Alimentação Funcional e Desempenho Esportivo
Brunno Falcão
5 min
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8 de mar. de 2024
A alimentação funcional, que vai além da simples nutrição para proporcionar benefícios à saúde, tem ganhado destaque, especialmente no contexto esportivo. Este conceito, originado no Japão na década de 1980, enfoca alimentos que, além de nutrir, promovem efeitos metabólicos e fisiológicos benéficos à saúde. Para atletas, entender as especificidades dos nutrientes é essencial para otimizar o desempenho físico. Metabolismo Energético e Função De Carboidratos e Proteínas O gasto energético durante o exercício depende da ingestão adequada de energia, com sistemas como fosfagênica, glicolítica e oxidativa desempenhando papéis importantes. Os carboidratos são essenciais para atividades de alta intensidade. Aproximadamente 50%-60% da energia durante 1-4 horas de exercício contínuo a 70% da capacidade máxima de oxigênio é derivada de carboidratos e o restante da oxidação de ácidos graxos livres. As gorduras de cadeia longa derivadas de triglicerídeos musculares armazenados são o combustível preferido para exercícios aeróbicos para indivíduos envolvidos em atividades de intensidade leve a moderada. O equilíbrio energético é fundamental para o desempenho e a saúde a longo prazo. Embora as recomendações de macronutrientes tenham variado, proporções específicas podem não ser aplicáveis a todos os atletas. As necessidades de carboidratos e proteínas devem ser ajustadas de acordo com o tipo, intensidade e duração do exercício. Atletas de resistência e de força requerem quantidades diferentes de proteínas para a recuperação e o crescimento muscular. Gorduras As gorduras desempenham um papel vital na dieta, fornecendo energia e nutrientes essenciais. Recomenda-se uma ingestão moderada, com atenção à qualidade das fontes de gordura. Proporções específicas são importantes para manter a saúde metabólica e cardiovascular. Vitaminas Micronutrientes desempenham papéis cruciais na produção de energia, recuperação muscular e proteção contra danos oxidativos. Os atletas podem ter necessidades aumentadas de vitaminas e minerais devido ao estresse físico. A deficiência desses nutrientes pode comprometer o desempenho e a saúde. As vitaminas e minerais mais comumente considerados preocupantes nas dietas dos atletas são o cálcio, vitamina D, as vitaminas B, o ferro, o zinco, o magnésio, bem como alguns antioxidantes, como as vitaminas C e E, o β-caroteno e o selênio. Referente à vitamina B, algumas evidências sugerem que o exercício pode aumentar ligeiramente essa necessidade, até duas vezes a quantidade atualmente recomendada. Embora deficiências marginais de vitaminas B em curto prazo não tenham sido associadas a impactos no desempenho, deficiências graves de vitamina B12, folato ou ambas podem resultar em anemia e redução do desempenho de resistência. Portanto, é crucial que os atletas consumam quantidades adequadas desses micronutrientes para sustentar esforços visando um desempenho e saúde ótimos. As vitaminas do complexo B podem ser encontradas em: brócolis, peixes, ovos, carne bovina e suína, leite, aveia, cereais integrais, feijão, amêndoas, abacate, vegetais verdes, verduras e legumes. A vitamina D desempenha múltiplos papéis essenciais no corpo humano. Além de ser necessária para a absorção adequada de cálcio e regular os níveis séricos de cálcio e fósforo , ela também desempenha um papel fundamental na promoção da saúde óssea e na regulação do desenvolvimento e da homeostase do sistema nervoso e do músculo esquelético. Atletas, especialmente aqueles em latitudes setentrionais ou que treinam predominantemente em ambientes fechados, enfrentam o risco de baixos níveis de vitamina D, o que os torna candidatos à suplementação de acordo com as recomendações. Além disso, há uma crescente sugestão de que as recomendações dietéticas para vitamina D podem ser inadequadas, destacando ainda mais a importância de garantir uma ingestão adequada deste nutriente presente, por exemplo, no salmão, atum, ovos, leite fortificado, entre outros. No contexto dos antioxidantes, como as vitaminas C e E, β-caroteno e selênio, sua função é proteger as membranas celulares contra danos oxidativos , especialmente em atletas submetidos a exercícios intensos que aumentam o estresse oxidativo. Alimentos como kiwi, amêndoas, abóbora, sementes de girassol, respectivamente, apresentam cada nutriente descrito . Embora a suplementação específica com antioxidantes tenha eficácia incerta na redução da inflamação e dor muscular pós-exercício, é importante considerar a ingestão adequada desses nutrientes, especialmente em atletas com dietas com baixo teor de gordura ou energia restrita. Minerais Em relação aos minerais, como cálcio presente no queijo, ferro presente em folhas verdes e carne vermelha, entre outros, zinco também em nozes, semente de abóbora, frango, e magnésio na banana, abacate, etc., cada um desempenha funções vitais no organismo, incluindo saúde óssea, transporte de oxigênio, crescimento muscular e função neuromuscular. Atletas, especialmente mulheres e aqueles envolvidos em esportes de classe de peso, podem apresentar necessidades aumentadas desses minerais, destacando a importância de uma dieta equilibrada ou, se necessário, a suplementação sob orientação adequada. Atletas vegetarianos ou doadores regulares de sangue devem buscar uma ingestão de ferro superior à sua respectiva RDA (ou seja, >18 mg e >8 mg, para homens e mulheres, respectivamente). Além disso, a deficiência de ferro pode levar de 3 a 6 meses, sendo vantajoso iniciar a intervenção nutricional antes do desenvolvimento da anemia por deficiência de ferro. Por fim, os eletrólitos sódio, cloreto e potássio desempenham papéis críticos na hidratação e transmissão nervosa, particularmente em atletas sujeitos a altas perdas de suor durante o exercício , tornando importante a reposição adequada desses nutrientes por meio de bebidas esportivas durante atividades prolongadas de resistência. É importante para o aporte de sódio, cloreto e potássio ter em uma dieta balanceada alimentos como bananas, batata, espinafre, abacate, feijão, iogurte natural. Alimentação Funcional e Prática Esportiva Além de melhorar o desempenho esportivo, os alimentos funcionais podem prevenir doenças, como cardiovasculares e câncer. Componentes como ácidos graxos, presentes em alimentos como aveia, cevada, linhaça e milho, têm efeitos protetores contra doenças cardiovasculares. Os fenóis e polifenóis, encontrados em diversos alimentos como uva, cereja e chá verde, possuem ação antioxidante, anti-inflamatória e anticarcinogênica. Dentre eles, os ácidos fenólicos, as cumarinas e os flavonoides são destacados por seus benefícios à saúde. Os fitoesteróis, presentes em verduras, frutas e legumes, auxiliam na prevenção de doenças cardíacas e na redução dos níveis de colesterol LDL. O polissulfeto de alila, encontrado no alho e na cebola, ajuda no controle da hipertensão arterial e tem ação antioxidante. Entender as nuances da alimentação funcional e dos macronutrientes é essencial para atletas que buscam otimizar seu desempenho e saúde. A combinação adequada de nutrientes pode não apenas melhorar o desempenho esportivo, mas também prevenir doenças, proporcionando uma base sólida para uma vida ativa e saudável. Prática Clínica Na prática clínica nutricional, é essencial considerar estratégias para otimizar o desempenho esportivo e a saúde dos atletas, levando em conta os princípios da alimentação funcional e as necessidades específicas de cada indivíduo. Isso inclui garantir uma ingestão adequada de energia, carboidratos e proteínas de acordo com o tipo e intensidade do exercício. Além disso, é importante incluir gorduras saudáveis e alimentos ricos em vitaminas e minerais, como cálcio, vitamina D, ferro, zinco e magnésio. A suplementação de vitamina D e antioxidantes pode ser necessária em alguns casos. Manter a hidratação adequada e a reposição de eletrólitos é essencial durante atividades prolongadas. Promover o consumo de alimentos funcionais pode prevenir doenças cardiovasculares e promover a saúde geral. Um plano nutricional equilibrado e individualizado, combinado com o acompanhamento regular, é fundamental para alcançar resultados positivos. Continue Estudando… Sugestão de leitura: Alimentos Funcionais: Quais Aplicabilidades? Sugestão de leitura: Alimentos Funcionais: Os melhores amigos da microbiota? Sugestão de leitura: 12 temperos funcionais que você pode indicar ao paciente Referências Bibliográficas ASSOCIATION, American Dietetic. Nutrition and Athletic Performance . Medicine & Science In Sports & Exercise , [S.L.], v. 41, n. 3, p. 709-731, mar. 2009. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health). Vizzotto, Márcia, ACR KROLOW, and Fernanda Cardoso Teixeira. "Alimentos funcionais: conceitos básicos." (2010).