Semaglutida e Desfechos Cardiovasculares: Qual a Relação
Brunno Falcão
4 min
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25 de dez. de 2023
A obesidade é uma condição de saúde que vem crescendo de forma alarmante, tornando-se uma epidemia global. Projeções indicam que, na próxima década, mais de 50% da população brasileira pode estar enfrentando essa doença. Diante desse cenário desafiador, torna-se crucial explorar e adotar abordagens inovadoras no tratamento da obesidade, como a semaglutida. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) destaca, em suas diretrizes, que as medidas convencionais baseadas em mudanças nos hábitos de vida, como exercícios físicos e alimentação balanceada, embora fundamentais, muitas vezes se mostram insuficientes como monoterapia antiobesidade. Nesse contexto, a busca por novos medicamentos e intervenções terapêuticas ganha relevância, visando oferecer opções mais abrangentes e eficazes no controle do excesso de peso. Entre essas alternativas, os análogos do GLP-1, como a Semaglutida, surgiram como uma promissora adição ao arsenal de tratamentos. Isso mesmo em pacientes que não apresentam diabetes, representando uma esperança no combate à obesidade. A semaglutida provou ser eficaz na progressão da Doença Renal Crônica em pessoas com Diabetes Mellitus Tipo 2. E além disso, provou melhorar a classe funcional de pacientes obesos sem diabetes no cenário da insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada. E agora, mostrou desfecho favorável no perfil cardiovascular de pacientes obesos sem diabetes. Table of Contents Toggle Limitações das Abordagens Convencionais x Semaglutida Semaglutida como uma alternativa terapêutica Na Literatura Semaglutida x contexto cardiovascular Referências Limitações das Abordagens Convencionais x Semaglutida O sobrepeso e a obesidade estão independentemente associados a um aumento no risco de eventos cardiovasculares. Mesmo após ajustes para os fatores de risco cardiovasculares metabólicos relacionados ao peso excessivo como terapia medicamentosa para hipercolesterolemia. Embora a redução do risco de doença cardiovascular por meio do tratamento da dislipidemia, hipertensão e diabetes, seja uma prática padrão baseada em evidências, a ideia de tratar a obesidade para reduzir o risco de complicações cardiovasculares tem sido prejudicada pela falta de evidências de ensaios clínicos que indiquem que intervenções de estilo de vida ou farmacológicas para sobrepeso ou obesidade melhorem os resultados cardiovasculares. Os agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1) são utilizados no tratamento do diabetes tipo 2 e no controle do sobrepeso ou obesidade. Assim, eles demonstram a capacidade de reduzir o risco de eventos cardiovasculares e doenças cerebrovasculares significativos em pacientes com diabetes tipo 2. Semaglutida como uma alternativa terapêutica Apesar desses agentes afetarem diversas vias metabólicas, ainda não se sabe se os agonistas do GLP-1 podem diminuir o risco cardiovascular associado à obesidade. Mesmo que isso poderia ser teoricamente benéfico para melhorar os desfechos cardiovasculares em pessoas que não têm diabetes. Neste sentido, a Semaglutida administrada na dose de 2,4mg subcutaneamente uma vez por semana ao longo de 104 semanas, demonstrou reduzir o peso corporal em média 15,2% em pacientes com sobrepeso ou obesidade que não apresentavam diabetes. Na Literatura O mais recente estudo Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in Obesity without Diabetes, publicado dia 11 de Novembro de 2023, na Revista The New England Journal of Medicine, desejou responder a pergunta se a Semaglutida pode reduzir o risco cardiovascular associado ao sobrepeso e à obesidade na ausência de diabetes. O material foi desenhado em um estudo multicêntrico, duplo-cego, randomizado e controlado por placebo. Assim, o objetivo foi demonstrar superioridade em pacientes que já apresentavam doença cardiovascular pré-existente, mas sem histórico de diabetes. Participaram do estudo um total de 17.604 pacientes, sendo 8.803 designados para receber semaglutida e 8.801 para receber placebo. A média de tempo de exposição à Semaglutida ou ao placebo foi de 34 meses, e a média de acompanhamento foi de 39 meses. Um evento primário relacionado ao desfecho cardiovascular ocorreu em 6,5% dos pacientes que receberam semaglutida, enquanto que recebeu 8% dos pacientes placebo apresentaram esse evento. Esses resultados sugerem que a semaglutida demonstrou uma redução significativa no risco de eventos cardiovasculares em comparação com o placebo. No entanto, é importante notar que a taxa de eventos adversos que levaram à interrupção do tratamento foi maior no grupo da semaglutida. Esses achados ressaltam a necessidade de uma avaliação cuidadosa dos benefícios e riscos ao considerar o uso da semaglutida no tratamento de pacientes com risco cardiovascular alto. Semaglutida x contexto cardiovascular Dessa forma, em pacientes com doença cardiovascular pré-existente e sobrepeso ou obesidade, mas sem diabetes, a administração semanal subcutânea de semaglutida na dose de 2,4 mg demonstrou ser superior ao placebo na redução da incidência de morte por causas cardiovasculares, infarto do miocárdio não fatal ou acidente vascular cerebral não fatal , ao longo de uma média de acompanhamento de 39,8 meses. Por fim, a Semaglutida emerge como uma promissora ferramenta terapêutica, transcendendo suas origens como medicamento antiobesidade ou antidiabético. No contexto do recente estudo, sua eficácia se destacou em pacientes com doença cardiovascular pré-existente e sobrepeso ou obesidade, sem diabetes, revelando-se superior ao placebo na redução de eventos cardiovasculares adversos. Esses resultados abrem portas para uma compreensão mais ampla do potencial da semaglutida, sugerindo que seus benefícios vão além do controle glicêmico ou da modulação da resposta da insulina na presença do GLP-1. A descoberta de que a semaglutida pode significativamente diminuir o risco cardiovascular em pacientes sem diabetes ressalta seu papel emergente como uma intervenção valiosa no manejo de condições metabólicas complexas. Este estudo não apenas fortalece a posição da semaglutida no tratamento antiobesidade, mas também a posiciona como uma peça chave na busca por estratégias mais abrangentes no controle de problemas cardiovasculares associados à obesidade. Dessa forma, a Semaglutida transcende sua classificação inicial, evidenciando-se como uma terapia multifacetada e promissora, capaz de impactar positivamente não apenas o diabetes e a obesidade, mas também a saúde cardiovascular. Seu papel em diferentes cenários clínicos destaca a necessidade contínua de explorar e compreender seu potencial em uma variedade de contextos médicos, consolidando seu status como um agente terapêutico versátil e inovador. Referências LINCOFF, A. Michael; BROWN-FRANDSEN, Kirstine; COLHOUN, Helen M.; DEANFIELD, John; EMERSON, Scott S.; ESBJERG, Sille; HARDT-LINDBERG, Søren; HOVINGH, G. Kees; KAHN, Steven E.; KUSHNER, Robert F.. Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in Obesity without Diabetes. New England Journal Of Medicine , [S.L.], v. 389, n. 24, p. 2221-2232, 14 dez. 2023. Massachusetts Medical Society. Leitura sugerida: Quando parar de tomar remédio para tratar a obesidade? Leitura sugerida: Estratégias nutricionais para diminuir os efeitos colaterais da Semaglutida Classifique esse post #cardiovascular #diabetes #obesidade #semaglutida