Menopausa em Foco: Sinais, Sintomas e Tratamentos
Brunno Falcão
7 min
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26 de ago. de 2024
A perimenopausa é o período de transição antes da menopausa, durante o qual ocorrem mudanças hormonais significativas no corpo da mulher. Esse processo marca o fim gradual dos ciclos menstruais e o início dos sintomas típicos da menopausa, como irregularidades menstruais, ondas de calor e alterações no humor. Caracterizada pelo declínio na função ovariana e na produção de hormônios, especialmente estrogênio e progesterona, a perimenopausa pode variar em duração e intensidade entre as mulheres. Essa fase crucial da vida feminina envolve o envelhecimento dos ovários e alterações no eixo hipotálamo-hipófise-ovariano-uterino. O processo da perimenopausa se manifesta de maneiras diferentes para cada mulher, tanto em termos de velocidade quanto de duração, sendo dividido em várias fases distintas. No início da perimenopausa, podem ocorrer pequenos aumentos nos sintomas típicos da menopausa e leves irregularidades menstruais, enquanto o corpo ainda tenta compensar a queda hormonal. À medida que a fase final se aproxima, esses sintomas se intensificam, a deficiência de estrogênio se torna mais evidente e a perda óssea pode começar a ocorrer. A menopausa, propriamente dita, é reconhecida quando todos os folículos ovarianos se esgotam, resultando na perda definitiva da função reprodutiva. Os Estágios da Perimenopausa A perimenopausa pode ser dividida em vários estágios, cada um com características distintas que refletem as mudanças hormonais e fisiológicas que ocorrem durante esse período de transição. No Estágio Reprodutivo Tardio , a reserva ovariana começa a diminuir, resultando em uma queda nos níveis dos hormônios antimülleriano (AMH) e inibina B. Essa diminuição pode provocar um aumento nos níveis do hormônio folículo-estimulante (FSH), como uma tentativa do corpo de compensar a perda de folículos. Apesar dessas mudanças, os ciclos menstruais podem continuar normais ou apresentar apenas pequenas irregularidades. Em seguida, durante a Perimenopausa Inicial , começam a surgir variações mais significativas nos ciclos menstruais, com diferenças de pelo menos 7 dias entre eles e períodos menstruais irregulares. A redução contínua dos folículos e dos níveis de AMH acelera a ativação dos folículos restantes, o que leva a ciclos mais curtos e a ovulações mais precoces. Nessa fase, a produção de progesterona também diminui, enquanto os níveis de FSH continuam a subir, resultando em ciclos menstruais mais curtos ou, em alguns casos, anovulatórios. O Estágio da Perimenopausa Tardia é caracterizado por um intervalo de amenorreia de 60 dias ou mais. Durante essa fase, o padrão menstrual tende a se estabilizar por um período de 1 a 3 anos, com ciclos que se tornam mais longos e frequentemente anovulatórios. O FSH permanece elevado, os níveis de estrogênio se tornam baixos e flutuantes, e a progesterona continua a diminuir progressivamente. Finalmente, a Pós-Menopausa Inicial começa após 12 meses sem menstruação, indicando que a reserva ovariana está extremamente baixa. Durante esse estágio, os níveis de FSH permanecem elevados e os níveis de estrogênio são muito baixos. Geralmente, os níveis hormonais tendem a se estabilizar aproximadamente 2 anos após a última menstruação, marcando o fim da perimenopausa e o início da menopausa plena. Mudanças no Sistema Nervoso Central durante a Transição para a Menopausa Durante a transição para a menopausa, o eixo hipotálamo-hipófise, responsável pela regulação hormonal, torna-se menos sensível ao estrogênio. No hipotálamo de mulheres pós-menopáusicas, ocorrem mudanças importantes, especialmente no núcleo infundibular, uma área do cérebro que ajuda a controlar funções como a temperatura corporal e a produção de hormônios. Com a queda nos níveis de estrogênio, aumenta o número de neurônios que possuem receptores para substâncias como a kisspeptina, a neuroquinina B (NKB) e a dinorfina. A kisspeptina e a NKB são importantes para a regulação hormonal, enquanto a dinorfina atua na modulação do ciclo reprodutivo e na resposta ao estresse. Os neurônios KNDy, que produzem essas substâncias, desempenham um papel crucial na liberação de hormônios como o LH e o FSH. Eles também influenciam a regulação da temperatura corporal, estando associados a sintomas como ondas de calor e suores noturnos, comuns durante a menopausa. Esses sintomas podem surgir antes que os níveis de estrogênio caiam drasticamente, indicando que a sensibilidade do hipotálamo ao estrogênio já está diminuída. A neuroquinina B, em particular, desempenha um papel central na indução das ondas de calor, que muitas mulheres experimentam durante essa fase de transição. Sinais e Sintomas da Transição para a Menopausa A transição para a menopausa geralmente dura cerca de quatro anos, começando com sintomas leves que se intensificam ao longo do tempo, especialmente após o último período menstrual. Inicialmente, podem ocorrer sangramentos menstruais irregulares, e níveis baixos de Hormônio Anti-Mülleriano podem indicar um risco de menopausa precoce. As ondas de calor, um dos sintomas mais comuns, afetam a maioria das mulheres e podem durar de quatro a cinco anos, ou até dez anos em alguns casos. Essas ondas são resultado da redução dos níveis de estrogênio e de mudanças na regulação da temperatura corporal. Embora a terapia de reposição hormonal ajude a controlar esses sintomas, ela também pode aumentar o risco de problemas cardiovasculares. Sintomas geniturinários, como secura vaginal e problemas urinários, são frequentes devido à queda nos níveis de estrogênio, causando desconforto e aumentando o risco de infecções. A reposição de estrogênio pode aliviar esses sintomas, mas não é eficaz no tratamento da incontinência urinária. Mudanças de humor, como depressão e ansiedade, são comuns, especialmente na fase final da perimenopausa. Mulheres com histórico de depressão correm maior risco, mas mesmo aquelas sem histórico podem sofrer alterações de humor. A terapia hormonal pode melhorar o humor, embora tenha pouco efeito nos sintomas vasomotores. O declínio cognitivo está mais relacionado ao envelhecimento do que à menopausa em si, e o estrogênio tem pouco impacto na função cognitiva. A terapia com estrogênio não mostrou benefícios significativos nesse aspecto. Problemas de sono, que afetam cerca de 40% das mulheres, são comuns e podem persistir após a menopausa, sendo frequentemente exacerbados por depressão e menor atividade física. A diminuição do desejo sexual, que afeta cerca de 10% das mulheres, é causada pela queda nos níveis de estrogênio e testosterona. Embora a reposição de testosterona possa ser útil, faltam estudos sobre sua segurança e eficácia, e não existem tratamentos aprovados para a baixa libido em mulheres pós-menopáusicas. Por fim, a perda de estrogênio durante a menopausa acelera a perda óssea, aumentando o risco de fraturas. Essa perda de densidade óssea geralmente começa cerca de um ano antes do último período menstrual e pode continuar por até três anos antes de se estabilizar. Tratamento dos Sintomas da Menopausa O tratamento dos sintomas da menopausa envolve opções hormonais, não hormonais e terapias não farmacológicas. A terapia hormonal com estrogênio é a mais eficaz para aliviar ondas de calor e secura vaginal, além de ajudar com distúrbios de sono e alterações de humor. Essa terapia é considerada segura e eficaz para mulheres com menos de 60 anos, sem doenças cardíacas ou histórico de câncer de mama, e que estão na menopausa há menos de 10 anos. No entanto, não é recomendada para a prevenção de doenças cardiovasculares, pois pode aumentar o risco de câncer de mama, coágulos sanguíneos e derrames, especialmente quando combinada com progesterona. Para mulheres com risco elevado de câncer de mama, é preferível evitar a terapia hormonal, optando por alternativas não hormonais. A terapia hormonal com estrogênio isolado apresenta menor risco de câncer de mama, mas ainda deve ser avaliada com cautela. Existem várias formas de administrar o estrogênio, como adesivos transdérmicos, pílulas orais, cremes vaginais e sprays. A via transdérmica é muitas vezes preferida por seu menor risco de trombose, enquanto as aplicações vaginais são eficazes para sintomas geniturinários. Mulheres com útero devem usar estrogênio combinado com progesterona para prevenir o crescimento excessivo do revestimento uterino, o que pode levar ao câncer. O tratamento pode ser cíclico ou contínuo, e um dispositivo intrauterino também pode ser usado para proteger o útero. Sangramentos irregulares são comuns no início do tratamento, mas devem ser monitorados se persistirem. Para aquelas que preferem evitar hormônios ou têm contraindicações, existem opções não hormonais. Paroxetina, um antidepressivo, é o único medicamento não hormonal aprovado para tratar ondas de calor, enquanto outros antidepressivos e medicamentos como clonidina e gabapentina também podem ser eficazes, especialmente para sintomas de humor e sono. As terapias não farmacológicas, embora com evidências limitadas, podem oferecer algum alívio. A terapia cognitivo-comportamental e o yoga podem ajudar com a insônia, e o exercício aeróbico pode melhorar o humor e o sono, mas não costuma afetar os sintomas vasomotores. Suplementos de ervas, como cohosh preto e soja, e a acupuntura não mostraram benefícios consistentes para esses sintomas. Para aliviar os sintomas da menopausa, é recomendável reduzir o estresse, usar ventiladores, vestir roupas em camadas e evitar alimentos que possam desencadear ondas de calor. Para os sintomas geniturinários, lubrificantes vaginais e umidificantes podem ajudar a aliviar a dor durante o sexo. Prática Clínica Para mulheres com menos de 60 anos e que estão a menos de 10 anos da menopausa, a terapia hormonal é uma opção segura e eficaz para tratar sintomas como ondas de calor e secura vaginal. Contudo, é importante que essa terapia seja utilizada apenas para o alívio dos sintomas e não como prevenção de doenças cardiovasculares. Antes de iniciar a terapia hormonal, é essencial que o médico avalie cuidadosamente os riscos individuais, especialmente em relação a doenças cardíacas e câncer de mama. Para sintomas geniturinários, como secura vaginal e desconforto durante as relações sexuais, são recomendadas preparações vaginais locais, que não exigem o uso de progestinas. Embora a terapia hormonal combinada possa aumentar o risco de câncer de mama a longo prazo, os benefícios devem ser equilibrados com os riscos. Em casos onde a terapia hormonal não é indicada, alternativas não hormonais podem ser consideradas, apesar de sua eficácia ser mais limitada. A transição para a menopausa é um processo gradual que pode começar por volta dos 30 anos e se estender por mais de uma década. Portanto, é crucial que os profissionais de saúde reconheçam os sinais iniciais e ofereçam tratamentos adequados para aliviar os sintomas. Como cerca de 60% das mulheres buscam orientação médica durante essa fase, essa é uma oportunidade valiosa para promover a saúde e reduzir os riscos associados ao envelhecimento. Além disso, mudanças no estilo de vida, como a perda de peso, podem ajudar a minimizar sintomas vasomotores, como as ondas de calor. Embora a terapia hormonal seja o tratamento mais comum, muitas mulheres podem ter contraindicações ou preferir evitá-la. Nesse contexto, os avanços científicos na compreensão das ondas de calor podem resultar em novos tratamentos específicos, alguns dos quais estão em processo de aprovação pelos órgãos reguladores de medicamentos. Continue estudando... Sugestão de estudo: Impacto da Menopausa na Saúde Cardiovascular Sugestão de estudo: Alimentação, Saúde Óssea e Menopausa Sugestão de estudo: Ômega 3 na Menopausa: Suplementar ou não? Referência Bibliográfica Santoro, N., Roeca, C., Peters, B. A., & Neal-Perry, G. (2021). The Menopause Transition: Signs, Symptoms, and Management Options. The Journal of clinical endocrinology and metabolism, 106(1), 1–15. https://doi.org/10.1210/clinem/dgaa764