Suplementação de Creatina e Testosterona: Há Relação?
Brunno Falcão
3 min
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24 de fev. de 2023
A suplementação de creatina é amplamente conhecida por seu potencial auxílio ergogênico, por isso, tem sido extensivamente estudada em populações atléticas e doentes. Entretanto, para atletas profissionais e recreativos, os mecanismos subjacentes ao aumento do desempenho e construção muscular pela suplementação de creatina ainda precisam ser claramente elucidados. Visto que, a literatura existente está focada somente na segurança clínica da suplementação, buscando identificar possíveis efeitos colaterais na função renal e marcadores hepáticos. Agora, conheça mais sobre a possível relação entre a suplementação de creatina e testosterona. Neste contexto, foram sugeridas duas abordagens para investigar os mecanismos pelos quais a creatina pode influenciar o músculo esquelético. Sendo que uma envolve a biópsia do músculo esquelético e a outra envolve investigação de efeitos da suplementação de creatina na resposta endócrina humoral ao exercício. Table of Contents Testosterona e Creatina Interpretando a Literatura sobre suplementação de creatina e testosterona Discutindo a Literatura Prática Clínica Referências Bibliográficas Testosterona e Creatina A testosterona pode estimular o crescimento muscular aumentando a síntese de proteínas e potencialmente reutilizando aminoácidos da quebra de proteínas musculares. Ademais, a testosterona, o hormônio do crescimento e o fator de crescimento da insulina-1 aumentam como um efeito agudo do exercício de resistência, o qual se mostra aprimorado com a ingestão de creatina por 7 dias. No entanto, um estudo semelhante não encontrou aumento da resposta do hormônio do crescimento a uma sessão de treinamento de resistência de 60 minutos em indivíduos que ingeriram creatina por 5 dias e a resposta da testosterona ao exercício não foi significativa, com ou sem a suplementação de creatina. Enquanto que em treinamentos extremos envolvendo resistência, foi demonstrado que os níveis totais de testosterona diminuem após 4 semanas, apesar da suplementação de creatina, sugerindo o possível papel da testosterona como mediador dos efeitos da creatina na massa muscular. Interpretando a Literatura sobre Suplementação de Creatina e Testosterona A testosterona pode ser convertida em um metabólito mais bioativo, a diidrotestosterona (DHT) pela ação da enzima 5-alfa-redutase. Posto isso, foi realizado um estudo cruzado duplo-cego em atletas jovens do sexo masculino que participavam de esportes coletivos que exigem força substancial (rugby). Estes, por sua vez, foram submetidos a exames bioquímicos para medir a testosterona sérica (T) e DHT, calculando também a proporção após 21 dias de suplementação de creatina. Dentre os resultados, foi encontrado que os níveis de testosterona não mudaram significativamente ao longo do tempo em nenhum dos grupos, no entanto, nas concentrações de dihidrotestosterona foi possível observar aumentos significativos nas concentrações ao longo do tempo. Visto que após 7 dias de carregamento, o aumento de DHT foi de 56% e, após mais 14 dias com a dose de manutenção, a elevação ainda era de 40% acima da linha de base. Além disso, depois de calcular a proporção de DHT para T, descobriu-se que havia uma proporção significativamente maior no grupo creatina, mudança que representou na proporção um aumento de 36% na conversão de T em DHT após 7 dias de suplementação. Discutindo a Literatura O principal achado é o aumento na relação DHT para T em resposta à carga de creatina, a qual também foi mantida durante a fase de manutenção por pelo menos mais 2 semanas em jovens atletas treinados. Sendo preciso atentar-se que neste estudo os resultados são restritos a creatina pois esta foi ingerida em conjunto com carboidratos para aumentar a sua absorção muscular, mas não foi ingerida em combinação com quaisquer outros suplementos anabolizantes putativos, como aqueles que podem funcionar sinergicamente. Prática Clínica Clinicamente, uma proporção aumentada de DHT:T tem sido associada a calvície de padrão masculino mais alta e desenvolvimento de câncer de próstata de acordo com classificação étnico/racial. Portanto, é importante investigar os efeitos dessa proporção nos tecidos-alvo do paciente que suplementa creatina a fim de evitar efeitos secundários indesejáveis. Continue Estudando... Sugestão de Estudo: Creatina e cafeína: uma atrapalha a outra? Sugestão de Estudo: Adolescentes podem tomar creatina? Sugestão de Estudo: Diuréticos e Creatina: Há interação droga-nutriente? Referências Bibliográficas van der Merwe J, Brooks NE, Myburgh KH. Three weeks of creatine monohydrate supplementation affects dihydrotestosterone to testosterone ratio in college-aged rugby players . Clin J Sport Med. 2009 Sep;19(5):399-404. doi: 10.1097/JSM.0b013e3181b8b52f. PMID: 19741313.