Compulsão Alimentar e a Ingestão de Álcool: Existe relação?
Brunno Falcão
4 min
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4 de jul. de 2024
Os transtornos alimentares (TA) são condições psiquiátricas caracterizadas por alterações no comportamento alimentar que afetam o consumo e/ou absorção de alimentos . Sua etiologia é multifatorial e, além disso, são mais prevalentes em mulheres, sendo marcados por uma preocupação excessiva com o corpo e peso, comprometendo tanto a saúde física quanto o desenvolvimento biopsicossocial dos indivíduos. Entre os TA, fatores como baixa autoestima, histórico de trauma infantil, obesidade na infância, maturação puberal precoce, predisposição genética e vulnerabilidades sociais aumentam o risco de seu desenvolvimento. Além disso, estão associados a uma série de problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, transtornos de personalidade e abuso de substâncias psicoativas, especialmente álcool. Mais especificamente, a busca por regular as emoções negativas e a tendência a agir impulsivamente são comportamentos que influenciam a ocorrência da compulsão alimentar e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Portanto, o consumo excessivo de álcool e a compulsão alimentar são dois dos problemas de saúde mais graves entre os jovens e, consequentemente, estão associados a vários problemas físicos, psicológicos, acadêmicos e sociais. Associações Sociodemográficas e Aspectos Clínicos Os transtornos alimentares e o consumo de álcool apresentam variações significativas em relação à idade, etnia, estado civil e comportamentos associados . Em adultos jovens, especialmente até os 38 anos, há uma maior incidência de distúrbios alimentares e consumo de álcool. Por outro lado, estudos mostraram que episódios de compulsão alimentar são mais prevalentes em indivíduos mais velhos, com idades entre 34 e 54 anos. Em termos étnicos, há um predomínio de TA entre mulheres brancas que consomem bebidas alcoólicas, embora pesquisas no Brasil tenham encontrado uma maior prevalência entre pardos/negros. Quanto ao estado civil, uma pesquisa envolvendo 2.458 indivíduos revelou que aqueles com transtorno da compulsão alimentar (TCA) tinham maior probabilidade de serem solteiros ou de terem passado por divórcio. Além disso, esses indivíduos apresentaram duas vezes mais chances de relatar sintomas de transtorno por uso de álcool. O estudo também destacou a frequência significativa de episódios de compulsão alimentar , como bulimia nervosa (BN), TCA e anorexia nervosa do tipo compulsivo-purgativo, associados ao consumo simultâneo de álcool . Outros fatores relevantes incluem inatividade física e obesidade, com uma alta proporção de pessoas com episódios de compulsão alimentar sendo sedentárias (64,6%) e obesas (45,9%). Ademais, práticas como dietas restritivas, jejum e purgação foram associadas ao uso problemático de álcool . A insatisfação com o peso e a imagem corporal também foi um tema relevante, com mulheres que fazem uso excessivo de álcool apresentando altos índices de insatisfação com o peso (36%) e com o corpo (34%), além de sentimentos de culpa ao comer (45,5%), medo de perder o controle sobre a dieta (30%) e um forte desejo de perder peso (50%). Entre mulheres, o uso excessivo de álcool correlacionou-se com insatisfação com o peso e episódios de compulsão alimentar, enquanto entre homens associou-se com excesso de peso, vômitos e uso de laxantes. Influência da Genética e do Ambiente na Compulsão Alimentar Os genes, de fato, desempenham um papel crucial na predisposição a características que podem influenciar comportamentos de risco, como alimentação desordenada e consumo de álcool. Acredita-se, além disso, que ambas as condições compartilhem vias neurais comuns . Por exemplo, um estudo nos EUA com adolescentes de 16 a 17 anos, de ambos os sexos, identificou correlações genéticas e fenotípicas significativas entre o uso de álcool, o desejo por um corpo magro e a insatisfação corporal, sendo essas correlações mais acentuadas nas mulheres. Ademais, observou-se que essas associações não são exclusivas e podem envolver também a compulsão alimentar e comportamentos compensatórios. Em termos de fatores ambientais, as experiências familiares desempenham um papel crucial no desenvolvimento de transtornos alimentares e na propensão ao uso de substâncias psicoativas em crianças. De acordo com estudos, a presença de depressão e o uso de substâncias psicoativas pelos pais aumentam o risco de envolvimento das crianças com álcool e problemas alimentares . Outro fator ambiental significativo são as experiências de trauma, especialmente associadas a casos de violência e estresse pós-traumático. Portanto, esses achados destacam a complexidade das influências genéticas e ambientais nas interações entre transtornos alimentares e o consumo de álcool , ressaltando, assim, a importância de abordagens integradas para prevenção e tratamento. Emoções e Impulsividade Emoções negativas e impulsividade são comportamentos frequentemente associados tanto à compulsão alimentar quanto ao consumo excessivo de álcool . Além disso, indivíduos que consomem álcool têm maior propensão a adotar comportamentos impulsivos, como compulsão alimentar, especialmente quando enfrentam emoções negativas. Um estudo analisou o consumo de álcool e a compulsão alimentar entre adolescentes de ambos os sexos, revelando que a desregulação emocional prediz o uso excessivo de álcool, principalmente em adolescentes do sexo masculino, devido à dificuldade em controlar impulsos ou lidar com emoções negativas. Assim, a relação entre desregulação emocional e comportamentos impulsivos destaca a importância de intervenções que abordem tanto o controle emocional quanto a impulsividade. Prática Clínica O nutricionista desempenha um papel crucial na abordagem dos transtornos alimentares e no consumo de álcool, que frequentemente estão interligados, ao identificar padrões alimentares disfuncionais e oferecer orientações nutricionais adequadas para promover a saúde física e psicológica dos pacientes. Além disso, ao reconhecer as associações entre o consumo excessivo de álcool e episódios de compulsão alimentar, o nutricionista pode integrar abordagens que considerem tanto a regulação emocional quanto estratégias de modificação comportamental. Desse modo, é possível minimizar comportamentos impulsivos e promover hábitos alimentares e de consumo de bebidas mais saudáveis. Portanto, essa abordagem integrada é essencial para mitigar os impactos negativos na saúde desses pacientes, proporcionando, assim, um suporte holístico e personalizado para melhorar sua qualidade de vida. Continue Estudando... Sugestão de Estudo: Hipertrofia Muscular e Álcool Sugestão de Estudo: Regulação Emocional no Transtorno de Compulsão Alimentar Sugestão de Estudo: Distorção de Imagem em Crianças e Adolescentes Referências Bibliográficas AZEVEDO, Lívia Dayane Sousa; SOUZA, Ana Paula Leme de; FERREIRA, Isabella Marta Scanavez; LIMA, Deivson Wendell da Costa; PESSA, Rosane Pilot. Binge eating and alcohol consumption: an integrative review . Eating And Weight Disorders - Studies On Anorexia, Bulimia And Obesity , [S.L.], v. 26, n. 3, p. 759-769, 18 maio 2020. Springer Science and Business Media LLC.