Fogachos na menopausa aumentam o risco de doenças neurodegenerativas
Brunno Falcão
4 min
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27 de dez. de 2023
Primeiramente, vamos a uma história de conceito. Há pouco tempo, sem os avanços da medicina atual, a expectativa de vida de homens e mulheres era baixa, aproximadamente 50 anos. Com o avanço da ciência, passamos a conviver com doenças antes jamais vistas, como as neurodegenerativas, e outras doenças que só aparecem um pouco mais tarde na vida, como a menopausa e os fogachos. A menopausa é uma fase natural na vida das mulheres, assim como a menarca. Chama-se menopausa a última menstruação da vida da mulher, com diagnóstico retrospectivo. Ou seja, a última menstruação da sua paciente foi há 12 meses? Essa última menstruação é chamada de menopausa. E claro, momentos que tangenciam essa fase como a perimenopausa e suas divisões entre precoce e tardia. Table of Contents Há relação entre fogachos e doença de Alzheimer? Fogachos noturnos na Literatura Estudo inovador entre fogachos e biomarcadores do Alzheimer Fogachos x risco de Alzheimer Take home message Referências Bibliográficas Há Relação entre Fogachos e Doença de Alzheimer? Certamente, as mudanças hormonais associadas a esse processo podem ter uma série de efeitos colaterais. Alguns deles são bem conhecidos, como ondas de calor, insônia e alterações de humor. É necessário também conhecer o aumento do risco cardiovascular na mulher. Por outro lado, a comunidade científica têm explorado uma conexão intrigante entre os fogachos noturnos e o risco crescente de desenvolver a doença de Alzheimer. Os fogachos são conhecidos como “ondas de calor” que muitas mulheres experimentam durante a transição menopausal. Eles são caracterizados por uma sensação repentina de calor intenso, causada pela queda repentina de neurotransmissores como a noradrenalina levando a uma vasodilatação extrema. Esses episódios podem ocorrer durante o dia ou à noite, levando a interrupções no sono e desconforto significativo. Fogachos Noturnos na Literatura Embora estudos anteriores como Menopausal Vasomotor Symptoms and White Matter Hyperintensities in Midlife Women, publicado dia 10 de Janeiro de 2023, na Revista Neurology , estabeleceu conexões entre os fogachos e indicadores de saúde cerebral, a revelação um outro estudo discutido no encontro anual da The Menopausal Society de 27 a 30 de Setembro/2023, mostrou que os fogachos estão fortemente associados a um biomarcador de risco para a doença de Alzheimer. Isso é surpreendente e altamente relevante. Este achado levanta questões cruciais sobre os mecanismos dessa relação para então propor algumas resoluções do problema. Estudo Inovador entre Fogachos e Biomarcadores do Alzheimer O estudo destacado no congresso é o Menopausal Vasomotor Symptoms and Plasma Alzheimer’s Disease Biomarkers que ainda não foi publicado em qualquer revista mas já possui resultados preliminares interessantes. Esse paper, ainda em curso, englobou até agora 274 mulheres na pós menopausa e observou uma associação significativa entre os sintomas vasomotores durante o sono e aumento de níveis plasmáticos do biomarcador da doença de Alzheimer. Por outro lado, foi constatado que fogachos intensos estão relacionados ao aumento da proteína C-reativa, um marcador inflamatório que nesse contexto pode ser interpretado como aumento do risco cardiovascular e da doença de Alzheimer nos pacientes estudados pela Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia. O estudo, que até pouco tempo recrutou pacientes, conhecido como Ms Brain Study , promete novas visões e correlações clínicas para esse público. Entretanto, o estudo possuía 24,5% mulheres APOE4 positivas, gene que atualmente revela-se como o maior fator de risco para o aparecimento do Alzheimer. O estudo estabeleceu critérios rigorosos, excluindo participantes com distúrbios neurológicos ou que recentemente utilizaram tratamentos hormonais ou não hormonais para os sintomas vasomotores. Além disso, foram encontrados proteínas séricas específicas da existência de placas beta-amiloides, a beta-amyloid 42/40. Fogachos x Risco de Alzheimer Uma das características notáveis desse estudo foi a abordagem objetiva adotada para a medição dos sintomas vasomotores. Eles foram avaliados por meio de monitoramento ambulatorial da condutância cutânea durante 24 horas, medidas físicas, entrevistas, avaliação do sono por 3 dias e uma coleta de sangue em jejum para genotipagem APOE e níveis de estradiol. Além disso, os pesquisadores também examinaram outros marcadores da doença de Alzheimer, mas não encontraram nenhuma associação significativa entre esses marcadores e os sintomas vasomotores. Uma observação crucial feita pelos pesquisadores foi a tendência das mulheres em subestimar os sintomas vasomotores, especialmente durante o sono. Isso levou os pesquisadores a adotarem a medida objetiva desses sintomas por meio de dispositivos de monitoramento. Os resultados revelaram que as mulheres apresentavam uma mediana de cinco sintomas fisiologicamente mensuráveis durante um ciclo de 24 horas, dos quais 2,8 ocorriam durante as horas de vigília e 1,5 durante o sono. Take Home Message Em resumo, as pesquisas recentes sobre os fogachos e sua possível associação com a doença de Alzheimer destacam a complexidade da saúde das mulheres. A identificação de sintomas intensos, como indicadores de aumento da proteína C-reativa e potencial predição da doença de Alzheimer, ressalta a importância de uma avaliação minuciosa. É crucial que as mulheres na transição menopausal considerem uma abordagem cuidadosa e baseada em seu histórico pessoal ao avaliar os riscos e benefícios da terapia de reposição hormonal. O conhecimento das contra indicações absolutas, assim como o tempo “janela de oportunidade” são assuntos primordiais na consulta de um profissional de saúde especialista. Atualmente, a terapia de reposição hormonal com progesterona isolada, especialmente na fase precoce da perimenopausa e até um certo ponto da tardia, emerge como uma alternativa promissora. Isso se deve à conversão da progesterona em Allopregnolona, um importante hormônio neuroprotetor. Portanto, a mensagem chave é que a tomada de decisões informadas e individualizadas, sob a orientação de um médico, é essencial para abordar os desafios da menopausa e seus possíveis impactos na saúde cardíaca e também na neurocognitiva. A mulher só possui suas características por conta dos hormônios sexuais, estradiol e progesterona. Por isso, ao considerar a terapia de reposição hormonal e outras opções de tratamento, as mulheres podem buscar uma melhor qualidade de vida e reduzir os riscos potenciais associados a essa fase de transição. Continue Estudando... Sugestão de Estudo: Climatério e Menopausa: O que você precisa saber? Sugestão de Estudo: 4 pilares para o emagrecimento na menopausa Sugestão de Estudo: Qual o papel do Black Cohosh nos sintomas da menopausa? Referências Bibliográficas THURSTON, Rebecca C.; WU, Minjie; CHANG, Yue-Fang; AIZENSTEIN, Howard J.; DERBY, Carol A.; BARINAS-MITCHELL, Emma A.; MAKI, Pauline. Menopausal Vasomotor Symptoms and White Matter Hyperintensities in Midlife Women. Neurology , [S.L.], v. 100, n. 2, p. 1, 10 jan. 2023. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health).