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Ganho de peso: qual é a influência da microbiota

Brunno Falcão

3 min

22 de dez. de 2022

Uma visão geral sobre o ganho de peso e um fator de risco que talvez você ainda não conheça Do ponto de vista fisiológico, o ganho de peso acontece quando há uma ingestão calórica superior ao gasto energético total do organismo, condição que chamamos de superávit calórico. No contexto de maior disponibilidade e ingestão de calorias com baixo valor nutricional, aliadas ao estilo de vida cada vez mais sedentário da população, somam-se ainda outros fatores que contribuem para o aumento da prevalência do sobrepeso e obesidade. A susceptibilidade poligenética, apesar de não ser determinante, gera um contexto fisiológico mais propício ao ganho de peso. Mas existe ainda um outro agravante para a epidemia da obesidade, que age indiretamente mas gera repercussões significativas: o uso indiscriminado de antibióticos. Um dos mecanismos pelos quais esse tipo de medicamento, quando usado de forma inadequada, pode estar associado ao ganho de peso é o efeito que exerce na microbiota intestinal. Sobre esta já há um acúmulo de evidências apontando um efeito mediador dos fatores ambientais que resultam no aumento da massa corporal. Um fato que corrobora com essa influência são as diferenças observadas nas características do microbioma de indivíduos com obesidade comparados com aqueles de peso adequado e saúde metabólica favorável. A microbiota no contexto da obesidade Alguns atributos das comunidades microbianas do intestino apresentam relações estreitas com prejuízos metabólicos e, especialmente, com o excesso de peso. Um exemplo é uma reduzida proporção de espécies do filo Bacteroidetes e maiores níveis de Firmicutes em indivíduos com obesidade. Apesar de esse perfil ter sido replicado em alguns estudos que buscaram caracterizar a microbiota de indivíduos com excesso de peso, outras características mais específicas parecem estar relacionadas com os mecanismos por trás do ganho de peso. Ao passo que a presença de espécies bacterianas produtoras de ácidos graxos de cadeia curta, especialmente o butirato, pode ser extremamente benéfica para controle do peso (devido ao efeito na saciedade e aumento do gasto energético), uma superprodução de ácidos graxos de cadeia curta pode ser responsável por uma retirada “extra” de energia dos componentes alimentares, contribuindo para um superávit calórico. Esses metabólitos são originados de substâncias que, sem serem metabolizadas, não representam uma entrega de calorias para o organismo (pois trata-se de carboidratos indigeríveis). Mas quando passam pela fermentação e ficam passíveis de absorção, representam um acréscimo na ingestão de calorias. Outro impacto no ganho de peso está associado ao estímulo à inflamação que algumas moléculas que compõem a estrutura de bactérias patogênicas podem exercer. Em um contexto de disbiose, marcado pelo desequilíbrio entre os níveis de bactérias comensais benéficas e patogênicas, a barreira intestinal sofre prejuízos estruturais nas tight junctions, tornando-se permeável à entrada de substâncias que, na circulação ativam a resposta imunológica. O LPS, um tipo de endotoxina também conhecida como PAMP - sigla em inglês para “Padrões Moleculares Associados à Patógenos” - presente nas paredes de bactérias gram-negativas, estimula a deposição de gordura no tecido adiposo e aumenta a inflamação, prejudicando a sinalização da insulina e gerando um ambiente metabólico propício ao ganho de peso. O estresse oxidativo no ambiente intestinal pode ser um ponto chave do contexto de disbiose que está associado a esses prejuízos metabólicos. A regulação da ingestão e do gasto de energia também sofre influência de células endócrinas presentes no intestino que, a partir da secreção hormonal, se comunicam diretamente com regiões cerebrais que controlam as variáveis orgânicas associadas ao consumo e dispêndio energético. Uma microbiota que não recebe o suprimento adequado de fibras e compostos bioativos necessários para a síntese dos ácidos graxos de cadeia curta, que estimulam a produção de PYY e GLP-1, acaba por potencializar a desregulação da sinalização de fome e saciedade, levando à ingestão exacerbada e ganho de peso. O excesso de peso corporal apresenta forte relação com disrupções metabólicas associadas ao desenvolvimento de condições patológicas importantes, como as doenças cardiovasculares e a diabetes mellitus tipo 2. 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