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Nutrição para Esportes em Condições Extremas

Brunno Falcão

4 min

6 de jul. de 2024

A termorregulação  é a capacidade de um organismo manter a temperatura corporal dentro de limites adequados, mesmo em condições ambientais variadas, como calor, frio, umidade e altitude. Durante o exercício, enfrentamos uma carga térmica formada pelo calor ambiental e pela atividade muscular, que pode vir através da radiação solar, aquecimento do solo e falta de ventilação . Dessa forma, a temperatura central do nosso corpo aumenta cerca de 1°C a cada 5-7 minutos . Quando atinge 37°C, o hipotálamo sinaliza a hipófise para liberar ADH e a suprarrenal para liberar aldosterona . Isso resulta em vasodilatação e sudorese  para dissipar o calor. Assim, a vasodilatação permite que o sangue seja transportado da parte central para a periférica, onde pode ser resfriado, ajudando a manter a temperatura corporal.  Em condições de excesso de calor ambiental , perdemos a capacidade de resfriar o corpo eficientemente. Isso leva a uma redução no fluxo sanguíneo para o cérebro, resultando em menor atenção, prontidão mental reduzida, maior percepção de esforço e exaustão . Além disso, aumenta a frequência cardíaca, diminui o VO2max e, consequentemente, diminui o desempenho . Iniciar o exercício desidratado também pode alterar o uso de glicogênio, afetando ainda mais a performance. Calor e Umidade A baixa umidade  ocorre quando a umidade relativa do ar é inferior a 30%. Em ambientes muito secos, há ressecamento das vias aéreas, maior transpiração e maior risco de desidratação. Para mitigar esses efeitos, é importante aumentar a ingestão de líquidos e repor eletrólitos. Já a alta umidade  ocorre quando a umidade relativa do ar está acima de 80%. Em ambientes muito úmidos, há maior proliferação de patógenos, redução da evaporação e maior dificuldade na troca de calor. Para lidar com isso, é crucial manter uma hidratação adequada durante a atividade física e utilizar estratégias de resfriamento corporal. Aclimatação A imersão em água quente é uma estratégia utilizada imediatamente após o exercício em condições temperadas . Em estudos consecutivos ao longo de seis dias, essa prática reduziu a tensão térmica  durante o exercício submáximo em condições temperadas e quentes, e melhorou o desempenho  em um teste de 5km em esteira no calor. Um estudo observou que o suco de beterraba, rico em nitrato, reduziu em 6% o custo de oxigênio durante o trabalho com carga no calor  e aumentou em 11% a temperatura central dos soldados que o consumiram. Estratégias para condições de calor extremo incluem aclimatação por imersão em água, hidratação, suplementação de nitrato e redução de danos à barreira intestinal , através de hidratação e possível suplementação de curcumina. Ambientes Frios Além de aumentar o metabolismo basal, a exposição ao frio aumenta a oxidação de gordura , tendo em vista que viver em ambientes frios é fisicamente exigente e metabolicamente custoso. Em condições de frio, os mecanismos orexígenos estão ativados, resultando em diminuição da secreção de leptina, aumento de grelina e aumento de NPY . A redução da leptina e da adiponectina causa estresse físico e mental. Em um estudo, alta ingestão energética regulou o apetite e o estado nutricional , enquanto a IL6 apresentou valores extremos acima do normal, causando tensão muscular. Para atletas em condições de frio, recomenda-se alimentos com alta palatabilidade e disponibilidade energética , como frutas secas, chocolate, oleaginosas, queijos e alimentos liofilizados. Altitude Em altitudes elevadas, há uma diminuição da pressão atmosférica, resultando em menor pressão parcial de oxigênio alveolar e arterial , o que pode causar hipóxia. Como consequência, o mal da montanha é um sofrimento físico causado pela dificuldade de adaptação à menor pressão de oxigênio em altitudes elevadas. Os sintomas incluem dor de cabeça, falta de apetite, náuseas, vômitos, fraqueza, entre outros.  Quanto maior a altitude, maior a utilização de carboidratos  e o aumento do estresse oxidativo.  Um ponto crucial em altitudes elevadas é a suplementação de ferro . Recomenda-se realizar exames laboratoriais como hemograma, ferritina e ferro sérico de 4 a 6 semanas antes da exposição à altitude. Caso a ferritina esteja abaixo de 35 ng/mL, é essencial consultar um médico para iniciar a suplementação de ferro elementar em dose única. Se a ferritina estiver abaixo de 15 ng/mL, pode ser necessária a administração de ferro intravenoso com supervisão médica.  Prática Clínica A termorregulação é essencial para manter a saúde e o desempenho no esporte. Em condições de calor, estratégias como hidratação adequada e reposição de eletrólitos são cruciais para evitar a diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e a redução do desempenho. A aclimatação, como a imersão em água quente e suplementação com suco de beterraba, pode melhorar a tolerância ao calor. Em climas frios, é importante focar em alimentos energéticos para suportar o aumento do metabolismo basal. Em altitudes elevadas, a suplementação de ferro é fundamental para prevenir o mal da montanha e otimizar a adaptação. Personalizar estratégias nutricionais conforme as condições ambientais e necessidades individuais promove a saúde e o desempenho otimizado de atletas e pacientes. Continue Estudando… Sugestão de estudo:   Papel dos Carboidratos na Performance Esportiva: Tipos, Timing e Quantidade Sugestão de estudo:   Você Sabia que a Periodização Nutricional do Atleta se dá em Ciclos? Sugestão de estudo : Além da Faixa de Referência: Até Quando é Aceitável as Alterações Laboratoriais no Crossfit? Referências Bibliográficas LÓPEZ-TORRES, O.; RODRÍGUEZ-LONGOBARDO, C.; ESCRIBANO-TABERNERO, R.; FERNÁNDEZ-ELÍAS, V. E. Hydration, Hyperthermia, Glycogen, and Recovery: Crucial Factors in Exercise Performance - A Systematic Review and Meta-Analysis . Nutrients , v. 15, n. 20, p. 4442, 2023.