Vitamina A na Cicatrização de Feridas
Brunno Falcão
5 min
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10 de abr. de 2023
A vitamina A é uma família de retinóides que está disponível como vitamina A pré-formada (retinol, retinaldeído e ácido retinóico) ou como pró vitamina A (carotenóides). Assim sendo, seu papel no organismo é diversificado, por exemplo, modula as atividades no nível celular e, em sua inter-relação com hormônios e com sua relação na absorção de nutrientes, esta vitamina tem efeitos metabólicos difusos no corpo. Além disso, os dados da literatura mostram que a vitamina A também possui papel ativo na cicatrização de feridas. Embora a deficiência de vitamina seja de difícil identificação por, muitas vezes, ser assintomática. Sua sintomalogia inclui cegueira noturna, xeroftalmia e manchas de Bitot. Ainda, a carência de vitamina A leva a uma variedade de manifestações cutâneas, como a frinoderma, caracterizada por pápulas foliculares hiperqueratóticas e ásperas na pele dos cotovelos e joelhos. Mais importante ainda, no que se trata da pele, esta carência torna-se um fator de risco para o desenvolvimento de câncer. A princípio, a vitamina A promove a mitose celular, aumenta a espessura epitelial, número de células de Langerhans e a síntese de glicosaminoglicanos na pele. Sendo que, alguns estudos demonstram sua atuação semelhante a um hormônio capaz de alterar a atividade das células epiteliais, melanócitos, fibroblastos e células endoteliais por meio de sua ação na família dos receptores do ácido retinóico. Ademais, sua ação na pele e nas membranas mucosas envolve a manutenção da saúde das células epiteliais, bem como estimula o sistema imunológico, mantém a integridade da mucosa e do epitélio e aumenta a formação de colágeno e matriz extracelular, fibroplasia e síntese de colágeno, glicoproteína e proteoglicano. Outrossim, aumenta a epitelização das membranas celulares, a taxa de síntese de colágeno e a reticulação do colágeno recém-formado e antagoniza os efeitos inibitórios dos glicocorticóides nas membranas celulares. Table of Contents Toggle Cicatrização de Feridas e Demanda de Nutrientes Vitamina A vs. Imunidade Vitamina A vs. Cicatrização de Feridas Efeito da Vitamina A em Feridas Agudas e Crônicas Lesões cutâneas e feridas agudas Feridas crônicas Vitamina A e Toxicidade Recomendações de Vitamina A para Paciente Feridos Prática Clínica Referências Bibliográficas Cicatrização de Feridas e Demanda de Nutrientes A cicatrização de feridas é um processo complexo dividido em eventos biológicos específicos e é separado em quatro estágios ou fases sobrepostas: hemostasia, inflamação, proliferação e remodelação. Dessa forma, as quatro fases se sobrepõem, com um estágio estabelecendo a base para o próximo estágio, assim, a insuficiência em uma fase pode resultar na falha de todo o processo. As características desse sistema são semelhantes a um período de crescimento em que se tem as necessidades metabólicas aumentadas. Consequentemente, todos os substratos nutricionais, incluindo as vitaminas, são essenciais para o sucesso da ferida cicatrizada. Com isso, a vitamina A demonstrou ser benéfica na cicatrização de feridas, e um estado deficiente demonstrou o comprometimento mais perceptível no fechamento da ferida. Vitamina A vs. Imunidade Dados mostram que em casos de queimaduras, fraturas e até cirurgias eletivas podem levar à diminuição dos níveis séricos de vitamina A, proteína ligadora de retinol, ésteres de retinil e β- caroteno. Em um estudo foi mostrado que à medida que o índice de queimadura (escala para ajudar a avaliar a gravidade da queimadura) aumentava, os níveis de vitamina A caíam mais profundamente. Vitamina A vs. Cicatrização de Feridas Na virada do século 20 um estudo descobriu que a vitamina A neutraliza o efeito da cortisona e estimula a cicatrização de feridas. Com isso, estudos subsequentes sugerem que o mecanismo para o aumento da resposta inflamatória da vitamina A em feridas é pela diminuição da estabilidade da membrana lisossômica, aumento do influxo e ativação de macrófagos e estimulação da síntese de colágeno. Ademais, em estudos in vitro a presença de vitamina A mostrou um aumento da presença de receptores do fator de crescimento epidérmico e aumento da síntese de colágeno de culturas de células de fibroblastos. Efeito da Vitamina A em Feridas Agudas e Crônicas No geral, as feridas podem ser agudas, como o trauma de lacerações, feridas por esmagamento ou queimaduras; ou podem ser crônicas, como úlceras do pé diabético. Uma ferida crônica é definida como aquela que não responde à terapia inicial ou persiste diante de cuidados adequados, sem progresso significativo para a cicatrização em 30 dias. Com isso, estudos mostram que a vitamina A pode promover e melhorar vários aspectos da cicatrização de feridas através da estimulação da angiogênese, síntese de colágeno, epitelização e fibroplasia. Sendo que, dados comprovam que a suplementação tópica e sistêmica com vitamina A aumenta a deposição de colágeno dérmico. Lesões cutâneas e feridas agudas Na prática, em pacientes pré-tratados com retinóides tópicos por 2 a 4 semanas antes de procedimentos estéticos de restauração facial e feridas cutâneas de espessura parcial ou total não demonstraram problemas com cicatrizes ou cicatrização anormal. Por outro lado, em um estudo com idosos o tratamento com com loção tópica de retinol 0,4% por 24 semanas para rugas relacionadas à idade, demonstraram aparência melhorada, provavelmente por meio da indução de glicosaminoglicano. O glicosaminoglicano causa retenção significativa de água e aumento da produção de colágeno. Além da melhora das rugas, a pele envelhecida tratada com retinol tem maior probabilidade de resistir a lesões cutâneas e à formação de úlceras. Em feridas agudas, a suplementação com vitamina A resulta em aumento de IL-10 e diminuição de TNFα, níveis séricos de imunoglobulina A, bem como proliferação de linfócitos e monócitos no sangue periférico, melhorando a resposta inflamatória. Sendo que, esses tratamentos demonstraram aceleração e resolução da fase inflamatória aguda nesse tipo de ferida. Feridas crônicas Nas feridas crônicas os dados presentes na literatura são limitados para determinar o valor da vitamina A no tratamento. Apesar disso, um estudo que avaliou pacientes com úlceras crônicas nas pernas e demonstrou que todos tinham baixos níveis de vitamina A, bem como de precursores de vitamina A, sugerindo uma diminuição da ingestão ou aumento da utilização de vitamina A Vitamina A e Toxicidade Apesar de ocorrer raramente, a toxicidade da vitamina A pode ser aguda ou crônica e em casos críticos pode levar à morte. A toxicidade aguda se manifesta como sinais de membranas mucosas secas. Enquanto a toxicidade crônica tem um efeito maior nos sistemas de órgãos. Em casos críticos o metabólito ativo, retinol, liga-se à proteína de ligação ao retinol (PLR) enquanto circula no plasma. A secreção e produção de PLR é regulada pelo fígado. Dessa forma, em pacientes com doença hepática ou desnutrição protéico-calórica grave, há um nível diminuído de PLR. Como a vitamina A é um micronutriente solúvel em gordura, há uma capacidade limitada para se ligar às proteínas intracelulares. Como resultado, a vitamina A não ligada induz a lise da membrana e dano tecidual. Recomendações de Vitamina A para Paciente Feridos Atualmente, as recomendações clínicas para suplementos de vitamina A são apenas opiniões de especialistas e não são apoiadas pela prova de ensaios clínicos randomizados. Assim, ao considerar a suplementação, deve-se levar em consideração os benefícios potenciais, bem como o risco de danos. A administração parenteral sistêmica de vitamina A não está atualmente em prática para fins de cicatrização de feridas. Apesar disso, essa abordagem pode ser útil em situações de deficiência conhecida e absorção enteral prejudicada. Por outro lado, a administração tópica de vitamina A tem inúmeras indicações dermatológicas, mas a com aplicação direta em feridas não foi estabelecida como uma modalidade de tratamento, mesmo que estudos sugerirem que ela ajuda na úlcera diabética do pé e na úlcera venosa da perna. Prática Clínica Para uso dessa prática é essencial considerar vários aspectos envolvendo o paciente, como as funções hepáticas dentro da normalidade. Ademais, para melhorar a cicatrização de feridas, a administração sistêmica oral de vitamina A pode ser considerada nas seguintes situações: estado de deficiência conhecido; pacientes tratados com glicocorticóides por mais de 4 semanas; feridas diabéticas; quimioterapia com ciclofosfamida ou vincristina; pacientes com fraturas, queimaduras e problemas intestinais e lesão induzida por radiação; e infecção frequente/pacientes imunossuprimidos. Referências Bibliográficas Sugestão de leitura: Deficiência de Vitamina A: Quais as Consequências? Artigo: Vitamina A e Cicatrização de Feridas : Polcz ME, Barbul A. The Role of Vitamin A in Wound Healing. Nutr Clin Pract. 2019 Oct;34(5):695-700. doi: 10.1002/ncp.10376. Epub 2019 Aug 7. PMID: 31389093. Classifique esse post #cicatrizaçãodeferidas #vitaminaa