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Esquizofrenia: Qual o papel do eixo intestino-cérebro?

Brunno Falcão

4 min

13 de jan. de 2024

O eixo intestino-cérebro na esquizofrenia tem emergido como uma área de pesquisa promissora, oferecendo novas perspectivas sobre as causas e tratamento dessa doença. A esquizofrenia é conhecida por manifestar-se geralmente durante a idade adulta, resultando em disfunções mentais e comportamentais significativas. Sua etiologia multifatorial envolve fatores genéticos, experiências de adversidade e interações gene-ambiente. Além disso, pesquisas recentes apontam que infecções ou estresse materno durante a gravidez podem aumentar o risco de esquizofrenia.  Tabela de Conteúdos I ntestino e esquizofrenia Microbioma e esquizofrenia Eixo intestino-cérebro e esquizofrenia  Prática clínica  Referências Bibliográficas Intestino e Esquizofrenia As investigações mais recentes sobre o eixo intestino-cérebro destacam a influência do microbioma intestinal na função do sistema nervoso central (SNC) e na saúde mental. O microbioma intestinal, localizado no sistema digestivo, desempenha um papel crucial na fisiologia humana, afetando o desenvolvimento do sistema imunológico, síntese de vitaminas e proteção contra bactérias patogênicas. Alterações no microbioma intestinal, causadas por dieta, uso de medicamentos, poluentes ambientais e estresse, podem levar a desequilíbrios com efeitos significativos na função do SNC e na saúde mental. Um aspecto de particular interesse é o dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), subprodutos metabólicos produzidos por micróbios intestinais durante a fermentação. Esses AGCCs podem atravessar a barreira hematoencefálica, influenciando a atividade do SNC, incluindo a modulação de microglias e citocinas. A disfunção dos neurotransmissores produzidos pelos micróbios intestinais pode contribuir para distúrbios do SNC, incluindo a esquizofrenia. Microbioma e Esquizofrenia Estudos recentes apontam a disbiose do microbioma intestinal em pacientes com esquizofrenia e distúrbios relacionados. Comparando os processos metabólicos envolvendo glicose e lipídios de bactérias produtoras de AGCCs e o microbioma intestinal de pacientes com esquizofrenia com indivíduos saudáveis, observou-se uma menor abundância de bactérias produtoras de AGCCs e um metabolismo anormal de glicose e lipídios no microbioma intestinal dos pacientes. Além disso, pacientes com esquizofrenia apresentaram maior abundância de bactérias anaeróbias e bactérias associadas à cavidade oral no intestino em comparação com os controles saudáveis. De forma notável, ao transplantar Streptococcus vestibularis, uma bactéria oral, em camundongos, isso levou ao desenvolvimento de comportamento semelhante à esquizofrenia. Além disso, houve observação de mudanças nos níveis de citocinas em pacientes com esquizofrenia em comparação com indivíduos saudáveis. Essas mudanças incluíram a elevação de algumas citocinas e a redução de outras, revelando uma associação entre a composição do microbioma intestinal e o perfil de citocinas em pacientes com esquizofrenia. Essas alterações no microbioma intestinal também resultaram em uma redução na atividade de receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) e dos fatores neurotróficos derivados do cérebro (BDNF/GDNF) que regulam a plasticidade cerebral, um fator importante na esquizofrenia. Eixo Intestino-Cérebro e Esquizofrenia  À medida que a pesquisa sobre o eixo intestino-cérebro e seu impacto na saúde mental continua a crescer, estudos podem servir como indicadores potenciais para a identificação e previsão da esquizofrenia. Além disso, avanços adicionais nesse campo podem resultar no desenvolvimento de abordagens inovadoras que visem o microbioma intestinal no tratamento da esquizofrenia. Apesar das limitações, essas descobertas abrem perspectivas para futuros desenvolvimentos. Estudos em modelos animais também demonstraram que a transferência de fezes de indivíduos com esquizofrenia para camundongos afetou os níveis de neurotransmissores no hipocampo, com redução dos níveis de glutamato e aumento dos níveis de glutamina e GABA. Esses neurotransmissores desempenham um papel crucial na plasticidade sináptica e sua disfunção está associada à esquizofrenia e a outros distúrbios neurológicos. Embora esses achados sugiram uma conexão promissora entre os AGCCs, o microbioma intestinal e a esquizofrenia, é fundamental reconhecer as limitações atuais da pesquisa. A falta de ensaios clínicos humanos em grande escala e a variabilidade substancial na composição do microbioma intestinal e na produção de AGCCs entre os indivíduos dificultam o estabelecimento de uma associação clara com a esquizofrenia. Além disso, o mecanismo preciso pelo qual os AGCCs influenciam a esquizofrenia permanece obscuro, exigindo pesquisa adicional antes de se considerar aplicações terapêuticas. Diante disso, é crucial reconhecer as limitações atuais e a necessidade de mais pesquisas. À medida que a comunidade científica aprofunda seu estudo nessa área, uma compreensão aprimorada do eixo intestino-cérebro na esquizofrenia pode oferecer valiosas perspectivas para diagnóstico, tratamento e resultados dos pacientes. Prática Clínica  Os achados relacionados ao eixo intestino-cérebro na esquizofrenia abrem novas portas para a abordagem dos pacientes com essa doença mental. Embora seja importante enfatizar que a pesquisa está em estágio inicial e que terapias definitivas ainda não foram estabelecidas, os profissionais de saúde mental devem considerar a saúde do microbioma intestinal como um fator relevante na avaliação e no tratamento de pacientes com esquizofrenia.  Isso pode envolver a realização de avaliações mais abrangentes do estado do microbioma intestinal, bem como intervenções direcionadas, como a modificação da dieta, o uso de probióticos e a redução do estresse, para promover um equilíbrio saudável no microbioma. A individualização do tratamento é fundamental, pois a composição do microbioma pode variar significativamente entre os pacientes. Além disso, à medida que a pesquisa continua a progredir, é possível que terapias mais direcionadas possam se tornar parte do tratamento.  Continue estudando... Sugestão de Estudo: Eixo Intestino-Cérebro em Transtornos Depressivos Sugestão de Estudo: Eixo Intestino-Cérebro e Transtorno Alimentar: Há relação? Sugestão de Estudo: Eixo intestino-cérebro e relação com o sono Referências Bibliográficas JU, Songhyun; SHIN, Yoonhwa; HAN, Sunhee; KWON, Juhui; CHOI, Tae Gyu; KANG, Insug; KIM, Sung Soo. The Gut–Brain Axis in Schizophrenia: the implications of the gut microbiome and scfa production . Nutrients, [S.L.], v. 15, n. 20, p. 4391, 16 out. 2023. MDPI AG.