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Gastroparesia: Estômago Paralítico e Ozempic - Qual a Relação?

Brunno Falcão

5 min

6 de out. de 2023

Estômago paralisado após o uso da Semaglutida tornou-se uma queixa recorrente em alguns consultórios. Recentemente, uma reportagem na CNN, em 25 de Julho de 2023, da entrevistada Joanie Knight, deixou uma mensagem para qualquer pessoa que considere usar drogas para perder peso como Ozempic ou Wegovy, que se tornaram populares nas redes sociais com a promessa de ser a galinha dos ovos de ouro para resolver todos os problemas do sobrepeso e da obesidade.  Na sua fala, ela destaca: “Eu gostaria de nunca ter tocado nisso. Eu gostaria de nunca ter ouvido falar disso na minha vida. Esse remédio infernizou minha vida. Tanto inferno. Custou-me dinheiro. Isso me custou muito estresse; custou-me dias e noites e viagens com minha família. Custou-me muito e não vale a pena. O preço é muito alto.” Então, fica a pergunta: onde está o problema? Será que ela realmente se enquadra no fenótipo de paciente que se dá bem com esse tipo de medicação? Infelizmente, vivemos em uma época que algum recurso científico revisado por pares, publicado, republicado, metanálises, ou metanálises em guarda-chuva sejam o suficiente quando comparado a força da fala de uma digital influencer nas redes sociais. E nesse ponto, nós, médicos e prescritores, temos grande parte de culpa, pois além de não estudar o assunto, concordamos com o paciente que veio até nossa mesa com toda conduta pronta a espera do carimbo para ratificar o que ele quer pois se deu certo para amiga ou famoso também dará certo para ele. Afinal, é o remédio da moda.  Table of Contents Toggle Gastroparesia após o uso de análogos de GLP-1, como chegamos até aqui? O uso desenfreado do Ozempic provoca sinais de alerta no mundo todo Referência Bibliográfica Gastroparesia após o uso de análogos de GLP-1, como chegamos até aqui? A gastroparesia é caracterizada pelo atraso no esvaziamento gástrico na ausência de obstrução mecânica ou anatômica. Ela pode mostrar-se como uma complicação associada ao diabetes descontrolado, principalmente ao diabetes mellitus tipo 1, mas também encontrada no diabetes mellitus tipo 2. A gastroparesia é uma forma de neuropatia autonômica, mais comumente vista em pessoas que tiveram diabetes por mais de  10 anos anos e que já desenvolveram outras complicações microvasculares da doença. De modo, uma vez que os sintomas da gastroparesia começam, geralmente persistem e são estáveis por 12 a 25 anos.  Em seguida, isso é verdade mesmo quando os níveis de glicose no sangue foram controlados. Os sintomas mais comuns são precoces saciedade, náuseas, inchaço, dor abdominal e vômitos. Em termos de prognóstico, os estudos não encontraram associação entre atraso do esvaziamento gástrico e aumento da mortalidade em um período de 25 anos. Embora não haja evidências até o momento de que a gastroparesia diabética aumente a mortalidade, essa complicação prejudica substancialmente todos os aspectos da vida. Por outro lado, sabe-se que os análogos do GLP-1 foram desenvolvidos para complicações do diabetes e que concomitantemente os estudos mostraram redução de peso nos usuários. De certa forma, novas medicações com a mesma fisiologia foram desenvolvidas com ajuste de dose e posologia, ou até mesmo com associação de dois ou três peptídeos intestinais ligados à saciedade.  Entretanto, quando comparamos as medicações para tratamento do sobrepeso e obesidade vemos que as canetinhas emagrecedoras não combinam com qualquer tipo de paciente, e, sendo mais específico, elas não combinam com todos tipos de fome. Certamente, pacientes não sabem que têm gastroparesia diabética por estarem constantemente em cenários de resistência insulínica até que sejam expostas a um agonista do receptor peptídeo – 1 semelhante ao glucagon (GLP-1), como a liraglutida, a dulaglutida, a semaglutida, a lixisenatida ou a exenatida para controlar glicose sanguínea e o tempo de esvaziamento gástrico.  Obviamente, esta classe de drogas pode exacerbar os sintomas de gastroparesia diabética. Esses medicamentos funcionam imitando o hormônio incretínico humano GLP-1, que reduz o esvaziamento gástrico, o apetite e a ingestão de alimentos, além de  aumentar a secreção de insulina dependente de glicose. Por isso, a terapia com Ozempic, um agonista do receptor GLP-1, não é recomendada para pessoas que apresentam sintomas de gastroparesia relatados na sua consulta.  O uso desenfreado do Ozempic provoca sinais de alerta no mundo todo Recentemente, a The American Society of Anesthesiologists (ASA) publicou uma nova recomendação em 29 de Junho de 2023 que expressou preocupação sobre o potencial efeito colateral da gastroparesia causando problemas durante as cirurgias. O alerta foi que os pacientes deveriam parar de tomar agonistas de GLP-1 uma semana antes da cirurgia devido ao risco de regurgitar alimentos durante uma operação, o que pode fazer com que alimentos e ácido estomacal entrem nos pulmões. “À medida que mais pacientes tomam agonistas de GLP-1 por conta própria e sem muita informação sobre o potencial efeito colateral de gastroparesia, eles podem não saber que precisam informar seus médicos sobre o uso da medicação” disse o presidente da ASA. Afinal, as pessoas têm resistência em divulgar que estão usando algum remédio para emagrecer.  Alguns efeitos colaterais comuns da semaglutida incluem náusea, dor de estômago, constipação, diarréia e vômito. No entanto, outros efeitos colaterais, incluindo alguns que resultaram em hospitalizações, também foram relatados. Por isso, a Foods and Drugs Administration (FDA), recebeu notificações de casos de gastroparesia envolvendo a semaglutida e a liraglutida, algumas das quais documentaram o evento adverso como não recuperado após a descontinuação do respectivo do medicamento.  Os relatórios foram enviados por meio do sistema de rastreamento de eventos adversos acessível ao público da FDA, e a agência disse que não conseguiu determinar se os medicamentos causaram a gastroparesia ou se a condição foi causada por um problema separado. Por outro lado, segundo a FDA, a gastroparesia pode ser uma complicação do diabetes relacionada a uma doença de longa data ou mal controlada, complicando ainda mais a capacidade de determinar o papel que as drogas desempenham nos eventos relatados.  Em conclusão, abordar o uso responsável de medicamentos e a prescrição criteriosa por profissionais médicos é de extrema importância para garantir a segurança e eficácia dos tratamentos. O crescente interesse em análogos de GLP-1, como o Ozempic, exige uma compreensão aprofundada de suas indicações específicas e efeitos em pacientes. É crucial destacar que o Ozempic não é uma solução universal para todos, mas sim destinado a um grupo específico de pacientes que podem se beneficiar de seus efeitos terapêuticos.  Nesse contexto, é imprescindível que informações embasadas em evidências científicas prevaleçam sobre os achismos propagados nas mídias sociais, permitindo que o público tome decisões informadas e seguras sobre sua saúde. O conhecimento embasado e a orientação de profissionais de saúde qualificados são pilares fundamentais para uma abordagem responsável e bem-sucedida em relação ao uso de medicamentos, visando o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes. Referência Bibliográfica Leitura sugerida:  Por que a sua prescrição com análogo de GLP-1 deu errado? YOUNG, Clipper F.; MOUSSA, Marianne; SHUBROOK, Jay H.. Diabetic Gastroparesis: a review . Diabetes Spectrum, [S.L.], v. 33, n. 3, p. 290-297, 1 ago. 2020. American Diabetes Association. Classifique esse post #ozempic