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A Semaglutida melhora os sintomas da insuficiência cardíaca?

Brunno Falcão

4 min

8 de set. de 2023

A Semaglutida, atualmente reconhecida como Ozempic, vem ganhando destaque por  melhorar os sintomas clínicos da Insuficiência Cardíaca de Fração de Ejeção Preservada em pacientes obesos. Esse é o assunto da vez no Congresso Europeu de Cardiologia que aconteceu de 25 a 28 Agosto de 2023 em Amsterdam na Holanda.  Por estar aumentando seu índice de prevalência, a insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada vem sendo estudada e associada a uma alta carga de sintomas e comprometimento funcional, especialmente em pessoas com obesidade. E nesse sentido, nenhuma terapia foi aprovada para tratar doenças relacionadas à obesidade e insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada. Leia abaixo para entender melhor o papel da semaglutida nessa condição! Table of Contents Toggle O que é a Insuficiência Cardíaca? Insuficiência cardíaca e obesidade são doenças que se completam? Insuficiência Cardíaca e Obesidade na Litratura Semaglutida e Insuficiência Cardíaca Prática Clínica Referências Bibliográficas O que é a Insuficiência Cardíaca? A insuficiência cardíaca  pode ser definida como a incapacidade do coração em manter o débito cardíaco adequado à demanda metabólica dos tecidos. Hoje, ela é a causa mais comum de morte cardiovascular em países da Europa Ocidental e EUA, além de ser um problema crescente no Brasil. O envelhecimento populacional, o aumento da prevalência de fatores de risco, como hipertensão, e a maior sobrevida a eventos antes fatais, como o IAM, têm levado a um maior número de pacientes com essa comorbidade. Além disso, a ocorrência de insuficiência cardíaca em uma população mais velha leva a um cenário frequente onde associa-se com outras comorbidades não cardiovasculares, que podem exigir uma atenção especial no diagnóstico e tratamento. Por isso, é crescente o número de internações quando há descompensação. É importante destacar que os ventrículos são a principal estrutura cardíaca responsável pelo esvaziamento cavitário e envio de sangue para o organismo. Desse modo, a classificação leva muito em consideração como os ventrículos estão funcionando. De todas as classificações, a mais moderna e a mais importante é a divisão entre “ICFER” e “ICFEP”, sendo Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida e Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada, respectivamente. O ponto de corte entre elas é encontrado por exame de imagem como por exemplo o ecocardiograma, onde a fração de ejeção ventricular menor que 40% é considerada reduzida. Por outro lado, o paciente sem alterações ao exame de imagem (FEVE >50%), porém com clínica preenchendo os Critérios de NYHA ( New York Heart Association) que avalia o grau de dispneia, é considerado um paciente ICFEP.  Insuficiência cardíaca e obesidade são doenças que se completam? Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada é responsável por mais de metade de todos os casos de insuficiência cardíaca nos Estados Unidos e também no Brasil. Entretanto, a maioria das pessoas afetadas pela doença encontra-se em situação de obesidade ou sobrepeso. Há um crescente acúmulo de evidências que sugerem que a obesidade e o excesso de gordura corporal não são apenas condições coexistentes, mas podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento e progressão na ICFEP. Pacientes com insuficiência cardíaca de fração de ejeção preservada e obesidade apresentam características hemodinâmicas e clínicas mais adversas e uma maior carga de sintomas, além de pior capacidade funcional e qualidade de vida gravemente prejudicada quando comparada àqueles pacientes com o mesmo problema cardíaco, mas sem obesidade. Insuficiência Cardíaca e Obesidade na Litratura Nesse sentido, o estudo “Semaglutide in Patients with Heart Failure with Preserved Ejection Fraction and Obesity”, publicado na revista The New England Journal of Medicine, chamou a atenção para o problema do paciente obeso que apresenta dispneia aos esforços, edema em membros inferiores e intolerância ao exercicio físico.  Contudo, esses pacientes possuem uma carga especialmente elevada de sintomas e limitações físicas, bem como uma má qualidade de vida. Por isso, reduzir os sintomas e melhorar a função física são amplamente considerados como objetivos-chave no manejo da condição, tão importante como evitar mortes e hospitalizações. Embora essa relação entre obesidade e ICFEP seja sub-reconhecida, dados recentes sugerem que o tecido adiposo pode desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento, progressão e resultados adversos da insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada. Pois, a presença de adiposidade visceral está associada com aumento da inflamação, assim como a resistência insulínica e com o remodelamento cardíaco. Semaglutida e Insuficiência Cardíaca Certamente, após a realização do estudo que investigou o uso da Semaglutida em doses para o tratamento da obesidade, foi observada uma significativa redução dos sintomas e das limitações físicas. Portanto, podemos concluir que o uso do análogo de GLP-1 funciona mais que as medicações já consolidadas? Ainda não. No entanto, ao final do estudo, observou-se que a redução do peso corporal, com um foco maior na mudança da composição corporal, resultou em reduções substanciais nos sintomas e limitações físicas dos pacientes obesos com ICFEP. Além disso, foram obtidos insights interessantes sobre uma espécie de paradoxo, onde os pacientes obesos precisam perder peso para aumentar sua disposição e desempenho nas atividades físicas, o que por sua vez leva a uma perda de peso adicional de forma progressiva.  Por outro lado, não apenas houve melhorias nos sintomas de dispneia, mas também ocorreu uma drástica redução nos níveis de NT-proBNP, um marcador sérico que está relacionado ao “controle” da insuficiência cardíaca. Prática Clínica Em suma, a abordagem terapêutica que emprega uma dose semanal de 2,4 mg de Semaglutida revelou-se altamente promissora para pacientes com insuficiência cardíaca com preservação da fração de ejeção e obesidade. Através desse tratamento, observaram-se não apenas reduções significativas nos sintomas associados às limitações cardíacas, mas também melhorias substanciais nas restrições físicas e no desempenho durante atividades físicas. Além disso, os pacientes que receberam o tratamento apresentaram uma notável perda de peso, destacando a eficácia dessa abordagem em abordar múltiplos aspectos da condição. Esses resultados não apenas ampliam nossa compreensão do potencial da semaglutida, mas também sugerem uma nova perspectiva promissora no manejo global da insuficiência cardíaca com preservação da fração de ejeção em pacientes com obesidade.  Referências Bibliográficas Sugestão de Leitura: MANEJO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM A DIETA DASH Artigos: KOSIBOROD, Mikhail N.; ABILDSTRØM, Steen Z.; BORLAUG, Barry A.; BUTLER, Javed; RASMUSSEN, Søren; DAVIES, Melanie; HOVINGH, G. Kees; KITZMAN, Dalane W.; LINDEGAARD, Marie L.; MØLLER, Daniél V.. Semaglutide in Patients with Heart Failure with Preserved Ejection Fraction and Obesity . New England Journal Of Medicine, [S.L.], p. 1, 25 ago. 2023. Massachusetts Medical Society. http://dx.doi.org/10.1056/nejmoa2306963.  HAASS, Markus; KITZMAN, Dalane W.; ANAND, Inder S.; MILLER, Alan; ZILE, Michael R.; MASSIE, Barry M.; CARSON, Peter E.. Body Mass Index and Adverse Cardiovascular Outcomes in Heart Failure Patients With Preserved Ejection Fraction . Circulation: Heart Failure, [S.L.], v. 4, n. 3, p. 324-331, maio 2011. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health). http://dx.doi.org/10.1161/circheartfailure.110.959890.  Classifique esse post #doençacardiovascular #insuficiênciacaríaca #obesidade #semaglutida