Efeito da Restrição Calórica e do Jejum Intermitente na Saúde e Longevidade
Brunno Falcão
3 min
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2 de jul. de 2024
A restrição calórica (RC) de longo prazo tem demonstrado consistentemente melhorar a saúde e prolongar a sobrevivência em diversas espécies, embora sua implementação prolongada em humanos seja impraticável devido à baixa adesão. Estudos indicam que a RC retarda o envelhecimento fenotípico e reduz os riscos de morbidade relacionados à idade, sugerindo que a idade biológica pode ser dissociada da cronológica, um conceito central na gerociência. A eficácia da RC parece depender não apenas da redução calórica absoluta, mas também de fatores como o tempo de jejum, composição dos nutrientes, ritmos circadianos, idade de início da intervenção e sexo. E ssas variáveis podem influenciar os resultados da RC e estão sendo exploradas para desenvolver alternativas dietéticas que proporcionem benefícios semelhantes de forma menos rigorosa. A manipulação desses elementos pode potencializar os efeitos positivos da RC na saúde metabólica e na longevidade. Além disso, dietas alternativas como o jejum intermitente (JI) têm surgido como uma estratégia viável para obter benefícios semelhantes aos da RC, sem a necessidade de restrição calórica contínua. Padrões como o jejum periódico, alimentação com restrição de tempo e jejum em dias alternados têm mostrado melhorar marcadores metabólicos, sensibilidade à insulina e reduzir inflamação sistêmica, mesmo na ausência de perda de peso significativa. Essas abordagens representam um caminho promissor para integrar princípios de restrição energética periódica na gestão da saúde e do envelhecimento humano. Remodelação Metabólica: Comparando Estados de Jejum e Alimentação Nos estados de jejum versus alimentação, a glicose, cetonas e ácidos graxos desempenham papéis distintos na regulação metabólica e adaptação fisiológica. Durante o jejum, a queda nos níveis de insulina estimula a liberação de glicose pelo fígado a partir do glicogênio armazenado, enquanto os triglicerídeos do tecido adiposo são quebrados, liberando ácidos graxos. Esses ácidos graxos são oxidados no fígado, gerando acetil-CoA, fundamental para a gliconeogênese hepática. À medida que o jejum se prolonga, os ácidos graxos são convertidos em corpos cetônicos, que se tornam uma importante fonte de energia para tecidos como o cérebro e o coração. Em humanos, o jejum inicial eleva os níveis de cetonas, enquanto em roedores, a cetose é alcançada rapidamente e mantida por períodos prolongados. Assim, a cetose resultante do jejum prolongado não só promove adaptações metabólicas, como também ativa respostas celulares ao estresse, melhorando a resistência a danos oxidativos e retardando o envelhecimento fenotípico. A capacidade de alternar entre glicólise e cetose, essencial para a sobrevivência, sugere que intervenções como o jejum intermitente e a dieta cetogênica podem ser estratégias valiosas para mitigar doenças relacionadas à idade, especialmente em populações mais velhas, onde a eficiência metabólica pode estar comprometida. Nesse sentido, a expectativa de vida global está em ascensão, porém acompanhada pelo aumento das doenças crônicas relacionadas à idade. A Restrição Calórica (RC) tem sido reconhecida por seus benefícios à saúde e longevidade, mas sua rigorosidade limita sua aplicabilidade generalizada. Diante disso, o Jejum Intermitente (JI) tem emergido como uma alternativa promissora, adaptando-se à composição da dieta, ritmos circadianos e duração do jejum. Diversas formas de JI, como o Jejum em Dias Alternados (ADF) e o Jejum de Tempo Restrito (TRF), têm demonstrado melhorias metabólicas significativas, como redução de peso, gordura corporal, glicemia e melhora da sensibilidade à insulina, tanto em estudos com roedores quanto com humanos. Essas abordagens parecem particularmente benéficas para indivíduos com saúde metabólica comprometida, ajudando a regular variáveis fisiológicas e potencialmente prevenir várias doenças crônicas. No entanto, são necessárias mais pesquisas para personalizar essas estratégias com base em fatores como sexo, idade e antecedentes genéticos, para otimizar seus benefícios. Prática Clínica Com base nas evidências atuais sobre os benefícios do Jejum Intermitente (JI) para a saúde metabólica e potencial prolongamento da vida, é recomendável considerar o JI como uma estratégia dietética viável. Para indivíduos interessados em melhorar a saúde metabólica, reduzir o peso corporal ou mesmo prevenir doenças crônicas associadas à idade, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, o JI pode oferecer uma abordagem eficaz e sustentável. No entanto, é importante consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer regime de JI, especialmente para indivíduos com condições médicas pré-existentes ou que estejam tomando medicamentos, para garantir que o plano seja adequado e seguro para suas necessidades específicas. Além disso, a personalização do JI com base no sexo, idade e perfil genético pode potencializar seus benefícios, destacando a importância de mais pesquisas nessa área para otimizar as recomendações clínicas. Continue estudando.. Sugestão de leitura: Jejum Intermitente no Tratamento da Obesidade Sugestão de leitura: Jejum Intermitente: Bom pra quem? Referências Duregon E, Pomatto-Watson LCDD, Bernier M, Price NL, de Cabo R. Intermittent fasting: from calories to time restriction. Geroscience. 2021 Jun;43(3):1083-1092. doi: 10.1007/s11357-021-00335-z. Epub 2021 Mar 9. PMID: 33686571; PMCID: PMC8190218.