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Além da Faixa de Referência: Até Quando é Aceitável as Alterações Laboratoriais no Crossfit?

Brunno Falcão

5 min

3 de mai. de 2024

A qualidade da prática determina o calibre da performance, e neste caso clínico, temos Emerson Magalhães como protagonista, iniciando sua jornada em fevereiro de 2023 com o objetivo de se tornar o master brasileiro mais bem condicionado no Crossfit, onde os valores de referência vão além de números. Em fevereiro, Emerson praticava outros esportes como surfe e corrida, consumia álcool e seguia uma dieta de caráter mais flexível. Porém, em agosto do mesmo ano, sua abordagem mudou drasticamente: adotou suplementação e dietas específicas, priorizou o descanso, eliminou o consumo de álcool e fortaleceu sua saúde mental. Nesse segundo semestre, ele registrou 13,3% de gordura corporal, com uma Taxa Metabólica de Repouso (TMR) de 1847 Kcal e um Gasto Energético Total de 2800 Kcal. Seu regime de treinamento incluía volume moderado, intensidade alta, foco na resistência muscular localizada e treinamento específico para competições. Suplementação Para se preparar adequadamente para a competição almejada, Emerson adotou a suplementação de vitamina D, mantendo seus níveis próximos ou acima de 60 ng/ml. Essa estratégia visava  melhorar a recuperação muscular, aumentar a oxigenação sanguínea e os níveis de testosterona, além de promover a absorção de cálcio, modular a inflamação e aprimorar sua força e potência. Além disso, devido à diminuição dos níveis séricos de magnésio durante o exercício, o que pode resultar em fadiga, cãibras e queda de rendimento , foi implementada a suplementação com doses de 150 a 300 mg/dia  (podendo ser mais), visando melhorar o metabolismo energético e a disponibilidade de ATP, além de promover a contração e relaxamento muscular, melhorar a qualidade do sono, reduzir a inflamação e acelerar o processo de recuperação. A escolha do tipo de magnésio depende das necessidades individuais do paciente e deve ser avaliada de forma personalizada. A vitamina C  foi incorporada para acelerar o processo de recuperação, atuando como cofator de carnitina, exibindo efeito anti-catabólico e demonstrando potencial anti-inflamatório/antioxidante, com doses mínimas de 1000 mg/dia . Quanto à vitamina B12, as doses variam de 600 a 1500 mcg/dia , dependendo dos níveis atuais do indivíduo, e auxiliam no controle da inflamação da homocisteína, na formação e maturação de células sanguíneas, no transporte de oxigênio para os músculos e na melhoria da concentração e do humor. O ácido fólico pode ser crucial para a produção de glóbulos vermelhos, atuando como base para a serotonina e dopamina, e melhorando o sistema imunológico,  especialmente na fase final, quando a imunidade do atleta deve estar alta. Em relação ao ferro, essencial para a distribuição eficaz do oxigênio pelos músculos em contração , sua depleção é comum em atletas, especialmente do sexo feminino, devido a fatores como perda de hemólise, aumento da massa muscular, perda no suor e dieta hipocalórica. A suplementação pode ser feita preferencialmente pela manhã e em jejum, ou imediatamente após os treinos, com a forma mais comum sendo o sulfato ferroso, em doses de 100 mg/dia por 6 a 8 semanas.  A avaliação dos níveis de ferro pode ser feita por meio de hemograma completo e avaliação do estoque de ferro através da ferritina, além de considerar sintomas como cansaço e fadiga. Os polifenóis  podem ser úteis para reduzir a percepção da dor muscular tardia, acelerar a recuperação e diminuir os marcadores de catabolismo muscular. É importante observar que essa suplementação pode não ser adequada durante as fases de preparação específica , quando o volume de treino é mais elevado. Nas fases de pré-competição, após o pico de treinamento e adaptações, e no pós-competição, quando a recuperação é prioritária, são os momentos mais propícios para a suplementação. Marcadores Inflamatórios no Crossfit Como marcadores inflamatórios, podem ser analisados o PCR, cujo aumento indica problemas cardiovasculares, e a homocisteína, cujo aumento está associado à presença de radicais livres. No entanto, é importante considerar que o nível de treinamento físico pode influenciar esses marcadores, podendo aumentar ou diminuir, logo eles não devem ser analisados de forma isolada . É necessário ter uma atenção especial com pacientes que fazem uso de medicamentos que diminuam o HDL, como é o caso dos esteroides, pois isso também pode resultar em aumento da homocisteína. Ao analisar os exames hormonais, é esperado um aumento da testosterona total em atletas devido a fatores como treinamento, alimentação adequada, suplementação de ômega-3 (com maior concentração de EPA do que DHA) e ingestão adequada de carboidratos. Consequentemente, devido à redução da porcentagem de gordura e ao aumento da massa muscular, é esperada uma diminuição do estradiol. Por outro lado, o TSH pode apresentar um aumento leve e temporário devido ao aumento do volume e da intensidade do treinamento. Sono A má qualidade do sono é prevalente em praticantes de crossfit e impacta diretamente na concentração do hormônio do crescimento, na regulação do sistema nervoso central e nas funções cognitivas , resultando em processos catabólicos aumentados, má recuperação e redução da força. Um importante marcador para avaliar esse fator é o IGF1, sendo ideal mantê-lo em 300 ng/dl. A insulina é um marcador relevante a ser analisado pelo profissional de saúde, pois uma dieta rica em carboidratos pode aumentar seus níveis (tolerável até 8).  A baixa concentração de glicogênio, devido à baixa ingestão de carboidratos (CHO), interfere diretamente na homeostase energética, levando a uma maior sensação de fadiga e percepção de esforço.   No crossfit, sendo um treinamento concorrente, a recomendação de ingestão de carboidratos para esse público varia de 4 a 7 g/kg/dia, dependendo do tipo de atleta e da fase em que se encontra, visto que tanto o consumo excessivo quanto o insuficiente de CHO podem ter efeitos indesejados. Quanto à creatinina, seus valores podem aumentar de acordo com a fase de treino, e um aumento temporário pode ser explicado pelo uso de creatina. No entanto, é importante destacar que isso não é um diagnóstico de insuficiência renal. Prática Clínica Para a prática de Crossfit, os suplementos mais importantes são: Creatina : 3-5g/dia - aumento dos estoques de fosfocreatina Beta-alanina : 4,8-6g/dia durante 4-10 semanas - aumento dos estoques de carnosina Bicarbonato de sódio : 300mg/kg, 120-150min antes do exercício, divididos em 2 doses ingeridos com 7ml de água/kg - estimula a saída de íons de hidrogênio do músculo Cafeína:  3 a 6mg/kg/dia - 1 hora antes do exercício Além disso, a ingestão de proteína desempenha um papel significativo na performance dos atletas de Crossfit,  pois apoia o desenvolvimento muscular, auxilia na recuperação pós-treino e promove a saciedade durante a restrição calórica.   A recomendação ideal de proteína está entre 1,6 a 2,2 g/kg, distribuídos em 0,5 g/kg no pós-treino e 0,5 g/kg antes do sono, visando otimizar a recuperação muscular. Continue Estudando...

Sugestão de estudo: Nutrição para Atletas de Crossfit Sugestão de estudo: Nutrição Esportiva Aplicada ao CrossFit Sugestão de estudo: Dieta Mediterrânea para Atletas de Crossfit é uma Boa Opção? Referências Bibliográficas Referências: Gogojewicz, A., Śliwicka, E., & Durkalec-Michalski, K. (2020). Assessment of Dietary Intake and Nutritional Status in CrossFit-Trained Individuals: A Descriptive Study. International journal of environmental research and public health , 17 (13), 4772.