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Aspectos Endócrinos da Obesidade

Os hormônios compreendem uma variedade de moléculas que desempenham um papel crucial na comunicação celular, incluindo aquelas secretadas pelas glândulas endócrinas. Para exercerem seus efeitos, os hormônios requerem a presença de receptores específicos nas células-alvo. Na ausência desses receptores, o hormônio não pode desencadear uma resposta celular e permanece inativo.


Além disso, os hormônios desempenham um papel fundamental na fisiologia masculina, sendo essenciais para o funcionamento adequado do organismo. Embora seja mais comum associar certos hormônios à biologia masculina, é importante destacar que algumas mulheres com cromossomos XY também podem apresentar características físicas e hormonais tipicamente masculinas, apesar de serem geneticamente mulheres. No entanto, é crucial compreender que a produção hormonal por si só não é suficiente; é necessária a liberação adequada dos hormônios nos locais apropriados por meio dos receptores hormonais.


Obesidade


A obesidade desencadeia alterações hormonais, resultando no aumento do volume das células de gordura, que se tornam altamente disfuncionais e passam a produzir citocinas, conhecidas como adipocinas. Essas substâncias interagem e influenciam as camadas hormonais, afetando tanto a produção quanto a recepção dos hormônios em todo o corpo. Essas mudanças hormonais levam à seletividade de depósito de gordura e à redução do tecido adiposo marrom, contribuindo para o desenvolvimento da obesidade. Essa relação é bidirecional, estabelecendo ciclos viciosos no processo.


A hipertrofia do adipócito resulta em uma hipertrofia disfuncional e inflamação em diferentes eventos metabólicos. A inflamação ocorre principalmente devido à secreção de adipocinas e à produção de produtos inflamatórios pelas células adiposas. A hipertrofia do tecido adiposo está associada à redução da quantidade de gordura marrom, enquanto a concentração de adiponectina, uma proteína com efeitos anti-inflamatórios, diminui nos tecidos pró-inflamatórios. Ao longo do tempo, o organismo desenvolve resistência à leptina, um hormônio relacionado ao controle do apetite, e diminui a sensibilidade à adiponectina. Além disso, o aumento do clareamento da gordura marrom tende a ser mais significativo em indivíduos com predisposição ao ganho de peso.


Eixo Sexual 


Em todo estado patológico existe um aumento do estradiol às custas da testosterona. Na obesidade, ocorre uma redução da kisspeptina, que estimula o hormônio liberador de gonadotropina (GnRH). Vários fatores influenciam no hipogonadismo, incluindo insulina elevada, alta glicemia, hormônios sexuais e tecido adiposo.

Além disso, há uma relação entre testosterona e ocitocina. A testosterona pode aumentar a ocitocina, auxiliando na redução da adipocitocina. Quando há aumento do IMC não muscular, ocorre uma redução da testosterona. A baixa testosterona é um fator independente para o ganho de gordura, ou seja, quanto menor a testosterona, maior o percentual de gordura.


MOSH


A esteroidogênese de hormônios revela se há desvio da produção de testosterona para outros andrógenos pelo "back door". O impacto da testosterona no Alzheimer resulta em aumento da gordura, agravando a doença devido ao efeito glicêmico e à redução causada pela aromatização da testosterona pelo estradiol dentro do cérebro.


Tratamento


Um IMC acima de 30, ou IMC acima de 27 associado a uma testosterona total menor de 50 e alterações clínicas e metabólicas, podem indicar hipogonadismo. O tratamento consiste na prescrição de testosterona para diminuir o peso, aguardando para verificar se, ao perder peso, os níveis de testosterona aumentam. 


No caso do aumento da testosterona, observa-se que a obesidade pode tê-la reduzido, ou vice-versa; por outro lado, a baixa testosterona pode ter contribuído para a obesidade. O hipogonadismo funcional da obesidade e a testosterona têm maior efeito na redução de gordura, e a resposta ao tratamento é mais significativa.


Mulheres


Mulheres com obesidade frequentemente apresentam aumento nos níveis de androgênios, especialmente quando associado à síndrome dos ovários policísticos (SOP), o que resulta em um significativo aumento de testosterona, contribuindo assim para uma série de alterações metabólicas. A queda nos níveis de testosterona em mulheres com SOP pode indicar disfunção metabólica, ampliando os desafios clínicos nesse contexto. 


Nesse contexto, a aldosterona emerge como uma das principais causas de hipertensão, com sua elevação associada a uma maior sensibilidade e remodelamento cardíaco. Além disso, o aumento do consumo de sal, independentemente da obesidade, é reconhecido como um fator de risco significativo, podendo desencadear sintomas de fraqueza e induzir a busca por outros alimentos. Estudos sugerem que o consumo excessivo de sal pode elevar a produção de cortisol.


Cortisol


O cortisol, hormônio associado ao estresse, exerce efeitos sobre o tecido adiposo marrom, diminuindo sua capacidade de produzir calor e promovendo um processo conhecido como esbranquiçamento, relacionado à quebra aguda de gorduras. Embora o nível basal de cortisol geralmente se mantenha dentro da faixa normal ou até mesmo reduzido, observa-se um aumento significativo durante a noite e em resposta a estímulos estressantes, resultando em uma resposta hiperativa do organismo. 


A diminuição da globulina, responsável por transportar o cortisol no sangue, resulta em níveis elevados de cortisol livre, correlacionados com o índice de massa corporal (IMC). Indivíduos com níveis mais altos de cortisol frequentemente apresentam uma propensão aumentada a comer em excesso, o que pode ser atribuído ao aumento do IMC.


Adrenais


As glândulas adrenais, responsáveis pela produção de adrenalina e noradrenalina, estão associadas à hiperatividade do sistema nervoso simpático. As catecolaminas liberadas por essas glândulas ativam o tecido adiposo marrom, desempenhando um papel importante na regulação da temperatura corporal. É interessante notar que, ao contrário da termogênese muscular, a ativação do tecido adiposo marrom parece ocorrer de forma independente. Desde a infância, pode-se observar uma resistência à ação das catecolaminas, o que pode ser uma causa subjacente do ganho de peso e outras condições relacionadas.


Tireoide 


A tireoide, quando aumentada, pode levar a uma condição conhecida como tireotoxicidade, caracterizada pela produção excessiva de hormônios tireoidianos. Isso pode resultar na perda do controle do metabolismo basal e em alterações nos receptores dos hormônios tireoidianos, afetando a termogênese e contribuindo para a passividade metabólica. Embora haja uma associação entre os níveis do hormônio estimulador da tireoide (TSH) e o peso corporal, não está claro se essa relação é de causa e efeito.


A relação entre a tireoide e a obesidade também pode ser observada na marmorização do tecido adiposo branco, além da associação genética entre os níveis de TSH e o índice de massa corporal (IMC). No entanto, ainda não se estabeleceu uma relação causal direta entre esses fatores e a obesidade.


Tratamento


O hipotireoidismo e a obesidade podem potencializar-se, exigindo uma abordagem cuidadosa para o tratamento. Em alguns casos, a administração de levotiroxina em doses adequadas pode ajudar a antagonizar essa interação sinérgica. Indivíduos com a doença de Hashimoto têm uma probabilidade de 50% de desenvolver hipotireoidismo, e esse risco dobra quando há obesidade, destacando a importância do tratamento para reduzir o TSH estimulante da tireoide.


O uso de metformina tem sido considerado uma opção terapêutica para reduzir o TSH e os marcadores inflamatórios associados à obesidade. Além disso, níveis mais elevados de T3, mesmo dentro da faixa de normalidade, podem ajudar na perda de peso. Embora o TSH elevado esteja associado à obesidade, não há confirmação de sua causalidade direta nos resultados.


Paratireóide e PTH 


O hormônio paratireoidiano (PTH) desempenha um papel crucial na absorção e ativação da vitamina D no organismo. No entanto, devido à sua ampla distribuição no corpo, a vitamina D pode tornar-se deficiente. Essa deficiência pode acarretar consequências significativas, como a redução da adipogênese, que inibe a hipertrofia das células de gordura e diminui a disfunção metabólica em indivíduos com obesidade. O nível de 1,25-di-hidroxivitamina D pode ser um indicador mais confiável da pré-deficiência de vitamina D em pacientes obesos, incluindo aqueles submetidos à cirurgia bariátrica.


GH 


O hormônio do crescimento (GH) tende a ser reduzido na obesidade, e cada aumento de um ponto no Índice de Massa Corporal (IMC) está associado a uma redução de 6% nos níveis de GH nas próximas 24 horas. Essa diminuição pode ter efeitos benéficos, como a redução da gordura visceral e das doenças hepáticas. 


Em casos de inflamação associada à obesidade, o fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1) pode ser um marcador da doença, especialmente na presença de alterações inflamatórias. Independentemente do peso corporal, a ingestão de carboidratos pode diminuir a função do GH. A deficiência de GH no fígado está relacionada à lipogênese. Além disso, o IGF-1 intramuscular tende a ser reduzido na obesidade.


Músculos


Os músculos desempenham um papel crucial no metabolismo e na regulação do peso corporal. A irisina, um hormônio liberado durante a atividade física, tem a capacidade de aumentar a termogênese e promover a lipólise, contribuindo assim para a queima de gordura. Além disso, a interleucina-6 (IL-6), também secretada pelos músculos em resposta ao exercício, pode ajudar a reduzir a inflamação e diminuir o acúmulo de tecido adiposo visceral, proporcionando benefícios adicionais para a saúde metabólica.


Por outro lado, as miocinas são proteínas liberadas pelos músculos durante a contração muscular e desempenham funções específicas no organismo. No entanto, a resistência a essas miocinas pode afetar sua capacidade de atuação. Além disso, o cortisol e a redução dos hormônios sexuais podem interferir na capacidade do corpo de queimar gordura. Nos atletas, a gordura desempenha um papel crucial como fonte de energia, sendo armazenada e utilizada conforme necessário. Entretanto, a presença de hipóxia nas células musculares pode reduzir a capacidade de queima de gordura, resultando em marcadores negativos.


Prática Clínica


Na prática clínica, ao buscar a perda de peso, aumentar a massa muscular de forma saudável, reduzir a resistência à insulina e prevenir o reganho de peso, sugerem-se os seguintes suplementos:


  • Whey altas doses - ioWhey (taminoacidemia) ou hidrolisado

  • Creatina 3-15g/dia

  • Leucina (ou BCAA 8:1:1) 15-20g/dia

  • Glutamina altas doses (15-20g/dia)

  • Pepti Strong 2,4-20g/dia

  • Urolitina A 500-1000mg/dia

  • TWK 10 30-90bi/dia

  • Ocitocina 20-40 UI/dia intranasal

  • Ácido fosfatídico 1-1,5g/dia

  • Ácido ursólico 300-500mg/dia

  • Ômega 3 altas doses (DHA > 1600mg/dia / EPA > 101

  • Yolked 6-12g/dia

  • Promino EAAs 12g/dia / Rejuvenate Muscle Activator


A inibição do TNF-α promove a restauração muscular, enquanto a redução da miostatina está associada ao aumento da termogênese. O Nucleotídeo de Peptídeo Natural (NPN) aumenta a síntese proteica, reduz a atrofia muscular e potencializa a queima de gordura. Apesar dos benefícios, a urolitina-A pode ser cara, e a glutamina, em doses superiores a 20g por dia, pode aumentar a testosterona e reduzir o cortisol. Por sua vez, a administração de ocitocina pode reduzir a obesidade, diminuindo a ingestão alimentar, o ganho de peso e a gordura corporal. Estudos mostraram que a administração intranasal de ocitocina resultou em um ganho de 2,2% de massa muscular.


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Referências Bibliográficas


Stratos I, Behrendt AK, Anselm C, Gonzalez A, Mittlmeier T, Vollmar B. Inhibition of TNF-α Restores Muscle Force, Inhibits Inflammation, and Reduces Apoptosis of Traumatized Skeletal Muscles. Cells. 2022 Aug 3;11(15):2397. doi: 10.3390/cells11152397. PMID: 35954240; PMCID: PMC9367740.

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