Suplementação na Pediatria

Hoje em dia,  a suplementação durante os primeiros cinco anos de vida é de extrema importância  para garantir o desenvolvimento máximo das crianças. Além da influência significativa da genética nos desfechos clínicos dos bebês, o ambiente em que estão inseridos também exerce um papel crucial na expressão genética, podendo afetar gerações futuras. Assim, um ambiente saudável desde cedo  é essencial para reduzir os riscos de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. Portanto, o investimento na saúde desde a infância é fundamental para preparar um adulto saudável no futuro. Embora haja uma compreensão crescente sobre os efeitos das dietas inadequadas e da radiação ionizante, que podem modificar as histonas e causar alterações epigenéticas, é importante destacar que a suplementação em crianças nem sempre é necessária e pode até ser prejudicial em altas doses . Isso ocorre porque, em crianças, micronutrientes em excesso também podem se tornar tóxicos, destacando a importância de uma abordagem equilibrada e baseada em avaliações individualizadas para determinar a necessidade de suplementação. Ao Nascer… É importante suplementar os seguintes micronutrientes: Vitamina D - 400 Ul/ dia Vitamina k (k2mk7) - 6 - 10 mcg Vitamina A - 400-1000mcg/kg/d (1mcg = 3,3UI) - média 1600UI A vitamina D  desempenha um papel crucial na saúde óssea, estando diretamente relacionada com a absorção intestinal de cálcio. Além disso, esta vitamina é essencial não apenas para  manter ossos fortes e prevenir doenças como a osteoporose, mas também para o bom funcionamento do sistema imunológico . Além de regular mais de mil genes no corpo humano, influenciando processos vitais como o neurodesenvolvimento, a presença adequada desta vitamina é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento saudável, tanto em crianças quanto em adultos. A deficiência de vitamina D pode levar a uma série de problemas de saúde. Pessoas com baixos níveis dessa vitamina  tendem a ter um maior número de infecções e doenças alérgicas , além de uma exacerbação de  crises asmáticas . Além disso, a má absorção intestinal de cálcio, decorrente dessa deficiência, pode resultar em  raquitismo em crianças e distúrbios metabólicos em adultos . Portanto, garantir a ingestão adequada de vitamina D é essencial para prevenir essas complicações e manter uma boa saúde geral. A vitamina A  é essencial para o bom funcionamento do corpo humano, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento da visão e na manutenção da saúde ocular . Além disso, esta vitamina é vital para o desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) e para a cognição, influenciando processos cognitivos importantes e a capacidade de aprendizagem. Além de contribuir significativamente para a integridade da pele , ajudando a manter a saúde e a função das células epiteliais, a vitamina A é fundamental para a proteção contra infecções e para a cicatrização de feridas. Ferro, Zinco e Ômega-3 Além disso, ao nascer , é importante suplementar ferro, zinco e ômega-3 de acordo com a necessidade. Prematuros frequentemente apresentam baixos estoques de zinco devido às suas reservas limitadas ao nascer, juntamente com perdas aumentadas pelo trato intestinal e pelos rins imaturos. Esse mineral é especialmente crucial para o crescimento rápido desses bebês . Aqueles que são pequenos para a idade gestacional estão em alto risco de deficiência de zinco, o que pode comprometer ainda mais seu desenvolvimento. Para abordar essa necessidade, a Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda  uma suplementação de 1-3 mg/kg/dia , enquanto a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN) sugere  uma dosagem de 1-2 mg/kg/dia. O zinco é um mineral essencial que atua como regulador da homeostase no intestino. Além de ser um co-fator em várias reações enzimáticas, o zinco é crucial para a cicatrização de feridas, saúde da pele, e percepção de sabor e odor . A disbiose intestinal, que é um desequilíbrio na flora intestinal, pode levar a uma menor absorção de zinco, resultando em deficiências crônicas que prejudicam o sistema imunológico. O crescimento saudável depende de níveis fisiológicos constantes de zinco, destacando sua importância para o desenvolvimento e manutenção geral do corpo. A barreira mucosa do intestino  desempenha um papel vital na manutenção da homeostase e proteção contra várias condições. A quebra desta barreira pode levar a uma série de problemas de saúde, incluindo asma, rinite alérgica, dermatite atópica, alergias alimentares, doenças inflamatórias intestinais, doenças autoimunes e diabetes . A deficiência de zinco está associada a essas condições, evidenciando a necessidade de manter níveis adequados deste mineral para prevenir e controlar tais doenças. A manutenção da integridade da barreira mucosa, suportada por níveis adequados de zinco, é essencial para a saúde geral e a prevenção de doenças crônicas. Glutamina A glutamina é um aminoácido essencial que desempenha um papel crucial na saúde intestinal e no crescimento . Além de reduzir a permeabilidade intestinal ao manter as tight junctions, estruturas fundamentais para a integridade da barreira intestinal, a glutamina também diminui a produção de interleucinas pró-inflamatórias, ajudando a controlar a inflamação no corpo.  Este aminoácido é especialmente importante para o crescimento, sendo um precursor metabólico de neurotransmissores e hormônios vitais como a serotonina, a melatonina e o hormônio de crescimento. Ferro É importante considerar a ferritina materna superior a 75 e o clampeamento tardio do cordão umbilical, entre 1 a 3 minutos após o nascimento . Esse procedimento aumenta o fluxo sanguíneo pulmonar, melhora os estoques de ferro do recém-nascido e contribui para uma melhor adaptação cardiovascular. Tais medidas são fundamentais para assegurar que o bebê inicie a vida com reservas adequadas de ferro, essencial para o seu desenvolvimento saudável. Nos prematuros, a suplementação de ferro deve ser ajustada de acordo com a idade gestacional e o peso. Prematuros com menos de 34 semanas  de gestação necessitam de 3 mg/kg/dia , enquanto aqueles com 35-36 semanas , ou que são pequenos para a idade gestacional (PIG) ou têm restrição de crescimento intrauterino (RCIU), precisam de 2 a 2,5 mg/kg/dia .  Para r ecém-nascidos a termo com peso inferior a 2500 g, recomenda-se  iniciar com 2 mg/kg/dia a partir de um mês de idade e manter essa suplementação por um ano, reavaliando com exames após esse período. Já para recém-nascidos a termo com peso superior a 2500 g , a dosagem indicada é de 1,5 a 2 mg/kg/dia , também com reavaliação após um ano. Ômega-3 Os ácidos graxos ômega 3 são conhecidos por seus diversos benefícios à saúde, incluindo a redução da produção de anticorpos que causam reações alérgicas e sintomas de asma em casos mais leves. Além disso, eles têm sido associados à melhora da cognição, ao controle do colesterol e à prevenção de doenças cardiovasculares , atuando como potentes anti-inflamatórios  que também melhoram as articulações e fortalecem os músculos .  Para bebês até 6 meses de idade , a recomendação é que os amamentados recebam 250 mg de DHA proveniente da mãe . Já para aqueles  alimentados com fórmula, a dose recomendada é de 10 mg/kg de DHA a partir dos 3 meses de idade . Dos 6 meses aos 2 anos , tanto para lactentes amamentados quanto para os alimentados com fórmula, a recomendação é de 150 mg de DHA mais 100 mg de EPA diariamente . Essas diretrizes visam garantir o desenvolvimento saudável e o bem-estar das crianças durante os primeiros anos de vida. Selênio O selênio desempenha papéis vitais na saúde, sendo reconhecido por seu efeito neuroprotetor e pela capacidade de proteger contra os efeitos tóxicos de metais pesados como mercúrio, chumbo e cádmio . Além disso, o selênio aumenta a efetividade da vitamina E , colaborando para a proteção antioxidante no organismo. A deficiência de selênio é preocupante, pois pode prejudicar tanto a resposta imune inata quanto adaptativa, comprometendo a capacidade do corpo de combater infecções e manter um estado de saúde ideal. Portanto, garantir níveis adequados de selênio na dieta é fundamental para promover uma função imunológica robusta e proteger o sistema nervoso contra danos oxidativos. Vitamina E A vitamina E é um nutriente crucial a ser considerado em várias condições, incluindo prematuridade, alergias como dermatite atópica, baixa ingestão dietética e síndromes de má absorção . Reconhecida por seu excelente efeito antioxidante, a vitamina E desempenha um papel essencial na proteção das células contra danos oxidativos.  Além disso, a dose recomendada para adultos é de 100 UI diariamente , e fontes alimentares ricas incluem oleaginosas como amêndoas e castanhas, abacate e azeite de oliva, que são formas naturais de incorporar este nutriente na dieta para promover a saúde celular e a função antioxidante do corpo. Vitamina B12 A vitamina B12 desempenha um papel essencial na saúde, e sua deficiência pode resultar em sérios problemas, incluindo anemia megaloblástica e atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor. Além disso, é especialmente crucial para vegetarianos considerarem suplementação regular, dado que fontes animais são as principais fontes dietéticas desta vitamina. Também é recomendado avaliar os níveis de B12 na mãe, idealmente acima de 450 durante o terceiro trimestre da gravidez e durante a lactação, para garantir adequada transferência para o bebê . No entanto, a falta de consenso sobre a profilaxia dessa deficiência sublinha a complexidade da gestão deste nutriente vital, cuja carência e anemias associadas representam uma tragédia nutricional, destacando a importância de estratégias preventivas e de intervenções adequadas para preservar a saúde pública. Entre 1 e 2 anos Entre 1 e 2 anos de idade, é crucial avaliar a saúde das crianças através da coleta de exames  específicos que oferecem insights importantes sobre seu desenvolvimento e bem-estar. Os exames recomendados incluem hemograma completo para monitorar os níveis de células sanguíneas essenciais, além de ferritina e saturação de transferrina para verificar os estoques de ferro. Adicionalmente, é importante avaliar os níveis de vitamina B12 para garantir o desenvolvimento neurológico adequado, assim como a PCR (Proteína C Reativa) para detectar inflamações .  Além desses, outros exames essenciais nesta faixa etária incluem a medição de homocisteína  para avaliar o risco cardiovascular, TSH  para a função tireoidiana, 25-hidroxivitamina D  para a saúde óssea, zinco eritrocitário  para a função imunológica, vitamina A (retinol)  para a saúde ocular e o silício  para o desenvolvimento dos tecidos. Portanto, esses exames são fundamentais para garantir que as crianças recebam cuidados preventivos adequados e intervenções oportunas para promover sua saúde e desenvolvimento geral. Imunidade e Suplementação Em relação à imunidade e suplementação, é essencial avaliar regularmente exames para monitorar a saúde imunológica, excluindo possíveis inflamações e corrigindo deficiências nutricionais. Após os 2 anos de idade, é crucial observar  especialmente  a presença de anemias,  que podem afetar diretamente a imunidade . Os quatro pilares fundamentais para fortalecer o sistema imunológico incluem uma alimentação adequada, sono reparador, tratamento de comorbidades e a suplementação estratégica de nutrientes essenciais. Além disso, a imunomodulação através de substâncias naturais também desempenha um papel significativo na promoção da saúde imunológica. A Echinacea purpúrea , por exemplo, é reconhecida por sua atividade imunomoduladora, auxiliando no combate a infecções que afetam o trato respiratório. Por outro lado, o própolis verde demonstra propriedades antimicrobianas, antiulcerogênicas, anti-inflamatórias, antifúngicas, angiogênicas e antioxidantes, melhorando as funções imunológicas e oferecendo prevenção e inibição contra infecções do trato respiratório superior. Essas substâncias naturais podem ser incorporadas de forma complementar à dieta para fortalecer as defesas do corpo e promover um sistema imunológico resiliente contra doenças infecciosas. Vitaminas na Imunidade O uso combinado de vitamina D, vitamina C, zinco e equinácea é eficaz para fortalecer tanto a imunidade inata quanto adaptativa , contribuindo significativamente para o combate a gripes e resfriados. A suplementação regular de vitamina C , com doses entre 1 a 2 g por dia , demonstrou reduzir tanto a duração (8% em adultos, 14% em crianças) quanto a gravidade dos resfriados. Além disso, o zinco também tem sido associado a uma redução de aproximadamente 33% na duração dos resfriados. Por sua vez, a vitamina D desempenha um papel protetor geral contra resfriados, com eficácia dependente dos níveis basais e da idade do indivíduo. Adicionalmente, o tratamento profilático com equinácea , na dose de 2400 mg por dia durante 4 meses , mostrou-se benéfico na prevenção e tratamento de gripes e resfriados. A sinalização mitocondrial desempenha um papel crucial na fisiopatologia da asma, e o uso de Coenzima Q10 (Co-Q10) tem sido estudado como uma forma de controlar os sintomas de asma e rinite alérgica . Além disso, a ativação do fator nuclear Nrf2 nas células epiteliais e musculares lisas das vias aéreas protege contra os efeitos pró-inflamatórios e oxidantes, desempenhando um papel crucial na proteção contra condições como a asma.  A indução do estresse antioxidante mediado por Nrf2 é essencial para manter a integridade da barreira epitelial das vias aéreas, impedindo a entrada de alérgenos e reforçando a proteção contra desencadeadores inflamatórios. Esses mecanismos destacam, assim, a importância da modulação antioxidante na gestão eficaz de condições respiratórias alérgicas como a asma. Formulação entre 2 e 5 anos Própolis verde - 100mg (adulto) Mix Berries - 100mg (adulto) Vitamina C - 100mg (adulto) Selênio - 100mcg (adulto) Cromo - 100mcg (adulto) Zinco picolinato - 20mg (adulto) Complexo B - 100mcg (dose adulto) Vitamina B12 - com exames Vitamina D com exames Vitamina K (k2mk7) - 100 mcg (dose adulto) Vitamina A (retinol) - com exames Vitamina E - 100 UI (adulto) Ômega 3 - 250mg a 500mg ao dia DHA, 100 mg EPA Avaliar necessidade de ferro nos exames Eixo Intestino-Pulmão O eixo intestino-pulmão tem despertado interesse crescente na compreensão das conexões entre a saúde intestinal e respiratória. Fatores de proteção, como viver em ambientes agrícolas ou consumir probióticos , estão associados a menores incidências de asma . No entanto, o impacto direto desses fatores no microbioma intestinal ou pulmonar ainda requer investigação mais aprofundada. Assim, estudos futuros são necessários para elucidar como esses elementos específicos influenciam a microbiota dos dois sistemas e como isso pode afetar a saúde respiratória, oferecendo potencialmente novas estratégias para a prevenção e tratamento de condições como a asma. Toxinas e Detox As toxinas presentes no ambiente contemporâneo representam um desafio crescente para a saúde, abrangendo poluentes como tintas, inseticidas, agrotóxicos, produtos de limpeza e metais pesados como chumbo e alumínio. Além disso, a exposição a sinais de telecomunicação 4G e 5G, bem como a patógenos como vírus, bactérias e fungos, pode ter impactos adversos na saúde humana.   Diante desses desafios, diversas abordagens de detoxificação são exploradas. Incluem terapias homeopáticas, o uso de N-acetilcisteína (NAC) , que possui propriedades antioxidantes e desintoxicantes, a silimarina, conhecida por seu suporte à saúde hepática, e o aranto vermelho , que tem sido investigado por suas potenciais propriedades de detoxificação e imunomodulação. Essas estratégias visam promover a saúde e mitigar os efeitos adversos das toxinas ambientais no corpo humano. Prática Clínica Assim, é crucial adotar uma abordagem cuidadosa à suplementação infantil, reconhecendo os riscos de excesso de micronutrientes que podem ser tão prejudiciais quanto a deficiência. Dessa forma, investir na avaliação individualizada e na monitorização regular é fundamental para determinar a necessidade e ajustar as doses de vitaminas como D, A, B12 e ômega-3. Além disso, a consideração dos exames específicos entre 1 e 2 anos, incluindo hemograma completo e avaliação de vitamina B12, permite intervenções oportunas para garantir o desenvolvimento saudável e a imunidade robusta desde a infância. Continue Estudando... Sugestão de Estudo: Endocrinologia Pediátrica: Cuidados Especiais na Infância Sugestão de Estudo: Creatina: Existe Idade para Suplementação? Sugestão de Estudo: Vitamina D na Saúde de Crianças com Doenças Crônicas Referências Bibliográficas: DU, Qixue; MENG, Wei; ATHARI, Seyyed Shamsadin; WANG, Renzhong. The effect of Co-Q10 on allergic rhinitis and allergic asthma.   Allergy, Asthma & Clinical Immunology , [S.L.], v. 17, n. 1, 20 mar. 2021. Springer Science and Business Media LLC.  SEMBA, R. D.. Vitamin A and immunity to viral, bacterial and protozoan infections.   Proceedings Of The Nutrition Society , [S.L.], v. 58, n. 3, p. 719-727, ago. 1999. Cambridge University Press (CUP).