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  • Foto do escritorFabiola Maniglia

Seletividade Alimentar e Distúrbios Gastrointestinais em Crianças com Autismo

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é um conjunto complexo de transtornos do neurodesenvolvimento, afetando aproximadamente 1,13% da população mundial. Apresenta uma ampla gama de sintomas, incluindo alterações na comunicação, interação social, funções cognitivas e comportamentos restritos e repetitivos. Além dessas características, crianças com TEA frequentemente exibem seletividade alimentar (SA), um fenômeno que tem sido associado aos distúrbios gastrointestinais (DGI) nesta população.


Entre os comportamentos alimentares observados comumente no autismo estão: seletividade baseada no grupo e textura dos alimentos (como preferência por alimentos secos ou cremosos), comportamentos não convencionais durante as refeições e monotonia alimentar (por exemplo, preferência por um tipo específico de bolacha de uma determinada marca). A SA em crianças com TEA, muitas vezes acompanhada de aversão sensorial, pode levar à eliminação de grupos alimentares essenciais, impactando negativamente o perfil nutricional.


A literatura científica destaca a relação entre SA e DGI, especialmente pela restrição de alimentos que podem modular a microbiota intestinal. A disbiose intestinal, caracterizada por um aumento na abundância de bactérias como Enterobacteriaceae, Salmonella, Escherichia/Shigella e Clostridium XIVa, juntamente com respostas imunes anômalas e permeabilidade intestinal, emerge como fatores desencadeantes dos DGI.


Interação Complexa entre Autismo e Saúde Gastrointestinal


Problemas alimentares, como a seletividade alimentar, são comuns em crianças com TEA desde os primeiros anos de vida. Esses transtornos alimentares persistem ao longo do tempo e estão associados a riscos nutricionais significativos. A seletividade alimentar, caracterizada por um repertório alimentar limitado, muitas vezes resulta em padrões alimentares restritos, ricos em carboidratos simples e pobres em fibras, comprometendo a saúde gastrointestinal.


A neofobia alimentar, um componente-chave da seletividade alimentar, é mais persistente em crianças com TEA em comparação com crianças neurotípicas. Esta relutância em experimentar novos alimentos está associada a padrões alimentares restritivos e pode contribuir para desnutrição, obesidade e desequilíbrios metabólicos observados em indivíduos com TEA.


A inter-relação entre seletividade alimentar e distúrbios gastrointestinais em crianças com TEA é complexa. Estudos mostram uma associação entre a gravidade da seletividade alimentar e a prevalência de sintomas gastrointestinais, como constipação, dor abdominal e diarreia. No entanto, a natureza multifatorial desses fenômenos exige uma abordagem metodológica rigorosa na seleção de participantes, na avaliação dos distúrbios gastrointestinais e na classificação da seletividade alimentar.


É de suma importância considerar que a alimentação desequilibrada, caracterizada por um baixo consumo de frutas, vegetais e fibras, desempenha um papel essencial no desencadeamento de distúrbios gastrointestinais em crianças com TEA. A necessidade de estudos mais amplos, utilizando métodos padronizados e específicos, é destacada para aprofundar nossa compreensão dessa complexa relação entre seletividade alimentar e distúrbios gastrointestinais em crianças com TEA. A abordagem interdisciplinar, considerando fatores genéticos, morfofisiológicos, nutricionais e psicológicos, é essencial para revelar os mecanismos subjacentes a essa interação.


Prática Clínica


O acompanhamento clínico de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) requer uma abordagem multidisciplinar, integrando aspectos nutricionais para promover não apenas o desenvolvimento físico, mas também para atenuar os possíveis distúrbios gastrointestinais associados. A prática clínica proposta inclui diferentes etapas para otimizar a saúde gastrointestinal e promover uma alimentação mais diversificada e saudável.


  1. Anamnese Detalhada: Realizar uma entrevista detalhada com os pais/cuidadores para compreender o histórico alimentar da criança, suas preferências, aversões alimentares e experiências sensoriais associadas à alimentação. Explorar hábitos alimentares, comportamentos alimentares restritivos e possíveis correlações entre o TEA e a seletividade alimentar.

  2. Avaliação Bioquímica: Realizar exames bioquímicos específicos para avaliar o estado nutricional da criança, identificando possíveis deficiências nutricionais que podem impactar o desenvolvimento. Analisar biomarcadores associados à função gastrointestinal para detectar sinais de disbiose intestinal.

  3. Diagnóstico e Tratamento da Disbiose Intestinal: Realizar um diagnóstico preciso da disbiose intestinal através de análises de microbiota. Elaborar um plano de tratamento personalizado, incluindo probióticos e prebióticos para restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal.

  4. Identificação de Texturas, Sabores e Temperaturas Aceitas: Avaliar cuidadosamente as preferências sensoriais, identificando texturas, sabores e temperaturas aceitas pela criança. Observar as reações da criança a diferentes estímulos sensoriais relacionados à alimentação.

  5. Inserção Gradativa: Desenvolver um plano alimentar gradual, introduzindo novos alimentos de maneira progressiva e respeitando as preferências da criança. Adaptar o ambiente alimentar para minimizar estímulos sensoriais aversivos.

  6. Condução Tranquila e Positiva: Estabelecer uma abordagem tranquila e positiva durante as refeições para reduzir ansiedades associadas à alimentação. Incentivar a participação ativa da criança no processo alimentar, promovendo uma relação positiva com a comida.

  7. Suplementação Individualizada: Prescrever suplementos nutricionais de forma individualizada, considerando as necessidades específicas da criança, especialmente se houver deficiências nutricionais identificadas. Monitorar regularmente os resultados para ajustes no plano de suplementação conforme necessário.


Continue estudando…



Sugestão de Estudo: Tratamento Integrativo no Autismo



Referência Bibliográfica



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