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Você já ouviu falar sobre o eixo microbiota-osso

Brunno Falcão

3 min

24 de mar. de 2023

Nos últimos tempos têm aumentado o número de pesquisas referentes a microbiota intestinal e sua interação com o resto do organismo humano. A microbiota intestinal se refere aos microrganismos, bactérias, fungos e vírus, que estão presentes no intestino, e que desempenham diversas funções no organismo, entre elas a síntese de produtos do metabolismo que tem funções em outros tecidos, síntese de vitaminas, absorção de nutrientes, síntese de neurotransmissores e hormônios, proteção contra patógenos e participação no sistema imunológico. Essa microbiota pode ser modificada por diversos fatores, e essa alteração na composição da microbiota pode ter consequências positivas ou negativas em outros órgãos e tecidos, através da comunicação com outros sistemas. Um dos sistemas que o intestino se comunica também é com o sistema esquelético, sendo o eixo intestino-osso. Esse eixo se refere à comunicação entre os ossos e o intestino e diversas pesquisas vêm sugerindo que a microbiota é um regulador da remodelação óssea, influenciando de forma positiva ou negativa, a depender da composição da microbiota. Além disso, alterações na microbiota intestinal podem alterar a massa óssea e propriedades biomecânicas do osso. Essa comunicação entre intestino e osso se dá de algumas formas: Integridade da barreira intestinal A barreira intestinal separa a estrutura interna de antígenos e patógenos, sendo uma forma de proteção ao organismo e sistema imunológico. Essa barreira pode sofrer modificações e ter sua permeabilidade aumentada, o que pode causar um aumento na circulação de lipopolissacarídeos e células T CD4 osteoclastogênicos, favorecendo a perda óssea. A barreira também influencia na absorção de nutrientes, dessa forma, a barreira precisa estar íntegra para que haja uma absorção efetiva de nutrientes essenciais para a saúde óssea, como cálcio, fósforo, magnésio, zinco. Além da microbiota sintetizar algumas vitaminas que são essenciais para a mineralização óssea, sendo importante manter uma boa composição dessa microbiota intestinal. Metabólitos da microbiota intestinal Carboidratos não digeridos são fermentados pela microbiota, produzindo os ácidos graxos de cadeia curta, que possuem diversas funções locais e sistêmicas. Esses AGCC também influenciam na saúde óssea, ao regular a osteoprotegerina (importante na mineralização óssea), ao afetarem a formação de osteoclastos e osteoblastos (células responsáveis pela remodelação óssea) e reduzirem a produção de citocinas inflamatórias. Outro produto do metabolismo da microbiota intestinal é o óxido de trimetilamina (TMAO), que aumenta a produção de citocinas pró-inflamatórias e espécies reativas de oxigênio e atenuam a osteogênese. Sistema imunológico A microbiota intestinal também se comunica com o osso através do sistema imunológico, uma vez que as células imunes e citocinas estão envolvidas na remodelação óssea e a microbiota influencia, dependendo da sua composição, na produção de citocinas pró-inflamatórias, favorecendo a formação de osteoclastos, que favorecem a reabsorção óssea. Sistema endócrino Os hormônios influenciam na saúde óssea, e a microbiota intestinal é um dos reguladores da homeostase dos hormônios. Alguns hormônios como serotonina, IGF-1, hormônios sexuais como FSH, estrogênio e androgênios exercem diversas funções sobre a regulação do metabolismo ósseo. Por exemplo, a serotonina induz a formação óssea e sua maior parte é sintetizada no intestino. O IGF-1 promove a formação de cartilagem e crescimento dos ossos e alguns estudos mostram que a microbiota regula os níveis de IGF-1. Os hormônios sexuais previnem a reabsorção óssea, e a microbiota também regula alguns desses hormônios sexuais. Dessa forma, uma composição saudável da microbiota tem efeitos positivos sobre a saúde óssea, então ao pensar na saúde óssea e no tratamento de doenças ósseas, também deve se pensar na microbiota intestinal e pensar nos fatores que influenciam na sua composição. Então, uma alimentação variada e rica em fibras, consumo adequado de água, controle do estresse, sono de qualidade, prática de exercício físico fazem com que haja uma melhor qualidade da microbiota e favorecendo a saúde óssea. --- Referências bibliográficas CHEN, Yuan-Cheng et al. Association between gut microbiota and bone health: potential mechanisms and prospective . The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 102, n. 10, p. 3635-3646, 2017. JIA, Xiaoyue et al. Gut-bone axis: a non-negligible contributor to periodontitis . Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, p. 1135, 2021. TU, Ye et al. The microbiota‐gut‐bone axis and bone health . Journal of Leukocyte Biology, v. 110, n. 3, p. 525-537, 2021. ZAISS, Mario M. et al. The gut-bone axis: how bacterial metabolites bridge the distance . The Journal of clinical investigation, v. 129, n. 8, p. 3018-3028, 2019.