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Qual recomendação nutricional para pacientes pediátricos oncológicos?

Brunno Falcão

3 min

4 de jan. de 2024

A infância é uma fase vulnerável de rápido desenvolvimento físico e cognitivo, na qual a nutrição desempenha um papel vital na manutenção do crescimento. O diagnóstico precoce, a prevenção e o tratamento da desnutrição são de extrema importância, pois afetam o funcionamento de todos os sistemas orgânicos. Assim, a deficiência de micronutrientes durante a infância e adolescência pode agravar o risco de doenças crônicas na vida adulta . Em pacientes pediátricos oncológicos, a ingestão dietética é ainda mais importante, pois a desnutrição afeta a eficácia do tratamento.  Tabela de conteúdos: Desnutrição em pacientes pediátricos oncológicos Macronutrientes em pacientes oncológicos Estratégias nutricionais para pacientes pediátricos oncológicos Micronutrientes Prática clínica Referências Desnutrição em pacientes pediátricos oncológicos Crianças com câncer regularmente enfrentam desafios nutricionais, estima-se que até 70% dos pacientes pediátricos com câncer sofram de desnutrição. A desnutrição, que causa desequilíbrio entre as necessidades e a ingestão de nutrientes, resultando em efeitos adversos no crescimento, na função neurocognitiva e no funcionamento do corpo, tem uma patogênese complexa. Dessa forma, a desnutrição abrange tanto a subnutrição quanto a sobrenutrição e inclui desvios na ingestão de micronutrientes e macronutrientes.  Dados atuais sugerem que, especialmente em crianças com tumores sólidos e em pacientes considerados de alto risco, a subnutrição ocorre com mais frequência. Ao mesmo tempo, observou-se que os sobreviventes de malignidades pediátricas comuns estão em risco de desenvolver doenças na idade adulta, como obesidade, doenças cardiovasculares e doenças endócrinas. Apesar do reconhecimento da importância da desnutrição nos últimos anos, ainda não existe consenso sobre as necessidades energéticas em pacientes pediátricos com câncer . Ademais, sabemos menos sobre possíveis alterações nas necessidades de micronutrientes. Macronutrientes em pacientes oncológicos Ainda existem lacunas consideráveis no conhecimento sobre se e como as necessidades energéticas diferem em crianças com câncer. Em geral, estima-se que as necessidades energéticas aumentam devido à taxa metabólica elevada devido à atividade tumoral. No entanto, a evidência de necessidades energéticas elevadas em crianças com câncer é inconclusiva. Desse modo, dado que os pacientes com câncer são menos ativos do que crianças saudáveis, a diminuição da atividade física pode compensar as maiores necessidades. Uma estagnação temporária no crescimento e alterações na composição corporal em crianças com câncer também parecem desempenhar um papel. Assim, as recomendações atuais sugerem manter uma dieta correspondente à de crianças da mesma idade e sexo. Em relação aos macronutrientes, a distribuição ótima de energia fornecida por carboidratos e lipídios e a relação ideal de energia para proteína também parecem corresponder àquelas de crianças saudáveis da mesma idade. Estratégias nutricionais para pacientes pediátricos oncológicos Durante doenças críticas, considera-se necessário compensar a degradação aumentada de proteínas endógenas, destacando a importância das proteínas. A entrega de proteínas em quantidade elevada pode estar associada a benefícios na fase inicial de doenças críticas em pacientes adultos da Unidade de Terapia Intensiva.

As evidências são escassas em relação às necessidades de proteínas em crianças, e é necessário individualizar as recomendações, lembrando-se dos efeitos potencialmente prejudiciais do fornecimento de proteínas em maior quantidade em pacientes com lesão renal aguda. Dietas alternativas ou restritivas, como a chamada dieta neutropênica ou a dieta cetogênica, têm pouco respaldo científico e representam uma estratégia potencialmente prejudicial. Micronutrientes Pacientes pediátricos com câncer relataram deficiências de micronutrientes, como magnésio (Mg), zinco (Zn), selênio (Se), vitamina D (VD) e vitamina B12 (VitB12), além das alterações no balanço energético total. Crianças com câncer frequentemente relatam não conseguir atender às suas necessidades diárias recomendadas (DRI) devido não apenas à desnutrição aguda grave, mas também às deficiências comuns de micronutrientes. A desnutrição de micronutrientes pode ser mascarada pelo estado nutricional fenotípico do paciente, colocando crianças normalmente bem nutridas em risco de deficiência. Micronutrientes englobam vitaminas, minerais, e, no geral, deficiências são relatadas em até 96% dos pacientes pediátricos com câncer. Embora dados observacionais demonstrem uma associação entre deficiências de micronutrientes e efeitos adversos, os estudos sobre prevalência, causas e impacto nos resultados ainda são escassos. Além de glutamina, vitamina , vitamina B6 e selênio, para os quais benefícios foram documentados em um pequeno número de ensaios clínicos, a evidência de suplementação de micronutrientes é baseada exclusivamente em estudos observacionais. Prática clínica É fundamental manter um foco constante na nutrição das crianças com câncer. Os profissionais devem realizar avaliações nutricionais regulares para identificar pacientes em risco de desnutrição e deficiências de micronutrientes. A abordagem nutricional deve ser adaptada às necessidades individuais de cada criança, considerando o tipo de câncer e o estágio do tratamento. Garantir uma ingestão adequada de macro e micronutrientes, bem como monitorar os efeitos nutricionais do tratamento, é crucial para otimizar os resultados clínicos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Referências Sugestão de estudo: Qual papel da dieta cetogênica no câncer Assista o vídeo na Science Play com Leonardo Matta: Exercício físico e câncer PODPESKAR, A. et al. Recommendations for Nutritional Supplementation in Pediatric Oncology: A Compilation of the Facts . Nutrients, v. 15, n. 14, p. 3239–3239, 21 jul. 2023.