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O Impacto do Intestino nas Doenças Auto-Imunes

Brunno Falcão

4 min

22 de abr. de 2024

Autoimunidade x Intestino O sistema imunológico desempenha um papel vital na proteção do corpo contra microorganismos invasores. Em condições normais, o sistema imunológico não reconhece as células do próprio corpo como ameaças e, portanto, não desencadeia uma resposta imune contra elas. No entanto, na autoimunidade, as células imunológicas cometem um erro e atacam erroneamente as próprias células do corpo. As doenças autoimunes surgem quando o sistema imunológico perde a capacidade de distinguir entre as células "próprias" e "estranhas", resultando na produção de anticorpos contra as próprias células, tecidos ou órgãos do corpo humano. A prevalência das doenças autoimunes apresenta uma clara disparidade entre os sexos, sendo as mulheres mais frequentemente afetadas do que os homens, especialmente em situações de estresse. Causas A autoimunidade pode ser desencadeada por uma combinação de fatores ambientais e genéticos. Muitos estudos têm destacado a relação direta entre a função intestinal e as doenças autoimunes. Por exemplo, a disbiose intestinal tem sido associada ao desenvolvimento de várias doenças autoimunes , incluindo distúrbios do sistema nervoso central, doenças sistêmicas como o lúpus e o diabetes tipo 1, além de afetar articulações (como artrite), síndrome do intestino permeável e esclerose. Microbiota Intestinal e Função de Barreira O epitélio intestinal é composto por várias células especializadas, como enterócitos, células globet que produzem mucina, células paneth que sintetizam peptídeos antimicrobianos e enterocromafins que produzem hormônios. Além disso, a barreira intestinal é composta por uma camada de muco, microbiota, IgA secretora, mucinas e peptídeos antimicrobianos, juntamente com proteínas como claudina e ocludina, que controlam a passagem de substâncias. O aumento da permeabilidade intestinal pode levar à translocação bacteriana, desencadeando a disbiose e contribuindo para o desenvolvimento de doenças autoimunes. A função da barreira intestinal é essencial para evitar a passagem de antígenos prejudiciais para o corpo. A ruptura dessa barreira aumenta a permeabilidade intestinal, resultando na síndrome do intestino permeável. Dietas típicas do estilo de vida ocidental, caracterizadas pelo consumo de fast-food, refrigerantes, alimentos refinados e frituras, promovem a disbiose intestinal e a permeabilidade intestinal aumentada, contribuindo para processos inflamatórios. Portanto, a avaliação do funcionamento intestinal é fundamental para pacientes com doenças autoimunes, pois fatores ambientais, como a dieta, desempenham um papel crucial na modulação da microbiota e, consequentemente, da resposta imune. A dieta mediterrânea, conhecida por seu alto teor de polifenóis, ômega-3 e fibras/MACs, tem sido associada a benefícios significativos para a saúde e pode desempenhar um papel importante no manejo das doenças autoimunes.  Além disso, estudos têm demonstrado uma associação entre o estresse emocional e o início de doenças autoimunes, destacando a importância da abordagem multidisciplinar no tratamento dessas condições. Formulação Os nutricionistas desempenham um papel crucial no manejo das doenças autoimunes, prescrevendo dietas e nutrientes adequados e incentivando hábitos saudáveis, como o sono adequado. Ferramentas como o questionário de hipermeabilidade intestinal do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional podem auxiliar na identificação da permeabilidade intestinal aumentada e na quantificação dos sintomas para um tratamento mais eficaz. Além disso, a suplementação com nutrientes específicos, como fibras, ômega-3, vitaminas, minerais e polifenóis, pode ajudar a melhorar a permeabilidade intestinal e reduzir a inflamação associada às doenças autoimunes. A formulação sugerida, contendo silício orgânico, quercetina e cúrcuma, pode oferecer benefícios adicionais na modulação da resposta imune e na redução da inflamação . Os polifenóis, encontrados em alimentos como chá verde, melancia e beterraba, também são conhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras. Lúpus No contexto do lúpus eritematoso sistêmico (LES), uma dieta rica em carboidratos tem sido associada a um aumento do risco da doença, enquanto fitoquímicos como cúrcuma, limão, própolis, cacau e canela têm sido estudados por sua capacidade de modular a resposta inflamatória e antioxidante. A curcumina, presente na cúrcuma, por exemplo, tem sido amplamente estudada por sua atividade anti-inflamatória e antioxidante em uma variedade de condições clínicas, incluindo doenças autoimunes. Em resumo, a abordagem nutricional desempenha um papel essencial no manejo das doenças autoimunes, oferecendo uma estratégia complementar e integrativa para o tratamento dessas condições complexas.

Prática Clínica Na sua prática clínica, os nutricionistas devem analisar a relação entre o intestino e as doenças auto-imunes, avaliando a dieta, o estilo de vida e a saúde intestinal do doente. Podem recomendar modificações dietéticas específicas para reduzir a inflamação e promover a cicatrização intestinal. Isto pode incluir a eliminação de alimentos desencadeadores, como o glúten ou os lacticínios, que podem exacerbar os sintomas auto-imunes. Além disso, os nutricionistas podem sugerir a incorporação de probióticos e prebióticos na dieta para apoiar um microbioma intestinal saudável. Estas intervenções visam restabelecer o equilíbrio intestinal e modular a resposta imunitária, reduzindo, em última análise, a gravidade e a frequência das crises de doenças auto-imunes. Continue Estudando... Sugestão de leitura: Vitamina D e doenças autoimunes: qual a relação? Sugestão de leitura: O estresse pode desencadear doenças autoimunes? Sugestão de leitura: Nutrição em Doenças Autoimunes: Estratégias para Fortalecer o Corpo e Aliviar Sintomas Referências Bibliográficas KNIPPENBERG, Aziyadé; A ROBINSON, George; WINCUP, Chris; CIURTIN, Coziana; JURY, Elizabeth C; KALEA, Anastasia Z. Plant-based dietary changes may improve symptoms in patients with systemic lupus erythematosus. Lupus, [S.L.], v. 31, n. 1, p. 65-76, jan. 2022. SAGE Publications. http://dx.doi.org/10.1177/09612033211063795