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Impacto dos Adoçantes no Controle de Peso

Brunno Falcão

6 min

7 de abr. de 2023

A dieta é um fator que afeta intrinsecamente a saúde. Sendo que acompanhado da globalização e do crescimento econômico, a mudança significativa no padrão alimentar vem ocorrendo desde a década de 70. Destaca-se que o consumo de alimentos ricos em gordura animal e energia aumentou, ao mesmo tempo em que a ingestão de fibras diminui, levando a um aumento de doenças não transmissíveis como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e câncer. Assim, devido às tendências crescentes de sobrepeso e obesidade, há um forte foco no consumo de alimentos menos calóricos, como os adoçantes artificiais. Existem diversas estratégias para atingir uma perda de peso bem-sucedida, como aprimorar hábitos alimentares e equilibrar o consumo de energia. No entanto, manter o peso corporal após perder peso é ainda mais difícil. O açúcar presente na dieta é um fator que contribui para a densidade energética total e pode promover a obesidade. Bebidas açucaradas, em particular, têm sido associadas a complicações cardiometabólicas devido ao aumento do consumo de energia e obesidade.  Assim, uma possível abordagem para melhorar o equilíbrio energético é evitar açúcares e substituí-los por adoçantes artificiais. Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomende uma ingestão de açúcar livre inferior a 10% do consumo total de energia, de preferência inferior a 5%, uma grande proporção da população parece ultrapassar esses limites, especialmente crianças. Com isso, estudos mostram resultados promissores relacionados  a redução da ingestão de açúcar e energia em detrimento da substituição dos açúcares pelos adoçantes artificiais. Destaca-se que metanálises de ensaios controlados randomizados mostraram que a ingestão diária de energia (após 4 ou 10 semanas) e a ingestão de açúcar (após 4 semanas) foram menores em indivíduos saudáveis, com sobrepeso e obesos que receberam adoçantes artificiais como substitutos dos açúcares na dieta. Table of Contents Toggle Adoçantes Artificiais Peso Corporal e Adiposidades Adoçantes Artificiais, Recompensa e Adiposidade Consumo Energético Adoçante Artificial e Microbiota Intestinal Prática Clínica Referências Bibliográficas Adoçantes Artificiais Existem dois tipos de adoçantes: naturais e artificiais. Os adoçantes artificiais são classificados como nutritivos ou não nutritivos, dependendo se tem ou não calorias. Os adoçantes nutritivos incluem polióis monossacarídeos e polióis dissacarídeos. Os adoçantes não nutritivos, conhecidos como artificiais, incluem substâncias de diferentes classes químicas que são muito mais doces que o açúcar. Cada adoçante artificial é diferente em termos de propriedades, como intensidade e persistência do sabor doce, e pode afetar o sabor percebido ou o uso em alimentos de maneira diferente.  Acessulfame de Potássio Acessulfame potássio (acessulfame-K), pertencente à classe de produtos químicos oxathiazinodioxide, é um pó cristalino branco aproximadamente 200 vezes mais doce em comparação com a sacarose. Como resultado do seu poder de dulçor o acessulfame-K é comumente utilizado em várias preparações ,como exemplo no refrigerante. Destaca-se que o acessulfame-K não é metabolizado pelo corpo, ou seja, após a ingestão, este composto é completamente absorvido na circulação sistêmica e distribuído.  Sacarina A sacarina é aproximadamente 300 vezes mais doce que a sacarose e da mesma forma que o acessulfame-K, a sacarina não é metabolizada pelo corpo. Melhor explicando, após a ingestão de sacarina, por volta de 85 a 95% são absorvidos e ligados às proteínas plasmáticas para serem distribuídos pelo sangue. Seguido disso, a sacarina é excretada na urina, enquanto os 5 a 15% restantes passam inteiramente pelo trato gastrointestinal para serem eliminados nas fezes inalteradas.  Aspartame O aspartame é aproximadamente 200 vezes mais doce do que a sacarose. Em contraste com outros adoçantes artificiais, o aspartame contém 4 calorias por grama. No entanto, devido à intensidade edulcorante, apenas uma pequena quantidade de aspartame é utilizada em produtos para obter doçura. Portanto, poucas calorias são derivadas do aspartame em produtos adoçantes. É importante lembrar que o aspartame não se acumula no corpo, pois é rapidamente digerido. Além de que, nem o aspartame nem seus componentes atingem o cólon. Portanto, o aspartame não é capaz de afetar a microbiota intestinal Sucralose  Apesar de ser muito semelhante à sacarose na sua estrutura, a sucralose tem um poder de dulçor é 600 vezes maior, além de que não fornece calorias pois não é digerida pelo corpo. Melhor explicando, a maior parte da sucralose passa inteiramente pelo trato gastrointestinal para ser eliminada diretamente nas fezes, enquanto uma pequena quantidade é absorvida e direcionada aos rins para ser excretada na urina. Glicosídeo de esteviol Os glicosídeos de esteviol são aproximadamente de 100 a 300 vezes mais doce em comparação com a sacarose. Apesar de não ser hidrolisados pelas enzimas digestivas e ácidos presentes no trato gastrointestinal superior, quando presente na a microbiota do cólon, principalmente Bacteroides, é capaz de degradar os glicosídeos de esteviol. Portanto, os glicosídeos de esteviol são capazes de modular a microbiota intestinal quando a encontram diretamente. Peso Corporal e Adiposidades O ganho de peso e acúmulo de gordura no corpo ocorrem quando há um excesso de energia consumida em relação à energia gasta. O equilíbrio energético é regulado de forma complexa, incluindo o controle da ingestão de alimentos e do gasto de energia. Apesar dos adoçantes artificiais serem mais doces do que os açúcares naturais, eles possuem uma composição calórica e rotas metabólicas diferentes. Como resultado, é possível que os adoçantes artificiais afetem o equilíbrio energético e o peso corporal de maneiras diferentes dos açúcares naturais, por meio de processos fisiológicos que envolvem a microbiota intestinal, o sistema de recompensa e a formação de gordura. Diante disso, estudos mostram que não há diferença significativa na mudança de peso corporal entre indivíduos com sobrepeso e magros que consomem adoçantes artificiais em comparação com aqueles que recebem açúcares ou celulose como placebo por um período maior que 6 meses. Adicionado a isso, também não foram encontrados significativos adoçantes artificiais na mudança de peso e IMC em comparação com açúcar ou água em pessoas que vivem com obesidade. Adoçantes Artificiais, Recompensa e Adiposidade Como os adoçantes artificiais contêm poucas ou nenhuma quantidade de calorias, pode-se esperar que esses adoçantes possam contribuir para uma menor ingestão de energia e, portanto, redução do peso corporal. No entanto, existem controvérsias se os adoçantes artificiais afetam o apetite, a fome e o comportamento alimentar e se esses efeitos são benéficos ou não. Primeiramente, um aspecto determinante no comportamento alimentar é a recompensa da comida. O sistema de recompensa desempenha um papel importante na regulação da ingestão de energia e pode ser dividido em recompensa sensorial e pós-ingestiva. Com a ingestão de açúcares naturais ou adoçantes artificiais, a informação gustativa é percebida pelos receptores do sabor doce. Destaca-se que os locais de ligação dos receptores de sabor doce são diferentes para ambos, bem como o ramo gustativo também é ativado de maneira diferente. Com isso, dados mostram que os adoçantes artificiais podem gerar sinais mais fracos que são enviados para áreas envolvidas em recompensa e satisfação. Como conclusão dos dados expostos, pode-se dizer que os adoçantes artificiais podem oferecer uma recompensa menor do que os açúcares naturais. No entanto, é importante destacar que ainda não foram demonstradas diferenças na resposta de recompensa em uma abordagem de alimentação completa ou em dietas em que o açúcar foi substituído por adoçantes artificiais. Consumo Energético Resumindo o que foi discutido no tópico anterior, pode-se supor que a falta de satisfação completa desencadeada pelos adoçantes artificiais podem aumentar o comportamento de busca por alimentos, contribuindo assim para o aumento ou na ingestão de energia.  Apesar disso, a menor satisfação não necessariamente se traduz na ingestão compensatória de energia. Ou seja, estudos mostraram que a redução da ingestão calórica pela substituição de açúcares naturais por adoçantes artificiais não é totalmente compensada. Resultado disso é que a ingestão de energia após o uso de adoçantes artificiais ainda é menor em comparação com os açúcares naturais, mesmo após a suposta ingestão de energia compensatória. Adoçante Artificial e Microbiota Intestinal A microbiota intestinal pode ter um papel importante nos efeitos dos adoçantes artificiais na regulação do peso corporal e na homeostase da glicose. Estudos indicam que os adoçantes artificiais podem alterar a composição e a função da microbiota intestinal. Embora haja diferentes processos fisiológicos envolvidos no efeito dos adoçantes artificiais na saúde metabólica, revisões sistemáticas e estudos prospectivos sugerem que os adoçantes artificiais podem ter um efeito neutro no peso corporal e no controle glicêmico ou até mesmo ter um efeito benéfico na regulação do peso corporal a longo prazo. Prática Clínica Embora a maioria dos estudos em humanos não relate efeitos significativos de adoçantes artificiais no peso corporal e no controle glicêmico, deve-se enfatizar que a duração do estudo da maioria dos estudos foi limitada. Ainda assim, o uso dos adoçantes artificiais podem ser um aliado principalmente nos casos em que o consumo da sacarose não é recomendado.  Referências Bibliográficas Sugestão de leitura: Inflamação de Baixo Grau e Ultraprocessados Artigo Adoçantes artificiais : Pang MD, Goossens GH, Blaak EE. The Impact of Artificial Sweeteners on Body Weight Control and Glucose Homeostasis. Frontiers in Nutrition. 2021;7. doi:https://doi.org/10.3389/fnut.2020.598340 Classifique esse post #usodeadoçantes #emagrecimentoeadoçantes #adoçantesartificiais #perdadepeso #emagrecimento