Mal de Alzheimer e Genética: Um caminho sem volta?
Brunno Falcão
4 min
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6 de nov. de 2023
O Mal de Alzheimer tem sido alvo de muita pesquisa e sabemos que a genética pode influenciar no seu desenvolvimento. O gene APOE4 há muito tempo tem sido associado a um maior risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, especialmente o Alzheimer. No entanto, avanços recentes na pesquisa científica estão redefinindo nossa compreensão desse gene e seu impacto sobre nossa saúde cerebral. Contrariando a ideia de que portar o gene APOE4 é uma sentença de inevitabilidade em relação ao Alzheimer, a ciência contemporânea nos assegura que nossa genética é apenas uma parte do quebra-cabeça complexo que compõe nossa saúde mental. Table of Contents Toggle Gene APOE4 e Alzheimer Estilo de Vida e Prevenção da Doença de Alzheimer Prática Clínica Referências Bibliográficas Gene APOE4 e Alzheimer O gene APOE4 (apolipoproteína E4) é um dos principais fatores genéticos associados ao desenvolvimento da doença de Alzheimer, uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta a função cognitiva e a memória. A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência em idosos e está associada ao acúmulo de placas de proteína beta-amiloide no cérebro, bem como emaranhados de proteínas que prejudicam as comunicações neuronais e levam à perda de células cerebrais. O gene APOE codifica uma proteína que desempenha um papel importante no metabolismo de lipídios, como o colesterol, e na regulação do transporte e distribuição desses lipídios pelo corpo. Existem três principais variantes do gene APOE: APOE2, APOE3 e APOE4. Estudos científicos têm mostrado que a presença da variante APOE4 está associada a um aumento significativo no risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer. A relação entre o gene APOE4 e a doença de Alzheimer não é totalmente compreendida, mas algumas hipóteses têm sido levantadas para explicar essa associação: A variante APOE4 pode estar envolvida na regulação do metabolismo de proteínas beta-amilóide e de TAU, que são as principais proteínas envolvidas na formação de placas e emaranhados cerebrais característicos da doença de Alzheimer. Acredita-se que o APOE4 possa contribuir para o acúmulo dessas proteínas tóxicas no cérebro. Além disso, o gene APOE4 também tem o potencial de influenciar a resposta imunológica e inflamatória no cérebro. Isso, por sua vez, pode resultar em um aumento da inflamação de origem neural, o que, por conseguinte, pode contribuir para o dano neuronal e o desenvolvimento da doença de Alzheimer, levando em consideração a possível correlação entre o gene APOE4 e a doença de Alzheimer. Estilo de Vida e Prevenção da Doença de Alzheimer Estudos observacionais têm identificado uma série de elementos que podem tanto aumentar quanto diminuir o risco de desenvolver essa condição neurodegenerativa debilitante. Entre esses fatores, destacam-se a diabetes, hipertensão, disfunção renal, consumo de álcool e tabagismo, colesterol elevado, doença cardíaca coronária, depressão, sedentarismo, baixa atividade cognitiva e dieta inadequada. Os resultados dessas pesquisas apontam para um cenário em que a combinação desses fatores representa mais de 50% do risco atribuível à doença de Alzheimer. Entre os elementos mencionados, a dieta emerge como um desafio particularmente complexo, uma vez que está intrinsecamente ligada a fatores socioeconômicos, como renda e acesso a alimentos frescos. Atividades cognitivas de lazer também mostraram ter um impacto protetor, como palavras cruzadas e aprendizado ao longo da vida, demonstrando uma relação inversa significativa entre essas atividades e o risco de DA. Resultados semelhantes foram observados nas atividades físicas, onde uma redução de risco de 20 a 65% foi registrada, dependendo do tipo e intensidade da atividade. Essa proteção é atribuída a mecanismos que incluem melhoria da função cardiovascular, respiratória e trófica, além da redução do estresse oxidativo e inflamação. Ao adotarmos uma dieta abundante em frutas, vegetais, legumes, ervas, especiarias, peixes e sementes que são ricos em ômega 3, mantendo um consumo adequado de água e desfrutando de chás com propriedades antioxidantes, asseguramos o silenciamento de genes associados ao Alzheimer, como APOE4, BACE1 e PSEN. Complementando esses hábitos saudáveis, um sono restaurador e a prática regular de atividade física contribuem para esse efeito positivo. Por outro lado, o sedentarismo, juntamente com uma dieta carregada de gorduras trans e saturadas, excesso de açúcares e alimentos à base de farinha, elevado índice glicêmico, resistência à insulina, obesidade, consumo de álcool, tabagismo, desequilíbrio na microbiota intestinal, além da exposição a metais tóxicos e poluentes no ambiente, são fatores que ampliam a propensão ao desenvolvimento do Alzheimer. Prática Clínica Em sua prática clínica, é fundamental adotar uma abordagem preventiva para promover um estilo de vida saudável como parte da estratégia de prevenção da doença de Alzheimer. Uma sugestão valiosa é incluir alimentos ricos em antioxidantes, como cacau em pó, frutas de coloração vermelha, vegetais de folhas escuras, cúrcuma e alecrim, que podem contribuir para a saúde cognitiva. A prática regular de atividade física desempenha um papel crucial na promoção do bem-estar e na prevenção da doença de Alzheimer. O uso de suplementos de Ômega 3 com foco no DHA é benéfico devido ao estímulo do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) e à proteção dos neurônios. O consumo de peixes saudáveis, como sardinha, tainha, abrótea, merluza e salmão do Alasca, é recomendado. Para manter a mente ativa e prevenir o Alzheimer, atividades como estudar e resolver quebra-cabeças são indicadas. Referências Bibliográficas Sugestão de Leitura: Dietas promissoras para prevenir a Doença de Alzheimer GALVIN, James E.. Prevention of Alzheimer’s Disease: lessons learned and applied . Journal Of The American Geriatrics Society, [S.L.], v. 65, n. 10, p. 2128-2133, 2 ago. 2017. Wiley. YU, Jin-Tai; XU, Wei; TAN, Chen-Chen; ANDRIEU, Sandrine; SUCKLING, John; EVANGELOU, Evangelos; PAN, An; ZHANG, Can; JIA, Jianping; FENG, Lei. Evidence-based prevention of Alzheimer’s disease: systematic review and meta-analysis of 243 observational prospective studies and 153 randomised controlled trials . Journal Of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, [S.L.], v. 91, n. 11, p. 1201-1209, 20 jul. 2020. BMJ. Classifique esse post #alzheimer #APOE4 #apolipoproteínaE4 #doençadealzheimer