Teste de microbiota: como diagnosticar a disbiose?
Brunno Falcão
3 min
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25 de nov. de 2021
A microbiota intestinal desempenha um importante papel no controle metabólico, homeostase e fisiologia corporal, e alterações no seu equilíbrio podem representar um possível fator de risco para doenças cardiovasculares e inflamatórias. Uma barreira epitelial intestinal interrompida pode levar à translocação de produtos microbianos para a circulação sistêmica e induzir respostas inflamatórias exacerbadas. A variação interindividual da microbiota intestinal tem contribuição de fatores genéticos, ambientais e consumo alimentar. A genética humana, neste contexto, tem grande importância para compreensão da relação entre microbiota e saúde corporal, bem como no que diz respeito à busca de tratamentos de doenças intestinais e outros transtornos crônicos. A análise da hereditariedade demonstra a importância do genótipo do hospedeiro na definição da composição do microbioma intestinal, e o desenvolvimento de técnicas de análise biológica molecular proporciona a identificação de moléculas relacionadas à saúde intestinal. Em adultos saudáveis, 80% da microbiota é classificada em 3 filos dominantes: Bacteroides, Firmicutes e Actinobactérias. Em geral, a proporção de Firmicutes e Bacteroides é considerada importante na composição da microbiota intestinal, ou seja, proporções elevadas de Firmicutes e baixa de Bacteroides geralmente se correlacionam com uma microbiota saudável e diversificada e refletem um aporte suficiente de fibras alimentares provindas da alimentação. Indivíduos em estado de doença podem apresentar grandes porcentagens de filos bacterianos como Proteobacterias, Verrucomicrobia ou Fusobacteria, o que induz à disbiose intestinal. A translocação de produtos bacterianos pelo epitélio intestinal pode desencadear uma cascata inflamatória, que têm sido associada também à obesidade e resistência à insulina. A integridade da camada epitelial intestinal limita a penetração de antígenos e bactérias patogênicas e permite a passagem de líquidos, nutrientes e alguns microrganismos, o que a torna responsável pela mediação entre as bactérias intestinais e sistema linfoide. O teste de microbiota tem como principal objetivo avaliar a integridade e funcionalidade da barreira da mucosa intestinal. Em situações de disbiose, há o aumento da permeabilidade intestinal que pode acarretar consequências sistêmicas inflamatórias indesejadas, como quadros de alergias, diabetes, depressão, doenças neurodegenerativas, obesidade, diminuição da imunidade, além de doenças inflamatórias intestinais. O material coletado pela passagem das fezes é o mais acessível para o teste de microbiota, e permite estudos longitudinais e de amostras diárias. Para observar doenças inflamatórias intestinais e hepáticas, a avaliação da microbiota utilizando fezes fornece oportunidade única de estudo da fisiopatologia e os quadros clínicos da doença em ambos os aspectos. Por meio da análise das fezes, uma visão mais ampla de um conjunto de bactérias, vírus, parasitas ou genes funcionais pode ser obtida. As amostras de fezes são processadas por meio de extração de ácido nucleico seguida por síntese de DNA complementar e amplificação subsequente, utilizando misturas de iniciadores específicos para determinados organismos. Alguns dos métodos mais tradicionais se concentram na identificação das espécies e presença de toxinas patogênicas, enquanto métodos mais atuais buscam descrever e detectar comunidades inteiras. Para organismos conhecidos com condições de cultura delimitadas, a cultura ainda é o método de detecção mais sensível e a melhor maneira de obter a abundância absoluta de organismos viáveis, pois vários organismos encontrados nas fezes são suscetíveis à resistência a antibióticos, como Clostridium difficile e espécies de Enterococcus. O teste de microbiota emerge como estratégia na compreensão da diversidade da microbiota e na sua relação com as condições clínicas do hospedeiro, tem maior sensibilidade e reduz testes múltiplos. O teste de microbiota, portanto, é clinicamente útil e pode definir o tratamento de pacientes de forma otimizada, sendo possível detectar diversidade bacteriana, bactérias benéficas, patogênicas e relação entre os filos. Referências: Allaband, Celeste; Mcdonald, Daniel; Vasquez-Baeza, Yoshiki; et al. Microbiome 101: Studying, Analyzing, and Interpreting Gut Microbiome Data for Clinicians. Clinical Gastroenterology and Hepatology, v. 17, n. 2, p. 218–230, 2019. Disponível em: . Hills, Ronald; Pontefract, Benjamin; Mishcon, Hillary; et al. Gut Microbiome: Profound Implications for Diet and Disease. Nutrients, v. 11, n. 7, p. 1613, 2019. Disponível em: . Kataoka, Keiko. The intestinal microbiota and its role in human health and disease. The Journal of Medical Investigation, v. 63, n. 1.2, p. 27–37, 2016. Disponível em: .