Metabolismo e Dieta na Tireoidite de Hashimoto
Brunno Falcão
6 min
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14 de ago. de 2024
A tireoidite de Hashimoto, também conhecida como tireoidite linfocítica crônica ou tireoidite autoimune, é uma inflamação crônica da glândula tireoide cuja causa ainda não está completamente definida. Essa condição é a doença autoimune e o distúrbio endócrino mais comum, sendo a principal causa de hipotireoidismo em países onde o consumo de iodo é suficiente. O diagnóstico de tireoidite de Hashimoto é realizado por meio de exames bioquímicos, que detectam a presença de autoanticorpos tireoidianos no sangue, e exames de imagem, que mostram uma estrutura tireoidiana não homogênea e hipoecogênica na ultrassonografia. Esses autoanticorpos incluem anticorpos anti-peroxidase tireoidiana (TPOAb) e anticorpos anti-tireoglobulina (TgAb). Devido à inflamação, os folículos da tireoide são destruídos e substituídos por pequenos linfócitos. Isso reduz significativamente a ecogenicidade do parênquima tireoidiano na ultrassonografia. A tireoidite de Hashimoto afeta predominantemente a população feminina, com uma incidência maior na meia-idade. As mulheres têm cerca de oito vezes mais probabilidade de desenvolver a doença do que os homens. Além disso, a condição é mais comum entre brancos e asiáticos do que entre afro-americanos. Impacto na Qualidade de Vida A tireoidite de Hashimoto afeta negativamente o bem-estar e a qualidade de vida, pois os hormônios tireoidianos regulam a taxa de metabolismo basal, o metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras, além da termogênese. A doença interfere em vários sistemas do corpo, incluindo os sistemas cardiovascular, gastrointestinal, pulmonar, hematopoiético, reprodutivo, neuropsiquiátrico e também na pele. Os sintomas da tireoidite de Hashimoto são inespecíficos e podem incluir problemas de concentração, fadiga crônica, fraqueza, pele seca, alterações no peso corporal e constipação. Esses sintomas variam de acordo com a gravidade da condição. Além disso, transtornos de humor e ansiedade também são comuns em pacientes com essa doença. Patogênese e Fatores Contribuintes Os mecanismos exatos que levam à tireoidite autoimune ainda não são totalmente compreendidos. Diversos fatores ambientais e genéticos contribuem para o desenvolvimento da tireoidite de Hashimoto, fazendo com que o sistema imunológico produza anticorpos contra a tireoide. Entre os genes envolvidos, destacam-se aqueles relacionados à resposta imune, como os codificados no complexo do Antígeno Leucocitário Humano (HLA). Além disso, genes relacionados à função da tireoide também são importantes, incluindo variações específicas no antígeno 4 associado a linfócitos T citotóxicos (CTLA-4), proteína tirosina fosfatase não receptora tipo 22 (PTPN22) e CD40. Os fatores ambientais incluem a ingestão inadequada ou excessiva de iodo, infecções e o uso de certos medicamentos. Alguns medicamentos anticâncer, como o interferon-α, podem causar disfunção tireoidiana autoimune. Terapia e Tratamento O tratamento do hipotireoidismo resultante da tireoidite de Hashimoto envolve a administração diária de hormônio tireoidiano sintético, levotiroxina, em uma dosagem de 1,6 a 1,8 microgramas por quilograma de peso corporal. Essa terapia de reposição deve ser mantida por toda a vida para assegurar níveis normais de TSH. Além do uso de levotiroxina, a dieta e a suplementação adequadas são aspectos importantes do tratamento. A suplementação com selênio está associada a uma diminuição significativa nos níveis de anticorpos anti-peroxidase tireoidiana (TPOAb), enquanto a ingestão inadequada desse mineral pode exacerbar a tireoidite de Hashimoto. Dados recentes também indicam que a suplementação de vitamina D pode ter efeitos benéficos no curso da doença. Sobrepeso, Obesidade e Risco metabólico na TH A incidência de doenças metabólicas e autoimunes da tireoide aumentou nos últimos anos. A tireoidite de Hashimoto está associada a um maior risco cardiovascular, independentemente da função tireoidiana. Esse risco pode ser devido a mediadores pró-inflamatórios, efeitos de autoanticorpos, linfócitos autorreativos e níveis hormonais anormais. Além disso, pessoas obesas podem ser mais propensas a desenvolver tireoidite de Hashimoto, pois a obesidade está associada à doença e a altos níveis de anticorpos anti-peroxidase tireoidiana (TPOAb). Estudos mostram que o ganho de peso na infância e o sobrepeso aumentam a suscetibilidade ao hipotireoidismo e à autoimunidade tireoidiana, especialmente em mulheres. Ademais, em indivíduos não obesos, os níveis de TPOAb foram associados ao colesterol total, triglicerídeos, resistência à insulina e níveis de proteína C-reativa de alta sensibilidade (hsCRP). Portanto, o nível de TPOAb foi identificado como um fator independente que influenciou a inflamação crônica e a resistência à insulina, sugerindo, assim, um elo entre a autoimunidade da tireoide e as anormalidades metabólicas. Micronutrientes em Tireoidite de Hashimoto Iodo: É um microelemento essencial para o funcionamento adequado da glândula tireoide, incluindo a síntese dos hormônios triiodotironina (T3) e tiroxina (T4). A iodização universal do sal foi uma estratégia eficaz para eliminar a deficiência de iodo. No entanto, devido ao aumento da incidência de hipertensão e outras doenças cardiovasculares, recomenda-se limitar a ingestão de sal, que é a principal fonte de iodo. A ingestão diária adequada de iodo para adultos é de 150 microgramas por dia. Fontes alimentares de iodo incluem frutos do mar, peixes, leite, laticínios, vegetais e frutas. Entretanto, a ingestão excessiva de iodo pode induzir disfunção tireoidiana e não é recomendada para pacientes com tireoidite de Hashimoto. Selênio: O selênio é um micronutriente essencial com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. A glândula tireoide possui o maior conteúdo de selênio por grama de tecido devido às suas selenoproteínas específicas. A suplementação de selênio, especialmente na forma de selenometionina, pode ser benéfica para pacientes com tireoidite de Hashimoto que apresentam deficiência de selênio e ingestão adequada de iodo. Fontes alimentares de selênio incluem carne, peixes, ovos, frutos do mar, vísceras, cereais, castanhas-do-pará e cogumelos. Ferro e Magnésio: Além do iodo e do selênio, é crucial garantir um suprimento adequado de ferro e magnésio. A peroxidase tireoidiana, uma enzima heme, é fundamental para a produção de hormônios tireoidianos, e sua deficiência pode prejudicar o metabolismo da tireoide. O ferro é encontrado em carnes vermelhas, aves, ovos e peixes, enquanto o magnésio está presente em vegetais verdes, legumes, nozes, sementes, bananas e grãos integrais. Embora níveis reduzidos de magnésio estejam associados a várias doenças crônicas, sua relação com a tireoidite de Hashimoto ainda não está clara. Vitamina D: Essencial para a proliferação e diferenciação celular, além da imunomodulação, a vitamina D pode ser eficaz na redução dos níveis de anticorpos antitireoidianos em pacientes com tireoidite de Hashimoto. Ela é produzida endogenamente após exposição solar e está presente em peixes gordurosos, óleos de fígado de peixe, carne, vísceras, ovos e laticínios. A deficiência de vitamina D pode estar associada à presença de autoanticorpos da tireoide. Vitamina B12: Em pacientes com tireoidite de Hashimoto, o risco de anemia pode ser aumentado por doenças autoimunes concomitantes, como anemia perniciosa ou gastrite atrófica. A vitamina B12 está presente em alimentos de origem animal, incluindo carne, peixe, ovos, leite e outros laticínios. Microbiota Intestinal na Tireoidite de Hashimoto A microbiota intestinal desempenha um papel crucial na manutenção da homeostase nutricional, metabólica e imunológica. Evidências sugerem que a disbiose intestinal, o crescimento bacteriano excessivo e o aumento da permeabilidade intestinal podem promover o desenvolvimento de doenças inflamatórias e autoimunes, incluindo a tireoidite de Hashimoto. Pacientes com tireoidite de Hashimoto apresentam um aumento nas espécies de Bacteroides e uma diminuição nas espécies de Bifidobacterium . Prática clínica Pacientes com tireoidite de Hashimoto (TH) enfrentam estresse oxidativo, obesidade e distúrbios metabólicos, que podem agravar a condição. Para manter a saúde da glândula tireoide, é essencial garantir a ingestão adequada de oligoelementos e vitaminas. Primeiramente, o iodo é crucial para a síntese de hormônios tireoidianos, com uma ingestão recomendada de 150 microgramas por dia, obtida de frutos do mar, peixes, leite, laticínios, vegetais e frutas. No entanto, o consumo excessivo deve ser evitado. Além disso, o selênio (Se), com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, é encontrado em carnes, peixes, ovos, frutos do mar, vísceras, cereais, castanhas-do-pará e cogumelos, sendo que a suplementação pode ser necessária em casos de deficiência. Ademais, o ferro é essencial para a produção de hormônios tireoidianos e pode ser obtido de carnes vermelhas, aves, ovos e peixes. O magnésio, importante para a saúde geral, é encontrado em vegetais verdes, legumes, nozes, sementes, bananas e grãos integrais. Além disso, a vitamina D, que ajuda a reduzir os níveis de anticorpos antitireoidianos, pode ser obtida pela exposição solar e pelo consumo de peixes gordurosos, óleos de fígado de peixe, carne, vísceras, ovos e laticínios. Finalmente, a vitamina B12, vital para prevenir anemia associada à TH, é encontrada em carne, peixe, ovos, leite e laticínios, e a suplementação pode ser necessária em casos de deficiência diagnosticada. Essas orientações são fundamentais para que médicos e nutricionistas forneçam um cuidado eficaz aos pacientes com tireoidite de Hashimoto, promovendo uma melhor qualidade de vida e saúde geral. Continue estudando... Sugestão de estudo: Intervenção Nutricional para Tireoidite de Hashimoto Sugestão de estudo: Tireoidite de Hashimoto: O que você precisa saber? Sugestão de estudo: Intestino: Implicações na Doença de Hashimoto Referências Bibliográficas MIKULSKA, Aniceta A.; KARAŰNIEWICZ-ŁADA, Marta; FILIPOWICZ, Dorota; RUCHAłA, Marek; GłÓWKA, Franciszek K.. Metabolic Characteristics of Hashimoto’s Thyroiditis Patients and the Role of Microelements and Diet in the Disease Management—An Overview. International Journal Of Molecular Sciences , [S.L.], v. 23, n. 12, p. 6580, 13 jun. 2022. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/ijms23126580 .