Avaliação Genética, Microbioma e Indicadores de Progresso na Longevidade
Brunno Falcão
5 min
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13 de jul. de 2024
O conceito de lifespan mais longo sem melhoria no healthspan é cada vez mais visto como uma maldição em vez de uma bênção. Anteriormente, a medicina focava principalmente no tratamento de doenças, mas hoje em dia, o enfoque está mais na prevenção. É crucial considerar como cada indivíduo deseja envelhecer, colocando maior importância no healthspan (os anos vividos com saúde) do que simplesmente na longevidade . Assim, estamos testemunhando uma verdadeira revolução da longevidade , onde se questiona se o healthspan é uma questão de sorte ou de construção ativa. Diversos fatores influenciam a longevidade, incluindo genética, microbiota intestinal, condutas diárias, ambiente e hábitos de vida , todos desempenhando papéis significativos nesse processo. Dieta, Microbiota e Epigenética A microbiota sofre alterações significativas com o avanço da idade , perdendo diversidade e afetando diretamente a saúde cognitiva devido à morte neuronal . Essa diminuição na diversidade está ligada a mudanças fisiológicas como redução da acidez estomacal, dentição, paladar, secreção de enzimas e movimentos peristálticos. Esses fatores impactam a composição da microbiota, sendo que os centenários, por exemplo, apresentam um perfil microbiano associado a menos inflamação, enquanto a disbiose em idosos aumenta o risco de doenças . Estudos mostraram que a composição da microbiota está diretamente ligada à produção de metabólitos derivados de aminoácidos, com a diminuição de Bacteroidetes associada a uma redução na sobrevida de até 4 anos. Portanto, para a prática clínica, é crucial considerar a idade ao avaliar a microbiota . Pacientes com mais de 50 anos devem ter cuidado redobrado com a diversidade microbiana, a ingestão de fibras e a capacidade digestiva , aspectos essenciais para promover um envelhecimento saudável. Transplante Fecal e Healthspan O transplante fecal pode ser uma futura ferramenta para o Healthspan , visto que um estudo revelou resultados intrigantes ao transplantar a microbiota de camundongos jovens (3 a 4 meses) para camundongos idosos (20 meses). Essa intervenção provocou mudanças significativas no comportamento dos camundongos mais velhos, sugerindo que a composição microbiana pode influenciar diretamente aspectos comportamentais . Além disso, foram observadas alterações tanto no metaboloma quanto no transcriptoma dos camundongos idosos transplantados, indicando impactos nos processos metabólicos e na expressão gênica associada ao envelhecimento . Ou seja, o transplante de microbiota fecal de camundongos jovens para idosos demonstrou retardar deficiências cognitivas, restaurar substâncias químicas envolvidas na memória e aprendizagem, e reduzir a inflamação associada ao envelhecimento , um fenômeno conhecido como inflammaging . Assim, esses efeitos refletem a capacidade da microbiota intestinal em modular diversos aspectos do Healthspan em idosos, abrangendo desde mecanismos biológicos que regulam respostas imunológicas até influências no eixo intestino-cérebro. Além disso, a microbiota desempenha um papel na regulação genética e epigenética do envelhecimento, influenciando diretamente processos como estresse oxidativo, senescência celular e nutrição , sendo esta última fundamental na conexão entre microbiota intestinal e genoma do hospedeiro para prolongar a expectativa de vida, como observado na restrição calórica. Indicadores de Progresso Para uma abordagem abrangente do envelhecimento , é essencial considerar os “ Hallmarks of Aging ”, que incluem dano ao DNA, senescência celular, alterações epigenéticas, perda de proteostase, desregulação do metabolismo, dano mitocondrial, esgotamento do reparo celular, disfunção das células-tronco, alterações na comunicação intercelular e instabilidade telomérica. Estes podem ser avaliados através de testes específicos. Em relação aos marcadores genéticos , são importantes serem analisados: APOE2 - maior longevidade, FOXO3 (rs2802292) GG - maior longevidade, marcadores mitocondriais (PGI alfa, PPARG), marcadores de inflamação (IL6, FADs) e marcadores de metilação (MTHFR, FUT2, MTRR). Já para análise de microbiota , deve-se analisar a baixa diversidade dos filos de bactérias, presença de bactérias pró-inflamatórias, a diminuição de bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) e a diminuição da Akkermansia muciniphila. Já a inflamação pode ser detectada através de marcadores como proteína C reativa, ferritina elevada, contagem elevada de glóbulos brancos, presença de anticorpos/autoimunidade, aumento de lipídios como Triglicerídeos, LDL, VLDL e Lpa, níveis elevados de glicemia e Homocisteína. Após a análise, estratégias de manejo incluem aumentar a ingestão de fibras na dieta, consumir polifenóis, utilizar ativos anti-inflamatórios, probióticos e enzimas digestivas . Além disso, ajustes na saúde mental e emocional, melhoria na dieta, sono adequado, prática regular de atividade física - conhecida por aumentar o comprimento dos telômeros - e aumento da massa muscular são fundamentais para promover um envelhecimento saudável. Quais estratégias podem ser realizadas? Para promover a saúde através da microbiota intestinal , é recomendado o uso de probióticos, polifenóis, chás, shots, fibras e posbióticos, especialmente o Butirato, associado à dieta mediterrânea. No contexto da biogênese mitocondrial , substâncias como Urolitina A, Coenzima Q10, PQQ, NAC, NAD+, Complexo B e Jejum Intermitente são indicadas. Para combater a inflamação, a cúrcuma, gengibre, butirato e unha de gato são relevantes. Em relação à epigenética , metilfolato, metilcobalamina, complexo B e Butirato também podem ser empregados. A Tributirina, uma forma de Butirato, é recomendada na dose de 300 a 500 mg por dia para todos esses propósitos. Entretanto, melhor que suplementar, é fazer com que a microbiota produza de forma natural. Além disso, a dieta mediterrânea é amplamente reconhecida por seus benefícios na redução da inflamação. Outro aspecto importante é o “ Lovebug Effect” , que explora a relação entre os seres humanos e a natureza . Estudos sugerem que a diversidade da microbiota intestinal pode ser afetada pela proximidade ou distância do ambiente natural, pois a microbiota do ambiente pode influenciar diretamente na composição da microbiota intestinal de um indivíduo. Por fim, metas de longo prazo só são alcançáveis com comprometimento e consistência dia após dia, visto que as nossas emoções produzem energia e mudam nosso campo vibracional. Além disso, uma boa estratégia para prevenir o envelhecimento imunológico é preservar a riqueza do microbioma e a integridade da barreira intestinal . Isso pode ser alcançado através de uma dieta rica e diversificada em alimentos orgânicos à base de plantas, que fornecem fibras e polifenóis essenciais. Além disso, o estilo de vida e a alimentação têm um impacto significativo nos nossos genes, através de mecanismos epigenéticos, oferecendo assim mais ferramentas para gerenciar nossa saúde de forma proativa. Prática Clínica Para promover um envelhecimento saudável e prolongar o healthspan, é crucial adotar estratégias integradas que considerem a influência da microbiota intestinal, dieta, epigenética e estilo de vida. Recomenda-se priorizar uma dieta rica em fibras, como a dieta mediterrânea, que promove a diversidade microbiana e reduz a inflamação. O uso de probióticos e prebióticos também pode ser benéfico para manter um microbioma saudável, enquanto compostos como o Butirato e polifenóis ajudam a apoiar a biogênese mitocondrial e reduzir a inflamação. Além disso, práticas como o jejum intermitente e a atividade física regular são fundamentais para fortalecer a saúde celular e metabólica. Ao implementar essas estratégias de forma consistente, podemos potencializar nosso bem-estar ao longo do tempo e otimizar a qualidade de vida na fase de envelhecimento. Continue estudando... Sugestão de leitura: A Influência Genética na Resposta à Dislipidemia Sugestão de leitura: Terapias Genéticas para Distúrbios Endócrinos Hereditários Sugestão de leitura: Nutrição Personalizada com base em Análises Genéticas Referências Bibliográficas RATINER, Karina; ABDEEN, Suhaib K.; GOLDENBERG, Kim; ELINAV, Eran. Utilization of Host and Microbiome Features in Determination of Biological Aging . 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