Dieta e Nutrição em Distúrbios Ginecológicos
Brunno Falcão
6 min
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12 de ago. de 2024
As mulheres em todo o mundo enfrentam uma variedade de distúrbios ginecológicos, que vão desde condições benignas, como mioma uterino, endometriose e síndrome dos ovários policísticos (SOP), até malignidades ginecológicas. Esses distúrbios causam uma significativa morbidade, incluindo menstruação intensa, dor pélvica, anovulação crônica, hiperandrogenismo, infertilidade e, em casos graves, até morte. A maioria dos tratamentos medicamentosos oferece apenas alívio temporário, além de apresentar efeitos colaterais indesejáveis, interferir na gravidez e possibilitar a recorrência da doença após a descontinuação do tratamento. Atualmente, há debates sobre o papel dos componentes nutricionais e dos hábitos alimentares na modulação do risco desses distúrbios. Alguns estudos sugerem que uma alimentação equilibrada pode ter um impacto positivo na prevenção e no manejo dessas condições, embora mais pesquisas sejam necessárias para confirmar essas evidências. Dieta e Nutrição no Mioma Uterino Mioma Uterino Os miomas uterinos são os tumores benignos mais comuns do trato reprodutivo feminino, afetando até 70–80% das mulheres em idade reprodutiva. Seus sintomas variam desde menstruação intensa e prolongada até dor pélvica e subfertilidade. Atualmente, a cirurgia (miomectomia ou histerectomia) é o tratamento definitivo, pois os medicamentos hormonais oferecem apenas alívio temporário. Evidências sugerem que certos componentes dietéticos e fatores nutricionais podem influenciar o risco de desenvolvimento de miomas uterinos. Vegetais e Frutas no Mioma A ingestão de vegetais e frutas pode ter um efeito protetor contra miomas uterinos. Frutas cítricas, maçãs, repolho, brócolis e tomates são particularmente benéficos. Mulheres que consomem quatro porções diárias de frutas e vegetais têm um risco reduzido de desenvolver miomas em comparação com aquelas que consomem apenas uma porção diária. Dietas baseadas em vegetais podem diminuir os níveis de estrogênio biodisponível e aumentar a excreção de estrogênio, reduzindo assim o risco de miomas. Vitaminas no Mioma A vitamina A, especialmente na forma pré-formada proveniente de fontes animais, está associada a um menor risco de miomas, enquanto não há correlação significativa com carotenoides, como o β-caroteno. A vitamina D, por outro lado, tem uma associação mais forte com a redução do risco de miomas, particularmente em mulheres brancas e afro-americanas. A suplementação de vitamina D pode ser útil na prevenção e no tratamento de miomas uterinos. Epigalocatequina-3-Galato (EGCG) no Mioma O EGCG, um flavonoide encontrado no chá verde, tem mostrado eficácia no tratamento de mulheres com miomas uterinos. Ele pode reduzir significativamente o volume dos miomas e melhorar a qualidade de vida ao aliviar os sintomas. Dieta e Nutrição na Endometriose Endometriose A endometriose é uma doença crônica e recorrente que afeta de 6 a 10% das mulheres em idade reprodutiva, sendo uma das principais causas de dor pélvica e infertilidade. Esta condição ocorre quando o tecido semelhante ao endométrio cresce fora da cavidade uterina. Por ser dependente de estrogênio, as opções de tratamento conservador são limitadas a hormônios, como contraceptivos orais combinados, progestinas ou agonistas do hormônio liberador de gonadotrofina. Vitaminas na Endometriose A suplementação de vitaminas C e E tem mostrado reduzir os marcadores de estresse oxidativo e melhorar os sintomas de dor em mulheres com endometriose, embora não aumente as taxas de gravidez. Mulheres com endometriose frequentemente têm baixa ingestão dessas vitaminas e níveis reduzidos de vitamina D. A suplementação de vitamina D pode reduzir a dor pélvica, mas os resultados variam entre os estudos. Assim, mais pesquisas são necessárias para entender o papel da vitamina D na endometriose. Resveratrol e Curcumina na Endometriose O resveratrol é um polifenol encontrado em uvas, vinho, frutas vermelhas e nozes. Embora mais estudos sejam necessários, o resveratrol pode ser eficaz no tratamento da endometriose, possivelmente reduzindo a expressão de aromatase e COX-2. A curcumina, um composto polifenólico da cúrcuma, tem propriedades anti-inflamatórias e antiproliferativas que podem ser benéficas para o tratamento da endometriose. Dieta e Nutrição na Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é um distúrbio endócrino comum em mulheres em idade reprodutiva, caracterizado por anovulação crônica, hiperandrogenismo e morfologia ovariana policística. Este distúrbio está associado a problemas reprodutivos, doenças cardiovasculares, questões metabólicas e psicológicas. Mulheres com Síndrome do Ovário Policístico (SOP) têm maior risco de desenvolver resistência à insulina e condições associadas, como síndrome metabólica, doença hepática gordurosa não alcoólica, dislipidemia, hipertensão e obesidade. Dietas para Perda de Peso na Síndrome do Ovário Policístico (SOP) Embora não haja um tratamento específico para a Síndrome do Ovário Policístico (SOP), mudanças na dieta e no estilo de vida podem melhorar a saúde metabólica. A perda modesta de peso, dietas baseadas em leguminosas ou na abordagem DASH, e a distribuição de calorias ao longo do dia mostraram benefícios, como a melhora na sensibilidade à insulina e na regularidade menstrual. Além disso, dietas com baixo índice glicêmico foram eficazes na redução dos níveis de insulina e colesterol. No entanto, há pouca evidência de que dietas ricas em proteínas ou carboidratos sejam superiores. Estudos sobre dietas específicas, como a vegana ou de baixa carga glicêmica, mostraram resultados variados e frequentemente limitados. Vitamina D na Síndrome do Ovário Policístico (SOP) Os resultados dos estudos sobre a suplementação de vitamina D em mulheres com Síndrome do Ovário Policístico (SOP) são variados. Alguns estudos não encontraram melhorias nos níveis de insulina ou glicose, enquanto outros mostraram que doses mais altas reduziram testosterona, hirsutismo e melhoraram marcadores inflamatórios. A vitamina D pode melhorar os níveis de insulina e triglicerídeos em mulheres com sobrepeso e Síndrome do Ovário Policístico (SOP). No entanto, a combinação de perda de peso e suplementação de vitamina D melhorou a regularidade menstrual sem impacto significativo na perda de peso. Mais pesquisas são necessárias para entender completamente o papel da vitamina D na Síndrome do Ovário Policístico (SOP). Coenzima Q10 e Vitamina E na Síndrome do Ovário Policístico (SOP) A coenzima Q10 (CoQ10), um antioxidante natural, foi estudada tanto isoladamente quanto em combinação com vitamina E. A suplementação resultou em um perfil favorável de colesterol, pressão arterial e níveis de açúcar no sangue em jejum, além de reduzir os níveis de testosterona e aumentar os níveis de SHBG. Inositol na Síndrome do Ovário Policístico (SOP) O inositol-fosfoglicano (IPG) pode melhorar a resposta celular à insulina, sendo que a deficiência de D-quiro-inositol está associada à resistência à insulina. Estudos com mio-inositol mostraram redução no índice de massa corporal e na resistência à insulina, especialmente em mulheres com altos níveis de insulina em jejum. A suplementação com D-quiro-inositol também melhorou parâmetros como LH, a relação LH/FSH e a resposta à insulina, com melhores resultados em mulheres com histórico familiar de diabetes. Comparações entre mio-inositol e D-quiro-inositol mostram que ambos melhoram a função ovariana e o metabolismo, sendo que o mio-inositol é mais eficaz para o perfil metabólico e o D-quiro-inositol para a redução do hiperandrogenismo. Prática clínica A relação entre dieta e distúrbios ginecológicos ainda não é completamente compreendida, pois a maioria das evidências atuais provém de estudos epidemiológicos. No entanto, é claro que mudanças no estilo de vida, incluindo ajustes na dieta, prática regular de atividade física e suplementação adequada, são extremamente importantes para amenizar os sintomas de mulheres com essas condições. Uma alimentação equilibrada, rica em vegetais, frutas, grãos integrais e proteínas magras, pode melhorar a saúde geral e reduzir os sintomas. Além disso, suplementos como vitamina D, vitamina E, Coenzima Q10 e inositol podem ser benéficos para condições como a Síndrome do Ovário Policístico (SOP) e endometriose. A prática regular de exercícios físicos também é crucial, pois melhora a sensibilidade à insulina, reduz os níveis de estresse e promove o bem-estar geral. A hidratação adequada é fundamental para reduzir a retenção de líquidos e melhorar a função renal. Por fim, é essencial que médicos e nutricionistas monitorem regularmente os níveis de nutrientes e hormônios das pacientes, ajustando a dieta e a suplementação conforme necessário. Essas mudanças no estilo de vida são fundamentais para melhorar a qualidade de vida e a saúde ginecológica das pacientes. Continue estudando... Sugestão de estudo: Qual o papel da nutrição nas doenças ginecológicas? Sugestão de estudo: Probióticos e Saúde da Mulher: Qual a relação? Sugestão de estudo: Papel dos Antioxidantes na Fertilidade Feminina Referências AFRIN, Sadia; ALASHQAR, Abdelrahman; SABEH, Malak El; MIYASHITA-ISHIWATA, Mariko; RESCHKE, Lauren; BRENNAN, Joshua T.; FADER, Amanda; BORAHAY, Mostafa A.. Diet and Nutrition in Gynecological Disorders: a focus on clinical studies. Nutrients , [S.L.], v. 13, n. 6, p. 1747, 21 maio 2021. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/nu13061747 .