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Alimentos Ultraprocessados e a Saúde Materno-Infantil: O que você precisa saber

Brunno Falcão

5 min

10 de abr. de 2023

Os alimentos ultraprocessados (AUP) são formulações industriais de substâncias derivadas de alimentos com pouco ou nenhum alimento integral e muitas vezes contendo adição de corantes, aromatizantes, emulsificantes, espessantes e outros aditivos cosméticos para torná-los palatáveis ou mesmo hiperpalatáveis. No entanto, muitos estudos relacionam o consumo desses alimentos a impactos negativos à saúde da população adulta, idosa e, principalmente, materno-infantil. Ainda que a qualidade nutricional dos alimentos ultraprocessados seja baixa, esses produtos alimentícios estão presentes atualmente no padrão alimentar de vários países de alta renda, representando mais da metade da energia alimentar consumida. No que se trata do Brasil, a Pesquisa de Orçamentos Familiares mostra que essa categoria de alimentos representa 19,7% da ingestão calórica diária dos brasileiros. Sendo assim, o consumo exacerbado de alimentos ultraprocessados está relacionado ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, câncer, depressão, distúrbios gastrointestinais, mortalidade por todas as causas e risco de doenças cardiometabólica. Esses impactos podem ser consequência da composição desses alimentos, visto que possuem um alto teor de sódio, energia, gorduras saturadas e trans, aditivos cosméticos e baixo teor de fibras.  Diante disso, é importante destacar que no contexto da gravidez, lactação e infância são considerados períodos críticos para o crescimento, desenvolvimento biológico e estabelecimento de comportamentos alimentares, além de serem uma janela de oportunidade para promoção da saúde e prevenção de doenças. Assim, o consumo de AUP pode estar associado a desfechos de saúde desfavoráveis no público composto por por gestantes, lactantes, recém-nascidos e lactentes. Sendo este, possivelmente, um reflexo da influência da indústria alimentícia na alimentação infantil, devido a grande disponibilidade no mercado de alimentos infantis industrializados predominantemente do tipo ultraprocessado.  Table of Contents Toggle Público Materno-Infantil: Idade Escolar Público Materno-Infantil: Amamentação Público Materno-Infantil: Gestantes Doenças Relacionadas ao Consumo de Ultraprocessados Embalagens dos Ultraprocessados Prática Clínica Referências Bibliográficas Público Materno-Infantil: Idade Escolar A maior associação do consumo de ultraprocessados com o avanço da idade, principalmente na idade escolar, está associado a uma menor escolaridade materna e menor renda. Uma vez que o ambiente alimentar familiar também é determinante para o consumo de AUP na infância.  Diante disso, é importante ressaltar que o consumo de AUP representa mais de 60% da ingestão calórica diária entre crianças em idade escolar no Reino Unido e nos Estados Unidos. No Brasil, um estudo populacional com crianças mostrou que 74% das crianças menores de 24 meses já haviam consumido algum tipo de AUP.  Diante disso, a literatura mostra que uma introdução precoce de AUP está relacionada à baixa qualidade da dieta, uma vez que esses produtos alimentícios apresentam menor quantidade de fibras, vitaminas e maior densidade energética, açúcares livres, gorduras totais e sódio. Ademais, vários desfechos de saúde estão associados ao consumo de AUP. Exemplificando, além da qualidade nutricional da dieta, também foi mostrado uma relação do consumo de AUP com o excesso de peso, adiposidade, alterações no perfil lipídico, práticas alimentares inadequadas, doenças respiratórias, cárie dentária e até toxicidade relacionada à ingestão de plásticos presentes nas embalagens de AUP. Com isso, o excesso de adiposidade e peso associam-se a  um risco aumentado de comorbidades relacionadas ao desenvolvimento de doenças não transmissíveis na idade adulta, o que pode resultar em diminuição da expectativa de vida, perda de produtividade e aumento dos custos para o sistema de saúde. Na tentativa de relacionar o consumo de AUP e o excesso de peso e adiposidade, um estudo apontou que o consumo desses alimentos levou ao aumento da ingestão energética e ao ganho de peso em relação aos alimentos integrais. Ou seja, a alta densidade energética do AUP é o principal fator determinante para essa associação. Público Materno-Infantil: Amamentação Um estudo mostrou que a introdução de 4 ou mais AUP em crianças amamentadas associou-se a um impacto negativo na duração do aleitamento materno exclusivo. Consequentemente esse dado relacionou-se a um aumento das chances de resultados negativos para a saúde dessas crianças. Melhor explicando, a amamentação traz benefícios tanto para a mãe quanto para o filho. Crianças amamentadas por períodos mais longos têm menor risco de serem acometidas por doenças infecciosas, mortalidade, problemas dentários e têm melhores níveis de quociente de inteligência (QI) do que aquelas que são amamentadas por períodos mais curtos, ou não amamentadas. Além de que novas evidências também sugerem que a amamentação pode proteger contra sobrepeso e diabetes. Ademais, para as mulheres lactantes, a amamentação pode prevenir o câncer de mama, aumentar o intervalo entre os partos e reduzir o risco de desenvolver diabetes ou câncer de ovário. Público Materno-Infantil: Gestantes A saúde das gestantes e, consequentemente, o crescimento e desenvolvimento da criança podem ser impactados positivamente por uma alimentação materna saudável nas fases pré-gestacional, gestacional e de lactação. Por outro lado, durante a gravidez a ingestão de gordura e açúcar de adição pode estar associada, respectivamente, com aumento da adiposidade infantil e maior peso/comprimento infantil aos 6 meses de vida. Perfil o qual mostra o impacto adverso do consumo materno de AUP no crescimento pós-natal. Outrossim, o consumo de AUP associa-se em maior adiposidade corporal total em lactentes. Doenças Relacionadas ao Consumo de Ultraprocessados A literatura mostra que  fatores exógenos como dieta e amamentação podem influenciar o desenvolvimento de doenças respiratórias, as quais são cada vez mais frequentes na infância. Vale destacar que os estudos envolvendo doenças respiratórias ainda são divergentes, ou seja, alguns associam positivamente o consumo de AUP e doenças respiratórias, enquanto outros não associam.  Outra doença associada ao consumo de AUP foi o desenvolvimento de cárie precoce na infância. Dados mostram que a cárie dentária é a doença crônica mais prevalente em crianças pré-escolares em todo o mundo e tem sérios impactos negativos na qualidade de vida. Essa associação provavelmente se deve ao alto teor de açúcares livres nos AUP. Embalagens dos Ultraprocessados Além dos efeitos negativos à saúde já descritos, é importante destacar que muitos desses produtos são frequentemente embalados em materiais considerados fontes de desreguladores endócrinos, como ftalatos e bisfenol, associados a desfechos adversos à saúde, principalmente em períodos de alta desenvolvimento celular. A exposição ao Bisfenol A está relacionado com risco aumentado de diabetes, obesidade geral e abdominal e hipertensão, enquanto os ftalatos demonstraram estar relacionados com diabetes e resistência à insulina. Ainda, a ingestão de alumínio que está em maior concentração em aditivos alimentares, aromatizantes e materiais de embalagem, pode estar associada a doenças neurodegenerativas e a possíveis consequências para a saúde de adultos e crianças. Outrossim, estudos identificaram possíveis relações entre uma dieta rica em AUP, disbiose e desenvolvimento de neuroinflamação, que pode afetar a gravidez por meio de seu efeito na saúde mental materna. Por fim, apesar dos poucos estudos na área relacionados à fase de lactação e gravidez, os dados apresentados aqui mostraram um impacto negativo na saúde associado ao alto consumo de AUP nos três ciclos da vida: infância, fase adulta e velhice. As consequências se repercutem por várias áreas como nos indicadores nutricionais, mas também nas alterações metabólicas, presença de doenças e toxicidade. Prática Clínica Intervenções com o objetivo de reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados devem ser implementadas para melhorar a saúde nutricional e bucal das crianças. Além disso, evitar esses alimentos é uma indicação do Guia Alimentar para a População Brasileira que deve ser estabelecida desde os primeiros anos de vida.  Referências Bibliográficas Sugestão de leitura: Alimentos ultraprocessados e mortalidade no Brasil  Artigo: AUP e saúde materno-infantil : Oliveira PG de, Sousa JM de, Assunção DGF, et al. Impacts of Consumption of Ultra-Processed Foods on the Maternal-Child Health: A Systematic Review. Frontiers in Nutrition. 2022;9. doi:https://doi.org/10.3389/fnut.2022.821657 Classifique esse post #maternoinfantil #nutrição #consumodeultraprocessados #crianças #ultraprocessados