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Acompanhamento Clínico da Gestante pós Fertilização in vitro (FIV)

Brunno Falcão

5 min

17 de jul. de 2024

A assistência nutricional e obstétrica de excelência é imprescindível para uma gestante pós Fertilização in vitro ( FIV), pois trata-se de uma gestação em situação especial.  Em 45 anos, a fertilização in vitro gerou mais de 10 milhões de bebês no mundo, e estima-se que mais de 200 mil bebês nascem anualmente através de tecnologias de reprodução assistida. Ainda, vale ressaltar que essas técnicas utilizam tecnologias avançadas. Apesar de muitos profissionais ignorarem essa diferença, a gestação pós-FIV é única por vários motivos, incluindo: A existência de um fator prévio de infertilidade; O uso frequente de múltiplas medicações, que pode levar a gestante a iniciar a gravidez com disbiose; O maior risco de ocorrer uma gestação gemelar; O estresse psicológico gerado por todo o tratamento para alcançar a gravidez. Riscos e Cuidados na Gestação Pós-FIV A literatura aponta que os riscos de uma gestação pós-FIV para a mãe incluem hipertensão induzida pela gravidez, anomalias placentárias, diabetes gestacional e morbidade materna.  Para o concepto, os principais riscos são prematuridade, baixo peso ao nascer, serem pequenos ou grandes para a idade gestacional, além de anomalias congênitas e cardiovasculares. Diante desses riscos, é crucial uma programação metabólica adequada. Além disso, os eventos epigenéticos de doenças a longo prazo também são mais frequentes em gestações por FIV . Segundo a literatura atual, existem técnicas que podem minimizar esses possíveis efeitos, como a melhoria da dieta e a redução de desreguladores endócrinos e toxinas. Portanto, muitas vezes, o casal precisa se preparar e esperar um tempo antes de tentar engravidar, o que pode ser frustrante. Ademais, os medos e preconceitos relacionados aos riscos para a gestante e o bebê agravam essa situação.  Diante disso, o profissional deve ter muita empatia no acompanhamento. Alertas Cruciais na Gestação Pós-FIV Pontos de alerta importantes para a gestante pós-FIV incluem mulheres com idade superior a 35 anos e o motivo da infertilidade  (endometriose, SOP, baixa reserva ovariana), pois esses fatores guiarão o tratamento durante toda a gestação. Além disso, também é imprescindível saber qual protocolo de medicações foi utilizado  (ciclo artificial ou ovulatório, por exemplo). Essas informações são essenciais para a definição do tratamento. Outro ponto de atenção na gestação pós-FIV é a associação do endométrio fino com riscos de distúrbios hipertensivos da gestação, como a pré-eclâmpsia . Nesses casos, trabalhar o endométrio da mulher antes do início da gestação é crucial. Ademais, a endometriose é um fator de risco importante para a pré-eclâmpsia, devido ao desequilíbrio inflamatório que impacta diretamente o sistema imunológico. Dessa forma, mulehres com endometriose têm risco aumentado de hipertensão arterial.  Portanto, não é apenas a técnica de fertilização que define o risco da gravidez; as características do tratamento, a preparação pré-gestacional e os cuidados durante a gestação determinam o resultado obstétrico. Importância do Acompanhamento Nutricional Inicial Apesar de estarem em um processo de reprodução assistida, muitas vezes as mulheres se encontram desassistidas na realidade. Muitos obstetras só atendem a paciente após a 10ª semana de gestação, deixando-a sem informações importantes sobre nutrição adequada durante esse período crucial. Portanto, é es sencial que o nutricionista acompanhe desde o início da gestação e até mesmo antes da coleta dos gametas.  Cada uma dessas fases requer orientação nutricional específica. No período pré-gestacional, é recomendada uma dieta saudável com baixo índice glicêmico, aumentando o consumo de frutas e verduras . Além disso, também é indicada a suplementação de complexo B e doadores do grupo metil , além do possível uso individualizado de antioxidantes e fitoterápicos. Prevenção e Tratamento da Pré-Eclâmpsia Um dado crucial relacionado ao período pós-FIV é a pré-eclâmpsia. Esta condição envolve dois estágios que começam bem antes do diagnóstico. A pré-eclâmpsia é pré-definida no início da gestação. Em primeiro lugar, o primeiro estágio envolve placentação comprometida e redução da perfusão placentária , resultando em estresse oxidativo e inflamação subclínica. Em seguida, o segundo estágio é caracterizado por dano e disfunção endotelial. Além disso, para tratar o endométrio fino, pode-se utilizar precursores de óxido nítrico.  Entre os fatores dietéticos que influenciam na prevenção da pré-eclâmpsia, destaca-se o nível de vitamina D abaixo de 50 ng/mL , por ser um importante fator de risco. Além de apoiar a absorção de cálcio e regular a pressão arterial, a vitamina D também desempenha papéis importantes no desenvolvimento placentário e na regulação da inflamação. Ademais, o alto nível de ferro sérico mostra-se como o principal fator relacionado à pré-eclâmpsia.  O baixo zinco também parece aumentar os riscos. Embora existam estudos que afirmam que a obesidade não é um fator de risco para o sucesso imediato da FIV, o objetivo principal da fertilização é alcançar uma gravidez bem-sucedida até o nascimento do bebê . Portanto, a obesidade deve ser tratada idealmente antes da gravidez. Estratégias Nutricionais na Prevenção da Pré-Eclâmpsia A nutrição pode intervir na prevenção da pré-eclâmpsia pós-FIV de diversas maneiras. Em primeiro lugar, através do tipo de dieta, sendo recomendadas a dieta DASH e a dieta mediterrânea , sem o consumo de alimentos ultraprocessados. Além disso, podemos utilizar nutrientes como doadores do grupo metil, vitaminas A, C e E, e precursores de óxido nítrico como L-citrulina e L-arginina.  Ademais, o uso de suplementos também pode ser necessário, como a suplementação de cálcio elementar (porém, esta só é eficaz na paciente que possui deficiência desse nutriente), vitamina D e selênio. Além disso, o acompanhamento nutricional também auxilia na modulação dos fatores de risco modificáveis , como a obesidade, a disglicemia e a dislipidemia. Adicionalmente, podem ser estabelecidas metas para a pré-gestação, como a prática de pelo menos 150 minutos de atividade física semanalmente . Portanto, a avaliação bioquímica completa , que inclui avaliações glicêmicas, tireoidianas, nutricionais e metabólicas, na gestação pós-FIV, também é um fator relevante. É essencial que os valores estejam adequados para minimizar os riscos e garantir uma gestação segura. Por fim, havendo risco de pré-eclâmpsia ou em casos de diagnóstico pré-existente, as intervenções são sempre individualizadas. Prática Clínica Portanto, a conduta na prática clínica durante a gestação pós-FIV demanda uma abordagem especializada e integral. Essas gestações apresentam características únicas, como o histórico de infertilidade prévio, o uso extensivo de medicamentos que podem afetar o microbioma intestinal e um maior potencial para gestações gemelares, além do estresse psicológico associado ao tratamento. Dessa forma, a programação metabólica adequada desde o início da gestação é crucial, com foco na melhoria da dieta e na redução de toxinas, visando minimizar os potenciais efeitos adversos a longo prazo. Além disso, o acompanhamento nutricional precoce, que abrange desde o período pré-concepcional até o pós-implantação, desempenha um papel fundamental na mitigação de riscos e na promoção de uma gestação saudável. Continue Estudando... Sugestão de Estudo: Novas Tecnologias em Reprodução Assistida Sugestão de Estudo: Hormônios e Fertilidade: Perspectivas Atuais Sugestão de Estudo: Envelhecimento Ovariano Prematuro: Já ouviu falar? Referências Bibliográficas AHMADI, Hamid; AGHEBATI-MALEKI, Leili; RASHIDIANI, Shima; CSABAI, Timea; NNAEMEKA, Obodo Basil; SZEKERES-BARTHO, Julia. Long-Term Effects of ART on the Health of the Offspring.   International Journal Of Molecular Sciences , [S.L.], v. 24, n. 17, p. 13564, 1 set. 2023. MDPI AG. Liu, X., Wang, J., Fu, X., Li, J., Zhang, M., Yan, J., Gao, S., & Ma, J. (2021). Thin endometrium is associated with the risk of hypertensive disorders of pregnancy in fresh IVF/ICSI embryo transfer cycles: a retrospective cohort study of 9,266 singleton births.   Reproductive biology and endocrinology : RB&E,  19(1), 55.