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Microbiota Intestinal: A Chave para Regular o Estresse?

Brunno Falcão

4 min

10 de ago. de 2024

A relação entre estresse e saúde é complexa e envolve vários mecanismos biológicos. Um dos principais reguladores dessa relação é o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que controla como reagimos a diferentes estressores, tanto psicológicos quanto físicos, como infecções. No campo da neurociência, é amplamente aceito que o cérebro regula a atividade do intestino. No entanto, pesquisas recentes têm mostrado um aspecto igualmente importante: a influência da microbiota intestinal no cérebro. Os sinais do cérebro podem afetar diretamente as funções motoras, sensoriais e secretoras do trato gastrointestinal. Além disso, as mensagens provenientes do intestino também podem impactar a função cerebral, especialmente nas áreas responsáveis pela regulação do estresse, como o hipotálamo. Mudanças na microbiota intestinal podem, portanto, alterar a forma como o cérebro responde ao estresse. Dessa forma, a microbiota intestinal desempenha um papel crucial na resposta ao estresse. Os microrganismos presentes no intestino influenciam a forma como o corpo lida com o estresse desde os estágios iniciais da vida. O Papel do Estresse na Permeabilidade Intestinal O estresse psicológico pode aumentar a permeabilidade intestinal, permitindo que bactérias e seus produtos atravessam a barreira intestinal. Normalmente, o epitélio intestinal controla bem a passagem de bactérias não prejudiciais. No entanto, o estresse psicológico pode comprometer essa barreira, resultando em uma condição conhecida como "intestino permeável". Além disso, estudos mostram que o estresse agudo pode aumentar a permeabilidade do intestino, o que está associado a uma produção excessiva de interferon-gama e a uma diminuição das proteínas responsáveis por manter a integridade das junções celulares. Esse aumento da permeabilidade permite que bactérias e substâncias estranhas atravessem a barreira intestinal e ativem uma resposta imune. Isso pode alterar os níveis de citocinas pró-inflamatórias e potencialmente ativar o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA). A Influência do Estresse sobre a Microbiota Intestinal O estresse não só afeta a permeabilidade intestinal, mas também altera a composição do microbioma. Estudos mostram que o estresse psicológico pode promover o crescimento de certas cepas de Escherichia coli , tanto patogênicas quanto não patogênicas, ao interagir com catecolaminas como adrenalina e noradrenalina. Essas mudanças na microbiota intestinal devido ao estresse podem ter um impacto significativo na saúde mental. De fato, pesquisas indicam que pacientes com depressão apresentam níveis elevados de anticorpos IgM e IgA contra lipopolissacarídeos de enterobactérias. Esses anticorpos estão associados a sintomas como fadiga e problemas gastrointestinais, sugerindo que um intestino permeável pode contribuir para a hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), frequentemente relacionada a transtornos de humor. Probióticos e Resposta ao Estresse: pode influenciar? Os probióticos, microrganismos vivos que proporcionam benefícios à saúde quando consumidos em quantidades adequadas, estão se destacando como possíveis tratamentos para distúrbios gastrointestinais relacionados ao estresse, como a síndrome do intestino irritável. Recentemente, estudos sugerem que a microbiota intestinal pode influenciar comportamentos ansiosos. Por exemplo, a combinação dos probióticos Lactobacillus helveticus  e Bifidobacterium longum  mostrou efeito ansiolítico em ratos. No entanto, é importante interpretar esses resultados com cautela, pois muitos compostos com efeitos ansiolíticos em roedores não são necessariamente eficazes em humanos quando testados de forma rigorosa. Além disso, a microbiota intestinal pode influenciar a percepção da dor. Um estudo mostrou que certas cepas de Lactobacillus  podem induzir a expressão de receptores opioides e canabinoides nas células intestinais, imitando os efeitos da morfina para promover alívio da dor. No entanto, os parâmetros do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) não foram medidos nesse estudo, o que limita a compreensão completa dos efeitos. Em resumo, embora os probióticos ofereçam um potencial promissor para melhorar a saúde mental e a resposta ao estresse, é fundamental continuar a pesquisa para entender melhor seus mecanismos e eficácia. Prática Clínica Considerar a saúde intestinal é essencial no tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos. A relação entre a microbiota intestinal e a saúde mental pode impactar significativamente a eficácia do tratamento e a recuperação dos pacientes. Para abordar essa questão, é importante integrar estratégias que visem a otimização da dieta e a modulação da microbiota intestinal no plano de tratamento. Isso pode ser alcançado por meio de uma alimentação balanceada, rica em fibras e probióticos, que promovem um ambiente intestinal saudável. Além disso, adotar uma abordagem personalizada é fundamental. Isso envolve realizar uma avaliação detalhada da microbiota intestinal e das condições psicológicas do paciente para adaptar o tratamento às suas necessidades específicas. A integração dessas estratégias no plano de tratamento deve ser feita de forma sistemática, considerando tanto as intervenções dietéticas quanto o uso de probióticos para melhorar a saúde intestinal e o bem-estar geral do paciente. É essencial monitorar regularmente a resposta do paciente às mudanças dietéticas e ao tratamento, fazendo ajustes conforme necessário para garantir a eficácia das intervenções. Essas medidas ajudam a oferecer um tratamento mais completo e eficaz, levando em conta a interconexão entre a saúde intestinal e a saúde mental. Continue Estudando... Sugestão de Estudo: Interação entre Exercício Físico e Microbiota Intestinal Sugestão de Estudo: Impactos da Alimentação na Microbiota Intestinal Sugestão de Estudo:  Uso de Antibióticos e Microbiota Intestinal Referências Bibliográficas: Dinan, T. G., & Cryan, J. F. (2012). Regulation of the stress response by the gut microbiota: implications for psychoneuroendocrinology.  Psychoneuroendocrinology ,  37 (9), 1369–1378. https://doi.org/10.1016/j.psyneuen.2012.03.007