudam a identificar as causas da baixa absorção da vitamina D, permitindo uma suplementação mais precisa e eficaz. Ao entender melhor as variações genéticas individuais, é possível determinar não apenas a quantidade adequada de suplementação, mas também a forma mais eficiente de administrá-la , garantindo que os níveis de vitamina D sejam otimizados para melhorar a saúde geral do paciente. Ácido Fólico O polimorfismo no gene MTHFR está associado a baixos níveis séricos de folato e hemácias , bem como ao aumento da homocisteína e inflamação, entre outros impactos negativos no organismo. Esse polimorfismo pode comprometer a eficiência da metabolização do folato, resultando em deficiências que afetam diversas funções corporais. Além disso, ressalta-se que uma dieta com alta ingestão de proteína pode alterar a concentração de folato e a via de homocisteína , especialmente se não for acompanhada de uma boa ingestão de vegetais verdes escuros. O baixo consumo de folato tem sido associado a um risco aumentado de dor muscular, fadiga, degradação muscular e perda de força. Por sua vez, a vitamina B6 é essencial para a expressão de genes responsáveis pela reparação e saúde do músculo esquelético. Portanto, garantir uma ingestão adequada de folato e vitamina B6 é crucial para evitar esses problemas, especialmente em indivíduos com polimorfismos no gene MTHFR. Desse modo, a suplementação adequada e a dieta balanceada podem ajudar a mitigar os efeitos desses polimorfismos e promover melhor saúde muscular e geral. Cafeína O teste genético pode ser aplicado para entendermos as vias de metabolização da cafeína no organismo. Dessa forma, é possível identificar se há ou não os polimorfismos dos genes CYP1A2 e ADORA2A . Ademais, estudos comprovam que o tempo e a dose de cafeína têm impactos diferentes nos indivíduos, dependendo dos genótipos de cada um. Por exemplo, no polimorfismo da CYP1A2, há uma maior metabolização da cafeína para a mesma quantidade ingerida em comparação a indivíduos sem esse polimorfismo. Prática Clínica Por fim, ressalta-se que muitos nutrientes já são analisados por testes genéticos, possibilitando, assim, a individualização da suplementação. No entanto, é de grande importância a análise correta e a interpretação dos resultados dos testes genéticos. Afinal, eles são ferramentas valiosas e devem ser utilizadas como um recurso adicional para otimizar a saúde e o desempenho individual. Continue Estudando… Sugestão de estudo : Os segredos de um atendimento individualizado de verdade na reprogramação epigenética Sugestão de estudo : Uso de Cafeína na Performance Esportiva Sugestão de estudo : Quando suplementar ferro em atletas? Referências HERMINE, Olivier; DINE, Gérard; GENTY, Vincent; MARQUET, Laurie-Anne; FUMAGALLI, Gabriela; TAFFLET, Muriel; GUILLEM, Flavia; VAN LIERDE, Françoise; ROUSSEAUX-BLANCHI, Marie-Philippe; PALIERNE, Christian. Eighty percent of French sport winners in Olympic, World and Europeans competitions have mutations in the hemochromatosis HFE gene. Biochimie , [S.L.], v. 119, p. 1-5, dez. 2015. Elsevier BV.