Hormônios e Fertilidade: Perspectivas Atuais
Brunno Falcão
5 min
•
28 de mar. de 2024
A relação entre hormônios e fertilidade está se tornando um tema cada vez mais importante no campo da saúde e bem-estar. Dessa forma, a importância dos hormônios para a saúde reprodutiva está cada vez mais evidente à medida que avançamos no entendimento das complexas funções do corpo humano. Leia abaixo quais as principais descobertas sobre hormônios e fertilidade, examinando como a medicina pode ajudar nesse equilíbrio delicado e vital para a concepção e a saúde reprodutiva. Contextualização da Fertilidade A reserva ovariana, um termo que se refere à quantidade e à qualidade do conjunto de folículos ovarianos, diminui a partir dos vinte e poucos anos, diminuindo a fertilidade feminina. Como resultado, muitas mulheres enfrentarão problemas de fertilidade imprevistos. Como resultado, há uma demanda crescente para a criação de biomarcadores sensíveis da reserva ovariana para fornecer aconselhamento e tratamento adequados para mulheres inférteis. O que é o Hormônio Anti-Mülleriano? O hormônio anti-Mülleriano (AMH) é um marcador emergente que tem se destacado na avaliação da reserva ovariana. Presente em ambos os sexos, o AMH desempenha um papel crucial no desenvolvimento reprodutivo, agindo para regredir os ductos de Müller na fase embrionária e sendo secretado ao longo da vida reprodutiva das mulheres. Nos homens, é expresso pelas células de Sertoli durante a gestação e puberdade. Em contraste, nas mulheres, os níveis plasmáticos de AMH aumentam na puberdade, atingem o pico e diminuem gradualmente até a menopausa, tornando-se indetectáveis nesse estágio. Além de ser um indicador da reserva ovariana, o AMH tem implicações diagnósticas e terapêuticas significativas em diversas condições relacionadas aos ovários, como a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), tumores de células da granulosa e envelhecimento ovariano precoce. Sua capacidade de prever a resposta ovariana à estimulação para fertilização o torna uma ferramenta valiosa na avaliação da saúde reprodutiva feminina e no planejamento de intervenções terapêuticas. Hormônio anti-Mulleriano e Fisiologia Ovariana Os folículos ovarianos desempenham um papel fundamental na saúde reprodutiva feminina, representando suas unidades funcionais básicas. A formação dos folículos primordiais ocorre durante a gestação e logo após o nascimento, estabelecendo um reservatório inicial que é continuamente recrutado ao longo da vida reprodutiva da mulher. Esse recrutamento inicial, não controlado pelo eixo endócrino hipófise-gonadal, é seguido pelo resgate dos folículos em crescimento pelo hormônio folículo-estimulante (FSH), que ocorre após a puberdade, marcando o início do recrutamento cíclico. Apenas um folículo é selecionado para se tornar o dominante, pronto para ovular sob a influência do hormônio luteinizante. O hormônio anti-Mulleriano (AMH) desempenha um papel crucial nesse processo, aumentando sua expressão à medida que os folículos atingem estágios pré-antrais e antrais. Ele atinge seu pico de expressão em folículos pré-antrais e pequenos folículos antrais, inibindo o recrutamento cíclico de folículos e controlando sua sensibilidade ao FSH. Isso resulta na regulação do número de folículos que continuam a crescer até o estágio pré-ovulatório, evitando assim a depleção precoce do conjunto de folículos e mantendo a reserva ovariana adequada ao longo do tempo. Hormônio Como Marcador de Reserva Ovariana O conceito de reserva ovariana e envelhecimento ovariano são cruciais na avaliação da saúde reprodutiva feminina, refletindo a quantidade e qualidade dos oócitos nos ovários e o declínio associado à idade. Embora o número de folículos primordiais em repouso seja difícil de medir diretamente, estudos sugerem uma correlação entre este e o tamanho do conjunto de folículos em crescimento, refletido pelos níveis plasmáticos do hormônio anti-Mulleriano (AMH). Além do AMH, os testes atuais de reserva ovariana incluem marcadores hormonais como FSH, estradiol e inibina B, juntamente com marcadores ultrassonográficos como a contagem de folículos antrais e a medição do volume ovariano, todos indicando indiretamente a quantidade de folículos em crescimento. Os níveis de AMH parecem ser particularmente promissores na avaliação do envelhecimento ovariano, mostrando pouca flutuação intraciclo e sendo menos afetados por variáveis clínicas e comportamentais. Estudos longitudinais sugerem que o AMH pode ser um marcador endócrino eficaz na previsão do início da menopausa e pode ser utilizado como um indicador confiável da reserva ovariana ao longo do tempo. Embora o valor preditivo exato do AMH ainda precise ser completamente elucidado, sua utilidade emergente destaca seu potencial como uma ferramenta valiosa na avaliação da saúde reprodutiva feminina e no planejamento de intervenções clínicas. Hormônio Anti-Mulleriano e Fertilização A avaliação da reserva ovariana é crucial antes do início do tratamento de fertilização, pois a resposta ao tratamento pode variar amplamente devido à variação na reserva ovariana entre as mulheres. Identificar respondedores baixos e altos antes da hiperestimulação ovariana permite a otimização dos protocolos de estimulação, reduzindo o risco de cancelamento do ciclo e complicações graves como a síndrome de hiperestimulação ovariana (OHSS). O hormônio anti-Mulleriano (AMH) tem sido considerado um preditor eficaz de resposta fraca em alguns estudos, embora valores de corte variáveis reflitam diferenças nos métodos e populações estudadas. Entretanto, a utilização do AMH como único critério para suspender o tratamento de FIV é questionável, pois valores baixos podem não necessariamente indicar uma resposta fraca. A previsão de nascidos vivos após FIV baseada no AMH também é limitada, pois diversos fatores, como idade e mecanismos subjacentes à depleção da reserva ovariana, influenciam o prognóstico da gravidez. Apesar disso, o AMH pode ser útil na previsão de OHSS subsequente à estimulação ovariana, fornecendo informações valiosas para prevenir complicações graves. Portanto, embora o AMH forneça insights importantes, é necessário considerar outros fatores clínicos e biológicos na avaliação da resposta ao tratamento de FIV e na prevenção de complicações. Prática Clínica O hormônio anti-Mulleriano (AMH) emergiu como um marcador promissor da reserva ovariana, refletindo o tamanho do pool folicular em repouso de forma mais estável do que outros marcadores endócrinos, como o FSH. Sua estabilidade ao longo do ciclo menstrual e independência do operador o tornam atrativo na previsão da resposta ovariana ao tratamento de fertilização, especialmente quando combinado com a idade. Embora o AMH mostre potencial na previsão do declínio da reserva ovariana relacionado à idade em mulheres saudáveis, dados prospectivos ainda são escassos, e seu uso clínico fora do contexto da fetilização carece de apoio substancial. No entanto, espera-se que a medida do AMH se torne mais comum entre mulheres que buscam entender sua expectativa de vida reprodutiva, especialmente com a tendência de adiar a gravidez. Além disso, o AMH também pode desempenhar um papel no diagnóstico e tratamento de patologias ovarianas, como a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), onde está frequentemente elevado. Propostas podem ser feitas para sua utilização como critério diagnóstico alternativo para a SOP em situações onde dados ultrassonográficos precisos não estão disponíveis. Além disso, o potencial do AMH como biomarcador de tumores de células da granulosa destaca sua importância em futuras pesquisas médicas. Continue Estudando… Sugestão de leitura: Estratégias para promover a longevidade saudável em pacientes Sugestão de leitura: https://www.scienceplay.com/post/entenda-a-endocrinologia-do-estresse-e-depressão Sugestão de leitura: Médico, você sabia que existe a Síndrome dos Ovários Policísticos na ausência de Ovários Policístico Referências Bibliográficas GRYNNERUP, Anna Garcia–Alix; LINDHARD, Anette; SØRENSEN, Steen. The role of anti‐Müllerian hormone in female fertility and infertility – an overview. Acta Obstetricia Et Gynecologica Scandinavica , [S.L.], v. 91, n. 11, p. 1252-1260, nov. 2012. Wiley.