Impacto da Menopausa na Saúde Cardiovascular
Brunno Falcão
4 min
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18 de jun. de 2024
Atualmente, discute-se a relação entre alterações hormonais ao longo do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, durante a menopausa, e as mudanças adversas na saúde cardiometabólica. Apesar dos níveis de testosterona permanecerem constantes, a rápida queda do estradiol cria um perfil hormonal mais androgênico , o que contribui para o aumento do risco de síndrome metabólica . Além do mais, o declínio de estradiol e o aumento do hormônio folículo-estimulante (FSH) estão associados a mudanças na composição e distribuição da gordura corporal . Assim, essas alterações se relacionam com a secreção de adipocinas pró inflamatórias , as quais podem aumentar os riscos de resistência insulina e hipertensão. Síndrome Metabólica A menopausa aumenta o risco de síndrome metabólica devido a mudanças hormonais significativas, especialmente a redução nos níveis de estrogênio . O estrogênio tem um papel protetor no metabolismo do corpo, regulando a distribuição de gordura, a sensibilidade à insulina e os níveis de colesterol . Com a diminuição do estrogênio durante a menopausa, as mulheres tendem a acumular mais gordura abdominal, o que está diretamente associado ao aumento do risco de resistência à insulina, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Além disso, a redução de estrogênio afeta negativamente o perfil lipídico , levando a níveis mais elevados de colesterol LDL e triglicerídeos, e níveis mais baixos de colesterol HDL, fatores que contribuem para o desenvolvimento da síndrome metabólica. Além das alterações hormonais, a menopausa está associada a mudanças no estilo de vida que podem aumentar o risco de síndrome metabólica. Muitas mulheres experimentam uma diminuição na atividade física e mudanças nos hábitos alimentares durante essa fase, o que pode levar ao ganho de peso e ao aumento da circunferência da cintura. Essas mudanças comportamentais, juntamente com a predisposição genética e outros fatores de risco como hipertensão e predisposição a níveis elevados de glicose no sangue, aumentam ainda mais a probabilidade de desenvolver a síndrome metabólica. Portanto, a menopausa representa um período crítico em que a intervenção e o monitoramento de fatores de risco metabólicos se tornam essenciais para prevenir complicações de saúde a longo prazo. Saúde Cardiovascular vs . Menopausa A menopausa afeta a pressão sanguínea principalmente devido às mudanças hormonais, novamente através da diminuição dos níveis de estrogênio. O estrogênio ajuda a manter a elasticidade dos vasos sanguíneos e promove a produção de óxido nítrico , uma substância que relaxa e dilata as artérias, facilitando o fluxo sanguíneo. Com a queda dos níveis de estrogênio durante a menopausa, os vasos sanguíneos tornam-se menos flexíveis e mais propensos ao endurecimento, um processo conhecido como aterosclerose . Essa perda de elasticidade nos vasos pode resultar em um aumento da resistência ao fluxo sanguíneo, elevando a pressão arterial. Além das alterações hormonais, a menopausa está associada a um aumento na prevalência de obesidade abdominal e resistência à insulina, ambos fatores que contribuem para a hipertensão . O ganho de peso, especialmente o aumento da gordura visceral, é comum durante a menopausa e está fortemente ligado ao aumento da pressão arterial. A gordura abdominal produz substâncias inflamatórias e hormônios que podem afetar negativamente a função vascular e aumentar a resistência vascular periférica . A resistência à insulina, frequentemente observada em mulheres menopausadas, também está associada ao aumento da pressão arterial, pois pode levar à retenção de sódio e água pelos rins, aumentando o volume sanguíneo e, consequentemente, a pressão arterial. Mudanças no estilo de vida e fatores psicossociais durante a menopausa também desempenham um papel importante no aumento da pressão arterial . O estresse, comum nessa fase da vida devido a várias mudanças físicas e emocionais, pode ativar o sistema nervoso simpático, resultando em vasoconstrição e aumento da pressão arterial. Além disso, a diminuição da atividade física, mudanças na dieta e o aumento do consumo de álcool e cafeína podem contribuir para o desenvolvimento da hipertensão. Portanto, a menopausa representa um período crítico em que o monitoramento da pressão arterial e a adoção de um estilo de vida saudável são fundamentais para reduzir os riscos de doenças cardiovasculares. Triglicerídeos e HDL A menopausa interfere nos níveis de triglicerídeos e HDL principalmente através da redução dos níveis de estrogênio, um hormônio que desempenha um papel crucial na regulação do metabolismo lipídico. O estrogênio ajuda a manter os níveis de HDL elevados e os níveis de triglicerídeos baixos. Durante a menopausa, a diminuição do estrogênio resulta em um metabolismo lipídico menos eficiente , levando a alterações desfavoráveis nos níveis de lipídios no sangue. Especificamente, os níveis de triglicerídeos tendem a aumentar, o que está associado a um maior risco de doenças cardiovasculares. Triglicerídeos elevados podem contribuir para o desenvolvimento de aterosclerose , onde as artérias ficam obstruídas por placas de gordura, aumentando o risco de ataques cardíacos e derrames. Além disso, a queda nos níveis de estrogênio durante a menopausa também resulta em uma redução nos níveis de HDL. O HDL é conhecido por sua capacidade de remover o excesso de colesterol das artérias e transportá-lo de volta ao fígado para excreção, o que ajuda a proteger contra a formação de placas ateroscleróticas. Com a diminuição do HDL, esse processo de remoção do colesterol é menos eficiente , contribuindo ainda mais para o risco cardiovascular. A redução do HDL durante a menopausa é agravada por outros fatores, como o aumento de peso e a redistribuição de gordura corporal para a região abdominal, o que é comum durante esta fase da vida. Essa redistribuição de gordura pode não apenas aumentar os níveis de triglicerídeos, mas também diminuir os níveis de HDL, criando um perfil lipídico que favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares . Prática clínica O médico pode atuar de forma integral no manejo da saúde cardiometabólica de mulheres na menopausa, monitorando e intervindo nas alterações hormonais que ocorrem ao longo do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Para isso, o médico pode implementar estratégias preventivas e terapêuticas, como a realização de exames regulares para avaliar os níveis de colesterol, glicose e pressão arterial, além de oferecer orientações sobre mudanças no estilo de vida, como dieta equilibrada e prática de exercícios físicos. Continue Estudando… Sugestão de estudo : Osteoporose na pós menopausa: um cenário para hormônios? Sugestão de estudo : Fogachos na menopausa aumentam o risco de doenças neurodegenerativas Sugestão de estudo : Ômega 3 na Menopausa: Uma boa estratégia? Referências Bibliográficas CHIKWATI, Raylton P.; CHIKOWORE, Tinashe; MAHYOODEEN, Nasrin Goolam; JAFF, Nicole G.; GEORGE, Jaya A.; CROWTHER, Nigel J.. The association of menopause with cardiometabolic disease risk factors in low- and middle-income countries: a systematic review and meta-analyses. Menopause , [S.L.], v. 31, n. 1, p. 77-85, 18 dez. 2023. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health).