▷ SCIENCE PLAY ▷ SCIENCE PLAY

Transtornos Alimentares: A Interseção Entre Dietas Severas e Saúde Mental

Brunno Falcão

4 min

20 de ago. de 2024

Os transtornos alimentares têm se tornado uma preocupação crescente de saúde pública, especialmente entre adolescentes do sexo feminino. Essas condições, que incluem anorexia nervosa e bulimia nervosa, não apenas afetam a qualidade de vida, mas também estão associadas a altos índices de mortalidade e morbidade. A prevalência desses transtornos é alarmante. Estimativas indicam que até 8% das mulheres podem desenvolver síndromes bulímicas e cerca de 3% podem sofrer de síndromes anoréxicas ao longo de suas vidas. Dado o impacto significativo desses transtornos, é crucial entender os fatores que contribuem para seu desenvolvimento. Entre esses fatores, destacam-se dietas extremas e morbidade psiquiátrica. A Conexão Entre Dieta e Transtornos Alimentares A relação entre dieta e transtornos alimentares é um tema amplamente estudado. Um desses estudos, realizado com quase 2000 adolescentes australianas, demonstrou resultados alarmantes. Entre as meninas de 15 anos, 8% estavam seguindo dietas severas e 60% dietas moderadas. Aquelas que se engajaram em dietas severas apresentaram um risco alarmante de desenvolver um novo transtorno alimentar: 18 vezes maior dentro de 6 meses em comparação com as que não faziam dieta. Esse risco aumentou para quase 1 em 5 após 12 meses. Por outro lado, as adolescentes que seguiram dietas moderadas tinham cinco vezes mais chances de desenvolver um transtorno alimentar em comparação com aquelas que não faziam dieta, com uma probabilidade de 1 em 40 ao longo de um ano. Essas descobertas sublinham a gravidade dos riscos associados à prática de dietas rigorosas e moderadas, destacando a importância de intervenções precoces para prevenir o desenvolvimento desses transtornos. O Impacto da Morbidade Psiquiátrica A morbidade psiquiátrica é outro fator crucial que afeta o risco de desenvolvimento de transtornos alimentares. O estudo revelou que, após ajustar os dados para dietas anteriores, os sujeitos com alta morbidade psiquiátrica tinham mais de seis vezes mais chances de desenvolver um transtorno alimentar. No grupo de alta morbidade, 6% das meninas desenvolveram um transtorno dentro de 12 meses, em contraste com o grupo de baixa morbidade. Essa associação sugere que a morbidade psiquiátrica não apenas aumenta o risco de transtornos alimentares, mas também pode influenciar a gravidade e a progressão desses transtornos. Portanto, a presença de condições psiquiátricas, como depressão e ansiedade, pode exacerbar os comportamentos alimentares disfuncionais e tornar a recuperação mais desafiadora. Além disso, a predominância de transtornos alimentares em mulheres pode ser amplamente atribuída às taxas mais elevadas de dietas e morbidade psiquiátrica observadas entre elas.   O Papel do Exercício na Prevenção de TA Embora a participação em esportes, especialmente aqueles que exigem magreza, tenha sido anteriormente identificada como um fator de risco para transtornos alimentares, os dados do estudo não encontraram evidências de que a prática diária de esportes elevasse o risco acima dos níveis associados à dieta. Na verdade, o exercício diário não apresentou um risco maior em comparação com a dieta, sugerindo que a restrição alimentar associada a esportes específicos é a verdadeira causa da associação observada. Portanto, promover o exercício físico, em vez de restringir a ingestão alimentar, pode ser uma estratégia mais segura e eficaz para o controle de peso e a prevenção de transtornos alimentares na adolescência. Prática Clínica Compreender a interação entre alimentação, saúde mental e atividade física é essencial para estratégias eficazes de prevenção e tratamento de transtornos alimentares em jovens. Portanto, é vital adotar uma abordagem multifacetada. Os profissionais de saúde devem abordar a alimentação das pacientes com cuidado, evitando dietas restritivas. Em vez disso, é importante enfatizar uma alimentação equilibrada e saudável. Explicar que uma dieta variada e nutritiva é essencial para a saúde física e mental é fundamental. Além disso, é crucial encorajar hábitos alimentares regulares e evitar pular refeições para promover uma relação saudável com a comida. Além disso, dada a ligação entre morbidade psiquiátrica e transtornos alimentares, é essencial integrar avaliações regulares para condições como depressão e ansiedade no plano de tratamento. Colaborar com psicólogos e psiquiatras possibilita uma abordagem integrada que trata tanto os aspectos físicos quanto mentais dos transtornos alimentares. Promover a prática diária de exercícios físicos de forma adequada e balanceada é outra estratégia segura para o controle de peso. Explicar aos pacientes que o exercício é eficaz quando realizado corretamente é crucial. No entanto, é necessário monitorar para evitar que o exercício substitua a restrição alimentar e que não se desenvolvam comportamentos de exercício compulsivo. Por fim, é importante adotar uma abordagem holística que considere comportamentos alimentares e saúde mental para promover uma recuperação eficaz e sustentável. Encorajar atividades de bem-estar, como mindfulness (atenção plena) e técnicas de relaxamento, ajuda a melhorar a saúde mental e reduzir o estresse associado aos transtornos alimentares. Implementando essas orientações, médicos e nutricionistas podem prevenir e tratar transtornos alimentares de maneira mais eficaz, promovendo a saúde geral e o bem-estar dos jovens pacientes. Continue Estudando... Sugestão de Estudo: Transtornos Alimentares: O que você precisa saber para a prática clínica? Sugestão de Estudo: Etiologia dos Transtornos Alimentares Sugestão de Estudo: Integrando Nutrição e Espiritualidade: Abordagens para a Prática Clínica Referências Bibliográficas:  Patton, G. C., Selzer, R., Coffey, C., Carlin, J. B., & Wolfe, R. (1999). Onset of adolescent eating disorders: population based cohort study over 3 years.  BMJ (Clinical research ed.) ,  318 (7186), 765–768. https://doi.org/10.1136/bmj.318.7186.765