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Sono e Obesidade: É possível correlacionar?

Brunno Falcão

4 min

19 de mai. de 2024

A relação entre sono e obesidade é complexa e multifacetada. O sono desempenha um papel crucial na regulação metabólica e hormonal, afetando diretamente os processos de ingestão de alimentos e gasto energético. Evidências crescentes indicam que a privação crônica de sono está associada a uma maior probabilidade de desenvolver obesidade, bem como outras condições crônicas, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares.  A diminuição na qualidade e duração do sono tem se tornado cada vez mais prevalente na sociedade moderna , em parte devido a mudanças no ambiente socioeconômico e no estilo de vida, contribuindo assim para o aumento das taxas de obesidade. Além disso, o aumento alarmante das taxas de obesidade ao longo das últimas décadas está intrinsecamente ligado a mudanças ambientais que promovem hábitos alimentares desfavoráveis e reduzem a atividade física. Embora a má alimentação e a falta de exercício físico sejam fatores conhecidos na epidemia de obesidade, estudos recentes destacam o papel significativo da privação de sono como um potencial contribuinte para esse cenário. A compreensão dessas inter-relações entre sono e obesidade é crucial para desenvolver estratégias eficazes de prevenção e intervenção para mitigar os riscos à saúde associados a essas condições. Duração do sono e IMC O estudo do Wisconsin Sleep Cohort revelou uma associação complexa entre a duração do sono e o Índice de Massa Corporal (IMC). Observou-se que a redução da duração do sono abaixo de 8 horas estava diretamente ligada a um aumento proporcional no IMC. Essa relação foi confirmada após controle para fatores de confusão, destacando a importância da quantidade adequada de sono na regulação do peso corporal. Impacto Hormonal na Regulação do Peso Além da associação direta com o IMC, foram identificadas alterações hormonais significativas. Reduções nos níveis de leptina, um hormônio supressor do apetite, foram observadas em indivíduos com duração de sono insuficiente, en quanto os níveis de grelina, um hormônio estimulante do apetite, aumentaram. Essas mudanças hormonais podem influenciar os padrões alimentares e contribuir para o ganho de peso. Restrição de sono e leptina e grelina Estudos têm mostrado que a restrição prolongada do sono afeta diretamente a regulação hormonal, com consequências significativas para o controle do apetite e metabolismo energético. A privação parcial de sono resulta em diminuição dos níveis de leptina, o que pode levar a uma menor sensação de saciedade e aumento da ingestão alimentar. Por outro lado, os níveis de grelina tendem a aumentar, aumentando assim o apetite e a busca por alimentos. Influência da Restrição de Sono nos Padrões Alimentares Além das mudanças hormonais, a restrição de sono também tem sido associada a alterações nos padrões alimentares. Indivíduos privados de sono muitas vezes relatam uma maior preferência por alimentos ricos em calorias, especialmente carboidratos e gorduras, o que pode contribuir ainda mais para o desequilíbrio energético e o ganho de peso. Consequências Metabólicas da Restrição de Sono Além dos efeitos no apetite e padrões alimentares, a restrição de sono também pode ter implicações metabólicas significativas. Estudos têm demonstrado que a privação de sono pode levar a alterações na regulação da glicose e sensibilidade à insulina , aumentando assim o risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2 e outras condições metabólicas relacionadas à obesidade. Aumentar o tempo de sono pode ser uma medida preventiva contra o sobrepeso e a obesidade? Além das evidências que indicam uma ligação entre a falta de sono e o ganho de peso, surge uma questão fundamental: será que aumentar o tempo de sono é uma solução eficaz para combater o excesso de peso e a obesidade? A resposta a essa pergunta não é simples e envolve diversas perspectivas que podem orientar futuras investigações. Em primeiro lugar, é importante reconhecer que aumentar o tempo de sono não é uma solução trivial. Estudos epidemiológicos têm demonstrado um aumento na prevalência de adultos e adolescentes em todo o mundo que relatam períodos de sono curtos. Fatores como exigências ocupacionais, como trabalho por turnos e longos deslocamentos, assim como atividades de lazer, como uso de internet, smartphones e videogames, estão associados à redução do tempo de sono. Além dos fatores comportamentais, existem também várias condições clínicas que contribuem para a má qualidade do sono, como insônia, apneia do sono e síndrome das pernas inquietas, afetando significativamente uma parcela da população adulta. Atualmente, não existem evidências conclusivas de que melhorar a qualidade do sono possa resultar em perda de peso. A prevenção da obesidade é um desafio multifacetado que requer consideração de diversas vias biológicas e comportamentais, incluindo o sono. No entanto, são necessárias mais pesquisas para determinar se intervenções focadas em aumentar a duração do sono podem ser eficazes no combate à obesidade. Essas pesquisas enfrentam desafios, como a necessidade de longos períodos de observação para detectar diferenças mensuráveis no peso, bem como garantir a adesão dos participantes aos protocolos de estudo. A lém do aumento da duração do sono, outras estratégias, como a promoção da atividade física, modificações ambientais e até mesmo a introdução de sestas, podem ser consideradas para melhorar tanto a qualidade quanto a quantidade do sono. Prática Clínica Para ajudar os pacientes a melhorar a qualidade do sono e potencialmente reduzir o risco de sobrepeso e obesidade, é fundamental uma abordagem multifacetada. Comece com uma avaliação detalhada do padrão de sono do paciente e forneça educação sobre higiene do sono. Ofereça orientações dietéticas que promovam um sono saudável, sugira estratégias comportamentais de relaxamento e considere suplementos naturais, se apropriado. Encaminhe para especialistas em distúrbios do sono, se necessário. Essa abordagem holística pode ajudar os pacientes a melhorar sua qualidade de sono e potencialmente reduzir os riscos associados à obesidade. CONTINUE ESTUDANDO... Sugestão de leitura: Restrição de Sono na Obesidade e Diabetes Sugestão de leitura: Higiene do Sono: Qual a importância? REFERÊNCIAS Bayon, V., Leger, D., Gomez-Merino, D., Vecchierini, M. F., & Chennaoui, M. (2014). Sleep debt and obesity. Annals of Medicine , 46 (5), 264–272. https://doi.org/10.3109/07853890.2014.931103