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O Uso de Esteroides Anabólicos Androgênicos em Esportes

Brunno Falcão

4 min

22 de ago. de 2024

Os esteroides anabólicos androgênicos são substâncias derivadas da testosterona que promovem o crescimento muscular. Diferentemente dos estrogênios e corticosteroides, os esteroides anabólicos androgênicos têm um papel específico na construção de massa muscular. Embora tenham uso medicinal legítimo, frequentemente são utilizados fora do contexto terapêutico com o objetivo de melhorar a força e a aparência física. Este uso indiscriminado levanta diversas questões médicas, legais e éticas. Todos os principais órgãos esportivos proíbem o uso não autorizado de esteroides anabólicos androgênicos. O uso desses esteroides está mais associado à dismorfia muscular do que ao desempenho atlético, sendo sua prevalência maior entre homens, embora também esteja crescendo entre mulheres. Além disso, a facilidade de acesso a esses esteroides pela internet é uma preocupação crescente. Os métodos de uso de esteroides anabólicos androgênicos variam amplamente. Isso inclui diferentes tipos de esteroides, formas de administração, dosagens e padrões de ciclagem. Frequentemente, esses métodos envolvem combinações de esteroides anabólicos androgênicos com medicamentos auxiliares, com o objetivo de reduzir os efeitos colaterais e maximizar os resultados. Como os esteroides anabólicos androgênicos agem? A testosterona, produzida principalmente nos testículos dos homens e em menor quantidade nas glândulas adrenais e ovários das mulheres, é um andrógeno essencial com efeitos tanto androgênicos quanto anabólicos. Nos homens, ela é produzida nas células de Leydig, sob o controle do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas. Os andrógenos aumentam a força e a massa muscular, sendo que os esteroides anabólicos androgênicos mostram ganhos significativos em indivíduos treinados em comparação ao placebo. Esses andrógenos exógenos podem ser administrados de diversas formas, como oralmente, por injeção ou de forma tópica, e seus efeitos podem durar semanas. No entanto, geralmente diminuem após 12 semanas. O uso prolongado pode resultar em ganhos duradouros, embora a "memória muscular" ainda seja pouco estudada. Além disso, o impacto da testosterona em mulheres trans que iniciam tratamento hormonal antes da puberdade é menor. Meninos pré-púberes têm uma leve vantagem atlética sobre meninas devido a níveis mais altos de testosterona. Contudo, após a supressão hormonal pós-puberdade, pode haver uma redução na massa muscular e na força, além de um aumento na massa gorda. No entanto, faltam dados suficientes sobre atletas para medir essas mudanças com precisão. A sinalização de andrógenos ocorre principalmente através do receptor de andrógeno (AR). Andrógenos como a testosterona e o DHT se ligam ao AR, ativando-o e movendo-o para o núcleo, onde regula a transcrição de genes. Adicionalmente, a interação androgênio-AR ativa outras vias importantes para o crescimento muscular e reduz a expressão do receptor de glicocorticoide. Além disso, a sinalização não genômica, que ocorre rapidamente, ativa outras vias que são cruciais para alguns efeitos anabólicos. Efeitos Colaterais Associados ao Uso e Abuso de Andrógenos O uso e abuso de andrógenos, como esteroides anabolizantes (esteroides anabólicos androgênicos), podem causar diversos efeitos colaterais físicos e psicológicos, que variam conforme as dosagens e padrões de uso. Entre os efeitos físicos, destacam-se a atrofia testicular, acne, retenção de líquidos, disfunção sexual, ginecomastia e alterações cardiovasculares, como a redução do HDL e mudanças na coagulação sanguínea. Além disso, o uso prolongado pode levar à infertilidade, disfunção hepática e aumento do risco de infecções devido ao compartilhamento de agulhas. No entanto, os efeitos cardiovasculares são controversos, pois doses altas estão associadas a reduções no HDL e problemas cardíacos, incluindo morte súbita. Além disso, os esteroides anabólicos androgênicos orais podem danificar o fígado, e o impacto sobre a fertilidade e a secreção hormonal pode persistir mesmo após a cessação do uso. Psicologicamente, esses esteroides podem causar agressão, transtornos de humor e dependência. Em mulheres, o uso de esteroides anabólicos androgênicos pode resultar em masculinização irreversível. Além disso, em adolescentes, pode ocorrer início precoce da puberdade e impacto no crescimento ósseo. Finalmente, a interrupção abrupta do uso pode resultar em depressão grave e aumentar o risco de suicídio. Uso da Terapia Androgênica A terapia com testosterona é usada para tratar o hipogonadismo, proporcionando melhorias na atividade sexual, densidade óssea, massa muscular e força. Além disso, ajuda a reduzir a gordura corporal, a pressão arterial e os sintomas depressivos. No entanto, essa terapia pode ter efeitos adversos, o que torna necessário o monitoramento hormonal regular e a realização de exames frequentes. A diminuição da testosterona com a idade está ligada à disfunção sexual, à perda muscular, à baixa densidade óssea e a distúrbios depressivos. Embora a terapia com testosterona em homens mais velhos seja controversa, ela deve ser administrada com cuidado. Em crianças com hipogonadismo, a testosterona promove o desenvolvimento puberal. Além disso, atletas trans femininas devem manter os níveis de testosterona abaixo de certos limites para competir como mulheres. Isso exige um controle rigoroso desses níveis para garantir a equidade nas competições. Prática Clínica Os esteroides anabólicos androgênicos são usados para aumentar força, potência e massa muscular, além de reduzir o tempo de recuperação. Embora sejam comuns em contextos atléticos e clínicos, seu uso fora desses contextos é geralmente ilegal, antiético e arriscado para a saúde. Profissionais da saúde devem estar atentos aos sinais de uso não autorizado e educar os pacientes sobre os riscos físicos e psicológicos. A terapia de reposição de testosterona, utilizada para tratar hipogonadismo, é apoiada pelo American College of Sports Medicine quando clinicamente necessária, mas requer cautela e monitoramento regular. Nos consultórios, médicos e nutricionistas devem informar os pacientes sobre os riscos e benefícios dos esteroides anabólicos androgênicos e da terapia de reposição de testosterona. Devem explicar que o uso de esteroides fora de contextos médicos é ilegal e perigoso. Além disso, é importante monitorar sinais de uso não autorizado, como mudanças súbitas na massa muscular. Para pacientes em terapia de reposição de testosterona, é necessário realizar monitoramentos hormonais regulares e reforçar a importância da legalidade e ética no uso desses compostos. Para atletas trans femininas, deve-se garantir que os níveis de testosterona estejam dentro dos limites estabelecidos para manter a equidade nas competições. Profissionais da saúde devem se manter atualizados com as diretrizes das principais entidades, como o American College of Sports Medicine, para fornecer orientações baseadas em evidências científicas. Assim, médicos e nutricionistas podem ajudar a maximizar os benefícios e minimizar os riscos à saúde dos pacientes. Continue Estudando... Sugestão de Estudo: Recuperação Glandular Após o Uso de Esteroides Sugestão de Estudo:  Estratégias Nutricionais no Fisiculturismo: O que preciso saber? Sugestão de Estudo:  A Prescrição de Anabolizantes para Fins Estéticos foi Proibida pelo CRM Referência Bibliográfica: Bhasin, S., Hatfield, D. L., Hoffman, J. R., Kraemer, W. J., Labotz, M., Phillips, S. M., & Ratamess, N. A. (2021). Anabolic-Androgenic Steroid Use in Sports, Health, and Society.  Medicine and science in sports and exercise ,  53 (8), 1778–1794. https://doi.org/10.1249/MSS.0000000000002670