Metainflamação e Impacto Clínico: Entendendo os Elos entre Inflamação, Nutrição e Saúde
Brunno Falcão
4 min
•
21 de nov. de 2023
Nas últimas décadas, observa-se uma mudança significativa no padrão de saúde da população mundial. O aumento das taxas de incidência de doenças associadas à inflamação crônica tem despertado um maior interesse científico. Vários estudos identificaram mecanismos moleculares que mostram como os componentes da dieta, juntamente com outros aspectos do estilo de vida moderno, podem interagir com as vias imunológicas, tanto diretamente quanto indiretamente, por meio da modulação da microbiota intestinal. Isso gera um impacto direto no estado inflamatório e, por conseguinte, aumenta o risco de doenças crônicas, inclusive em aspectos relacionados à estética. Table of Contents Toggle Metainflamação: Conceito e Impacto Papel da Microbiota Intestinal na Inflamação e Saúde Resposta Imunológica e Metainflamação Influência Hepática e Expressão de Citocinas Estresse Psicológico e Resposta Inflamatória Relação entre Inflamação, Estresse e Ganho de Peso Prática Clínica Continue estudando… Referências Bibliográficas Metainflamação: Conceito e Impacto Atualmente, está bem estabelecido que o estado inflamatório associado à adiposidade difere do paradigma da inflamação clássica. O sistema imunológico inato, inespecífico, opera reconhecendo padrões moleculares comuns entre patógenos. Assim, a inflamação relacionada à obesidade, conhecida como “metainflamação”, inicia-se devido ao excesso alimentar, desencadeando um gatilho metabólico. É crucial ressaltar que os adipócitos têm uma origem distinta e são principalmente responsáveis por essa inflamação, considerada de baixa intensidade e com repercussões crônicas. Além disso, a identificação de elevados níveis de TNF-alfa em tecidos adiposos de ratos obesos, em comparação com tecidos de ratos magros, impulsionou essa descoberta. A partir desse ponto, inúmeros estudos analisaram as diferenças entre animais magros e obesos, incluindo em humanos. Nesse sentido, reconhece-se o tecido adiposo como um órgão secretor crucial de peptídios ativos com ação metabólica, como o TNF-alfa e interleucinas, especialmente a IL-6. No entanto, ainda não foi estabelecido um patamar exato de hipertrofia adiposa para iniciar um processo inflamatório. No entanto, há evidências de que, quando iniciado por esse tecido, as citocinas liberadas causam a infiltração de monócitos circulantes, contribuindo significativamente para o estado de metainflamação, e também promovem a produção hepática de um marcador do processo inflamatório, a proteína C reativa (PCR). Papel da Microbiota Intestinal na Inflamação e Saúde A microbiota intestinal desempenha um papel crucial na modulação de parâmetros inflamatórios discutidos na literatura. Bactérias específicas presentes na mucosa intestinal estão associadas a moléculas inflamatórias capazes de desencadear um estado inflamatório crônico em vários tecidos do corpo, incluindo a pele. Esse processo inflamatório tem sua origem nos componentes estruturais das bactérias, iniciando uma cascata de vias inflamatórias que resultam na produção de interleucinas e outras citocinas. Adicionalmente, observa-se um efeito inverso, onde os subprodutos das vias metabólicas bacterianas, incluindo alguns ácidos graxos de cadeia curta, desempenham um papel na inibição dos processos inflamatórios.” A literatura científica proporciona uma visão abrangente sobre a relação entre a microbiota intestinal e as moléculas inflamatórias. Os autores notaram que a composição da microbiota varia entre os indivíduos, sendo influenciada por fatores como estilo de vida, genoma e genética. Portanto, alguns indivíduos podem abrigar bactérias associadas a efeitos pró-inflamatórios, enquanto outros possuem o oposto. Isso ressalta a complexidade e a individualidade da microbiota intestinal, evidenciando seu papel essencial na regulação do estado inflamatório. Resposta Imunológica e Metainflamação A forte associação entre a resposta imunológica e a resistência à insulina foi reconhecida com a identificação da resistência em estados infecciosos. No tecido adiposo, os mediadores inflamatórios, especialmente o TNF-alfa, exercem não apenas a inibição da sinalização em cascata da insulina, mas também um mecanismo contrarregulatório na atividade dos fatores de transcrição PPAR-gama, responsáveis pela expressão da adiponectina. Esta adipocina desempenha um amplo papel anti-inflamatório e contribui de várias maneiras para o aumento da sensibilidade à insulina. Influência Hepática e Expressão de Citocinas O fígado, essencial no metabolismo dos nutrientes e na regulação de processos como a glicogênese, gliconeogênese, lipogênese e síntese de colesterol, difere do tecido adiposo quanto à infiltração durante a metainflamação corporal. Apesar disso, em indivíduos obesos, a expressão hepática de citocinas inflamatórias é superior quando comparada a indivíduos magros. Estresse Psicológico e Resposta Inflamatória Evidências científicas indicam que o estresse psicológico desempenha um papel na ativação da resposta inflamatória, promovendo sintomas depressivos e aumentando a presença de citocinas como interleucina-6 e TNF-alfa. Relação entre Inflamação, Estresse e Ganho de Peso O ganho de peso relacionado ao estresse está associado ao aumento do apetite por alimentos específicos, levando a uma alimentação emocional, um comportamento desencadeado pelo estresse. A relação entre inflamação, estresse e ganho de peso pode ser modificada através de estratégias aplicadas no estilo de vida, equilibrando esses três fatores. A redução do estresse por meio de atividades físicas, alimentação saudável, regulação do sono e controle do trabalho é fundamental para reduzir a inflamação, contribuindo para o controle de peso, a melhoria da saúde e gerando efeitos positivos na estética corporal. Prática Clínica As informações sobre a metainflamação trazem uma nova perspectiva sobre como a dieta e fatores associados ao estilo de vida podem modular as respostas imunológicas, impactando diretamente a saúde metabólica e o risco de desenvolvimento de doenças crônicas. Esses conhecimentos possibilitam abordagens mais personalizadas, visando controlar a inflamação crônica através de estratégias dietéticas e de estilo de vida específicas, assim como na promoção de uma microbiota intestinal saudável. Além disso, compreender os mecanismos moleculares subjacentes à metainflamação e sua influência na resistência à insulina e no ganho de peso relacionado ao estresse permite ao nutricionista elaborar intervenções terapêuticas mais direcionadas para seus pacientes, focando na redução do estresse, controle de peso e melhoria da saúde global. Continue estudando… Exercício e Inflamação em Mulheres com Obesidade Inflamação de Baixo Grau e Ultraprocessados Ferritina e Inflamação: Qual a relação? Referências Bibliográficas Margină D, Ungurianu A, Purdel C, Tsoukalas D, Sarandi E, Thanasoula M, Tekos F, Mesnage R, Kouretas D, Tsatsakis A. Chronic Inflammation in the Context of Everyday Life: Dietary Changes as Mitigating Factors. Int J Environ Res Public Health. 2020 Jun 10;17(11):4135. doi: 10.3390/ijerph17114135. PMID: 32531935; PMCID: PMC7312944. Wawrzyniak-Gramacka E, Hertmanowska N, Tylutka A, Morawin B, Wacka E, Gutowicz M, Zembron-Lacny A. The Association of Anti-Inflammatory Diet Ingredients and Lifestyle Exercise with Inflammaging. Nutrients. 2021 Oct 21;13(11):3696. doi: 10.3390/nu13113696. PMID: 34835952; PMCID: PMC8621229. Classifique esse post #inflamação #metainflamação #obesidade