Desvendando os Mistérios da Doença Celíaca: o Crosstalk entre Glúten, Microbiota e Mucosa intestinal
Brunno Falcão
3 min
•
16 de abr. de 2024
A doença celíaca (DC) surge como um distúrbio autoimune complexo, onde o glúten atua como o principal gatilho ambiental em indivíduos geneticamente suscetíveis, levando à inflamação e dano no intestino delgado. A intrínseca relação entre predisposições genéticas, fatores dietéticos e a microbiota intestinal sublinha a patogênese da DC. Leia abaixo para compreender o papel da microbiota intestinal e sua interação com o glúten e o sistema imune da mucosa intestinal na DC, abrindo caminho para abordagens terapêuticas inovadoras além da dieta sem glúten (DSG) convencional. Não é só a Genética A predisposição para DC depende fortemente de fatores genéticos, particularmente da presença dos haplótipos HLA-DQ2 e HLA-DQ8. Contudo, esses marcadores genéticos sozinhos não explicam todo o risco, indicando um papel significativo dos fatores ambientais, incluindo a dieta e a microbiota intestinal, na manifestação da doença. Uma hipótese cada vez mais aceita é a de que a interação entre o glúten e a microbiota intestinal possa desencadear respostas imunes que levam à DC em indivíduos com susceptibilidades genéticas. Desse modo, desequilíbrios na microbiota intestinal (disbiose) têm sido implicados na patogênese da DC, sugerindo que fatores microbianos, ao lado do glúten dietético, desempenham um papel crucial em desencadear a resposta autoimune. Além disso, gatilhos ambientais, como infecções e o uso de antibióticos na primeira infância, podem levar a mudanças na microbiota intestinal, potencialmente aumentando o risco de desenvolvimento da DC. O Papel dos Probióticos e da Terapia com Glutenase na DC Os probióticos são capazes de restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal e têm implicações terapêuticas na DC. Em geral, as cepas probióticas são frequentemente valorizadas por sua capacidade de restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal, reduzir a inflamação e melhorar a barreira intestinal, todas características essenciais no manejo da DC. Além disso, probióticos, particularmente cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium, desempenham um papel crucial na restauração da microbiota intestinal e na redução da inflamação na doença celíaca (DC). Essas cepas, como Lactobacillus casei e Bifidobacterium lactis , não apenas melhoram a permeabilidade intestinal, mas também podem hidrolisar peptídeos de glúten, diminuindo sua capacidade de provocar respostas imunes. A terapia com glutenase, usando enzimas que degradam o glúten, também apresenta um caminho promissor no tratamento da DC, sugerindo um futuro em que intervenções podem ir além da dieta livre de glúten. Alimento como Remédio A dieta não apenas influencia a composição da microbiota intestinal, mas também afeta diretamente a expressão genética relacionada à resposta imune. Os alimentos funcionais, especialmente aqueles fermentados com bactérias benéficas que exibem atividade de glutenase, podem ser importantes no manejo da DC , com potencial para complementar a DSG, oferecendo benefícios adicionais na redução da imunogenicidade do glúten e na promoção da saúde intestinal. Ainda, a exploração de novas intervenções dietéticas e o desenvolvimento de alimentos funcionais projetados para apoiar a saúde intestinal e reduzir a imunogenicidade do glúten em pacientes com DC são identificados como áreas-chave para futuras pesquisas. Prática Clínica A compreensão da interação entre o glúten, a microbiota intestinal e a mucosa intestinal na doença celíaca (DC) está fornecendo insights valiosos que podem orientar práticas clínicas no consultório. Abaixo, destacam-se algumas dicas úteis e práticas derivadas das implicações clínicas: 1. Avaliação Individualizada: Cada paciente com DC apresenta um quadro único, influenciado por sua genética, microbiota intestinal e resposta ao glúten. Uma avaliação detalhada, incluindo histórico alimentar, sintomas gastrointestinais e análises microbiológicas, pode ajudar a personalizar o tratamento. 2. Dieta Livre de Glúten (DLG) Refinada: Embora a DSG permaneça como a pedra angular do tratamento da DC, há a necessidade de ajustá-la com base na resposta individual do paciente. Aconselhar os pacientes sobre como identificar e evitar fontes ocultas de glúten pode melhorar a adesão à dieta e os resultados clínicos. 3. Incorporação de Probióticos: Recomendar suplementos probióticos ou alimentos fermentados naturais ricos em cepas probióticas produtoras de glutenase pode ajudar a restaurar o equilíbrio da microbiota e potencialmente diminuir a inflamação intestinal. 4. Monitoramento e Acompanhamento: Um acompanhamento regular é crucial. Consultas regulares permitem a detecção precoce de complicações e a otimização do plano de tratamento. 5. Colaboração Multidisciplinar: A colaboração com nutricionistas, gastroenterologistas e outros especialistas pode oferecer um suporte abrangente ao paciente, integrando conhecimentos especializados para uma gestão holística da DC. 6. Pesquisa Contínua e Atualização Profissional: Manter-se atualizado com as pesquisas mais recentes em DC e microbiota intestinal pode enriquecer a prática clínica, permitindo a incorporação de novas descobertas e abordagens terapêuticas em benefício dos pacientes. Aplicar essas dicas na prática clínica pode aprimorar o cuidado e suporte oferecidos aos pacientes, promovendo melhores resultados de saúde e qualidade de vida. Continue Estudando… Sugestão de leitura: O que é glúten? Sugestão de leitura: Glúten e intestino: alguma relação? Sugestão de leitura: Sensibilidade ao glúten não celíaca: desvendando esse quadro clínico! Referências Bibliográficas CHANDER, Atul Munish; YADAV, Hariom; JAIN, Shalini; BHADADA, Sanjay Kumar; DHAWAN, Devinder Kumar. Cross-Talk Between Gluten, Intestinal Microbiota and Intestinal Mucosa in Celiac Disease: recent advances and basis of autoimmunity. Frontiers In Microbiology , [S.L.], v. 9, p. 1, 1 nov. 2018. Frontiers Media SA.