Regulação Emocional no Transtorno de Compulsão Alimentar
Brunno Falcão
3 min
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10 de jun. de 2024
O Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) é caracterizado pela ingestão excessiva de alimentos em um curto espaço de tempo, acompanhada de uma sensação de perda de controle . Muitas vezes, os pacientes comem sozinhos, sentindo-se envergonhados e, posteriormente, afligidos por sentimentos de nojo, culpa ou tristeza. O mais recente Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) reconhece que a compulsão alimentar e as emoções negativas estão interligadas. O diagnóstico de TCAP requer a presença de uma "angústia significativa em relação à compulsão alimentar". Emoções em Indivíduos com Transtorno de Compulsão Alimentar Há algumas décadas, Bruch sugeriu uma ligação entre fatores emocionais e compulsão alimentar. Mais recentemente, pesquisas indicaram que a maioria dos indivíduos com Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica também apresenta um ou mais transtornos psiquiátricos ao longo da vida, sendo os transtornos de humor e ansiedade os mais comuns. Ademais, estudos sugerem que a depressão está relacionada a episódios mais graves de compulsão alimentar. Indivíduos com TCAP parecem lidar de forma diferente com estressores e emoções negativas em comparação com indivíduos saudáveis , enfrentando mais dificuldades emocionais e sendo menos capazes de tolerar o humor negativo. Em geral, os índices de humor negativo parecem ser mais elevados e os de humor positivo mais baixos nos dias de compulsão. Além da tristeza, outras emoções como raiva/frustração e a presença de problemas interpessoais, também desempenham um papel significativo para episódios de compulsão alimentar. Embora alguns estudos tenham examinado a relação entre afeto positivo e alimentação em populações saudáveis, poucos investigaram especificamente essa relação em indivíduos com TCAP. Portanto, mais pesquisas são necessárias para compreender melhor essas associações. Estratégias de Regulação Emocional A regulação emocional envolve a capacidade de lidar de forma eficaz com eventos diários, influenciando quais emoções são experimentadas e como são expressas. Indivíduos usam estratégias de regulação emocional para enfrentar situações difíceis, sendo que aqueles que o fazem de maneira adaptativa conseguem atenuar e modular esses estados afetivos. A literatura sugere que pessoas recorrem à compulsão alimentar para lidar com emoções negativas, muitas vezes por falta de estratégias mais adaptativas. Estratégias como reavaliação (focada no antecedente) e resolução de problemas são consideradas adaptativas, pois ajudam a diminuir o impacto emocional de situações estressantes, modificando a sequência emocional antes que as tendências de respostas emocionais sejam geradas. Já a supressão (focada na resposta) reduz a expressão das emoções, pois modifica o aspecto comportamental das tendências de resposta emocional, sem reduzir a experiência da emoção negativa. Isso pode permitir que a emoção negativa continue a ocorrer e acumular sem solução. Outra estratégia prejudicial é a ruminação, comum em pessoas com transtornos alimentares, que atrapalha a resolução de problemas e agrava o estado emocional. Indivíduos com Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) parecem ter mais dificuldades em regular suas emoções, com uma tendência maior a suprimi-las e menos a reavaliá-las. Essas dificuldades com a regulação emocional estão associadas à gravidade da psicopatologia dos transtornos alimentares, podendo afetar outros comportamentos, como abuso de substâncias e autolesão. Prática Clínica A literatura científica fornece evidências claras de que emoções negativas e estratégias mal adaptativas de regulação emocional desempenham um papel crucial no início e na manutenção da compulsão alimentar. Por isso, ao serem identificadas, juntamente com outros critérios para o diagnóstico do transtorno de compulsão alimentar, essas questões devem ser tratadas com Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) por um profissional devidamente capacitado. Em alguns casos, o tratamento farmacológico com o uso de inibidores seletivos da receptação de serotonina ou lisdexanfetamina também pode ser considerado. Continue Estudando... Sugestão de Estudo: Como Ter e Promover Saúde Mental em Meio ao Caos do Século Sugestão de Estudo: Mindfulness Eating no Tratamento da Compulsão Alimentar Sugestão de Estudo: Eixo Intestino-Cérebro e Transtorno Alimentar: Há relação? Referências Bibliográficas DINGEMANS, Alexandra; DANNER, Unna; PARKS, Melissa. Emotion Regulation in Binge Eating Disorder: a review . Nutrients , [S.L.], v. 9, n. 11, p. 1274, 22 nov. 2017. MDPI AG.