Médico, você sabia que existe a Síndrome dos Ovários Policísticos na ausência de Ovários Policístico
Brunno Falcão
5 min
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26 de jun. de 2023
Apesar de ser a entidade clínica mais predominante em mulheres de idade reprodutiva, a Síndrome dos Ovários Policísticos precisa ser devidamente diagnosticada para então ser tratada assertivamente. Para isso, primordialmente é necessário reconhecer que não basta a mulher na sua frente apresentar alterações de ciclo menstrual, hiperandrogenismo clínico ou ovários policísticos no exame de imagem que automaticamente ela já ganha o diagnóstico. Dessa forma, uma das mensagens mais importantes desse texto é enfatizar que a SOP é um diagnóstico de exclusão. Ou seja, é necessário que você descarte outras doenças antes de entregar para a sua paciente que ela se enquadra nessa investigação. Table of Contents Toggle Você sabe diagnosticar corretamente a paciente com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)? Falando em irregularidade menstrual, você sabe identificá-la? Uma breve revisão do problema por trás da Síndrome dos Ovários Policísticos. Você já ouviu falar na teoria 2-HITS da SOP? Agora que você entendeu a etiologia da SOP, fica fácil reconhecer os fenótipos e tratá-los adequadamente Referências Bibliográficas Você sabe diagnosticar corretamente a paciente com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)? Recentemente, o estudo de revisão Polycistic Ovary Syndrome: Pathophysiology and Controversies in Diagnosis, publicado em 26 de Abril de 2023 na revista Diagnostics, define um problema: até hoje, há somente três referências para diagnosticar a SOP: o National Institutes of Health (NIH) de 1990, que avalia apenas o hiperandrogenismo e a irregularidade menstrual. Em seguida, o Rotterdam de 2003 que destaca o hiperandrogenismo, a irregularidade menstrual e os ovários policísticos à ultrassonografia. E por fim, os Critérios da Síndrome do Ovário Policístico por Excesso de Andrógenos de 2009 que coloca também apenas dois pontos como o hiperandrogenismo, a irregularidade menstrual ou os ovários policísticos à ultrassonografia. Dentre eles, o mais aceito até hoje é o de Rotterdam.
Dessa forma, fica evidente para nós médicos que o diagnóstico de SOP é desafiador pois as próprias referências divergem em certos pontos. Sabendo disso, um novo estudo publicado pela revista The Journal of the American Medical Association (JAMA) em 18 de Janeiro de 2022 sugere que essa entidade clínica apresenta fenótipos característicos. Pois, baseando-se nos Critérios de Rotterdam a paciente sentada na sua frente precisa permutar em combinações e agrupamentos que fatorialmente estejam combinadas em situações como a paciente que apresenta irregularidade menstrual e ovários policísticos no exame de imagem mas não possui hiperandrogenismo. Falando em irregularidade menstrual, você sabe identificá-la? Quando é falado neste assunto dentro de uma matéria sobre SOP, obviamente te faz pensar em termos como oligomenorreia e amenorreia. Porém, precisamos ir além do que essas palavras representam. Infelizmente, é comum encontrar pacientes que não sabem exatamente como funciona o seu próprio ciclo menstrual. Dessa forma, com o auxílio da tecnologia há alguns aplicativos com calendário que podem nos ajudar a definir alguns padrões. Nestes aplicativos como o Clue, a sua paciente consegue marcar exatamente o dia que ela começou a sangrar. Contudo, para o estudo em questão a alteração de ciclo menstrual define-se como ciclos menores que 21 dias, maiores que 35 dias ou menos de 8 ciclos no ano. Uma breve revisão do problema por trás da Síndrome dos Ovários Policísticos. A Síndrome dos ovários policísticos (SOP) é um distúrbio heterogêneo em termos de fenótipos e consequências metabólicas. Dessa forma, o problema metabólico por trás da resistência insulínica, intrinsecamente ligada a essa entidade clínica, que promove queda da produção hepática de SHBG, aumento do risco cardiovascular, infertilidade e aumento da cintura abdominal te leva a pensar que a causa de todo problema está apenas no estilo de vida que a sua paciente leva. A partir de agora, te conto um segredo: esse não é o principal problema. Você já ouviu falar na teoria 2-HITS da SOP? Apesar de não sabermos onde está a etiologia da SOP, há algumas teorias. Segundo um estudo de revisão Polycystic ovary syndrome: definition, aetiology, diagnosis and treatment publicado na Nature Reviews Endocrinology em 23 de Março de 2018, explica que o problema da sua paciente começou durante a vida gestacional. Isso mesmo. Sendo assim, hábitos ruins durante a gestação promoveram um gatilho para riscos metabólicos como hipertensão, diabetes, resistência insulínica que por sua vez ativa o eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal que inicia a virilização. Dessa forma, segundo o artigo, hábitos como dietas ricas em gorduras e com pouca fibra, estilo de vida sedentário, tabagismo e consumo de álcool possuem íntima relação com os problemas destacados acima. Esse é o primeiro HIT da SOP. O segundo HIT vem para completar o primeiro, porém ele acontece tardiamente. Imagine só a sua paciente que já foi exposta a tudo aquilo desde a vida uterina e durante adulta mantém os mesmo hábitos ruins. Esses hábitos promovem inflamação do tecido gorduroso que liberam IL-6, TNF, Leptina e diminuem a adiponectina. Essas citocinas inflamatórias causam um desbalanço no receptor de glicose celular que promovem a resistência insulínica, inclusive a nível ovariano, que manda um estímulo para a adenohipófise produzir o hormônio luteinizante e como consequência aumenta a produção de andrógenos. Por isso, fica evidente que o ponto de partida para a SOP não são os hábitos ruins, eles na realidade pioram uma função ovariana que já é ruim. Por isso, a principal teoria etiológica da SOP é o aumento da produção de androgênios pelos ovários. Agora que você entendeu a etiologia da SOP, fica fácil reconhecer os fenótipos e tratá-los adequadamente Sabiamente, a Síndrome dos Ovários Policísticos é um diagnóstico de exclusão. Por isso, é necessário que seja descartado problemas tireoidianos como hiper ou hipotireoidismo, hiperplasia adrenal congênita de início tardio, hiperprolactinemias, amenorréias hipotalâmicas funcionais. E ainda, investigar todas as causas de hiperandrogenismo na mulher adulta, como em alguns casos de Síndrome de Cushing. Consequentemente, o diagnóstico em adolescentes não devem incluir a ultrassonografia e ainda deve ser feito com mais dois anos após a menarca. E o enredo metabólicas como resistência insulínica são comuns e independentes, mas exacerbados pela causa central. Dessa forma, os fenótipos da Síndrome dos Ovários Policísticos são: o fenótipo A, representado por hiperandrogenismo, tendo o hirsutismo como principal achado clínico, seguido da ultrassonografia contendo pelo menos 20 folículos por ovário ou um volume ovariano maior que 10 mL em um único exame. Além, ainda, com a presença de alterações menstruais. Esse é o fenótipo clássico e o que mais sofre com as consequências como infertilidade, hiperplasia endometrial, acne e alopecia androgenética; O fenótipo B contido em apenas hiperandrogenismo e a alterações menstruais; O fenótipo C revela-se com o hiperandrogenismo associado ao achado a ultrassonografia; E por último o tipo D, mostra-se com alterações menstruais e as alterações no exame de imagem. Por fim, agora você sabe e entende a existência da Síndrome de Ovários Policísticos sem o ovário policístico propriamente dito. Pois, no caso do fenótipo B considera-se apenas o hiperandrogenismo e a alteração menstrual. Referências Bibliográficas Sugestão de Leitura: Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP): Intervenções Nutricionais Huddleston HG, Dokras A. Diagnosis and Treatment of Polycystic Ovary Syndrome . JAMA. 2022;327(3):274-275. doi:10.1001/jama.2021.23769. Escobar-Morreale HF. Polycystic ovary syndrome: definition, aetiology, diagnosis and treatment . Nat Rev Endocrinol. 2018;14(5):270-284. doi:10.1038/nrendo.2018.24 Fahs D, Salloum D, Nasrallah M, Ghazeeri G. Polycystic Ovary Syndrome: Pathophysiology and Controversies in Diagnosis. Diagnostics (Basel). 2023 Apr 26;13(9):1559. doi: 10.3390/diagnostics13091559. PMID: 37174950; PMCID: PMC10177792. Classifique esse post #síndromedosováriospolicísticos #sop