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Transplante fecal: o futurismo cada vez mais atual na saúde gastrointestinal

História do transplante fecal


O transplante fecal é uma técnica médica que envolve a transferência de fezes de um doador saudável para o intestino de um paciente, o qual é realizado na tentativa de tratar a colite pseudomembranosa. O primeiro transplante documentado para esse fim ocorreu em 1958, quando outras opções de tratamento estavam esgotadas, levando os médicos a experimentarem esse método.


No entanto, o verdadeiro reconhecimento e estudo científico do transplante fecal começaram a ganhar destaque apenas em 2013. Nesse ano, um estudo pioneiro comparou a eficácia do transplante fecal com o uso de antibióticos no tratamento da infecção por Clostridium difficile, uma bactéria resistente a tratamentos convencionais. Esse estudo representou um marco importante no campo da medicina, destacando o potencial do transplante fecal como uma abordagem eficaz para tratar certas condições intestinais, especialmente aquelas associadas a disbioses bacterianas.


Fezes: Qual sua Composição e Importância?


Cada grama de fezes contém:


  • 100 trilhões de bactérias;

  • 1 bilhão de vírus;

  • 1 bilhão de arqueas;

  • 10 milhões de colonócitos;

  • 1 milhão de fungos e leveduras;

  • Além de ácidos graxos de cadeia curta (ação extraintestinais como no tratamento de câncer);

  • Sais biliares secundários;

  • Produtos do metabolismo do triptofano; 

  • Nitrogênio, fósforo e potássio;


A utilização de fezes no transplante fecal é justificada pela entrega de um "bioma" intestinal em equilíbrio, contendo uma variedade de microorganismos benéficos para a saúde digestiva. Este "bioma" não é apenas uma mistura de bactérias, mas também inclui metabólitos e outras substâncias que desempenham papéis importantes na manutenção da saúde intestinal.


Além disso, a microbiota intestinal pode representar até metade do peso das fezes, e aproximadamente 8% das calorias ingeridas diariamente são eliminadas nas fezes. Ao fornecer fezes de um doador saudável para um paciente, o transplante fecal não apenas restaura a diversidade bacteriana no intestino, mas também serve como uma fonte inesgotável, de administração fácil e gratuita, de metabólitos e outros compostos benéficos.


Quais são as técnicas? Como se Aplicam?


Para o transplante fecal, existem várias técnicas utilizadas, cada uma com suas particularidades. Uma delas é o transplante de lavado de microbiota, uma abordagem que envolve a coleta de fezes de um doador saudável, seguida de um processo de preparação específico. Desde 2018, essa técnica tem sido utilizada, onde as fezes são homogeneizadas, tratadas com etanol, centrifugadas e encapsuladas para posterior aplicação.


Essa abordagem envolve a preparação de um preparado a partir das fezes do doador, ao invés de utilizar as fezes diretamente. Isso ajuda a garantir a uniformidade e a consistência do material doado, além de facilitar o armazenamento e a administração do transplante.

Quanto à seleção do doador, voluntários não relacionados podem ser preferíveis a familiares próximos, especialmente para evitar a transmissão de doenças hereditárias que possam agravar o problema do receptor. Vários critérios devem ser considerados ao selecionar o doador ideal para o transplante fecal, incluindo a saúde geral, histórico médico e estilo de vida.


Portanto, o transplante de lavado de microbiota é uma técnica eficaz que oferece uma maneira controlada e padronizada de administrar fezes de doadores saudáveis para tratamento de condições gastrointestinais.


Vias de administração


  • via nasogástrica ou nasojejunal em sonda

  • via cápsulas orais congeladas ou liofilizadas 

  • via endoscopia digestiva alta - por um cateter 

  • via colonoscopia (TET)


Pontos Negativos

 

Dor abdominal, náusea, vômitos, flatulência e febre transitória são sintomas comuns que podem ser relatados após um transplante fecal, dependendo do método utilizado e da resposta individual do paciente. Esses sintomas são geralmente temporários e podem ocorrer devido a uma variedade de razões, incluindo reações adversas ao procedimento, ajustes na microbiota intestinal e possíveis complicações.


Rebyota E Vowst: A nova geração de FMT


Procedimentos realizados com fezes humanas: 


  • O Rebyota é administrado via retal, composto por bacteroides em filtrado tratado com PEG e solução salina, e a dose é única aplicada em consultório, evitando múltiplas doses.

  • O Vowst, aprovado em abril de 2024, é administrado por via oral (cápsula), eliminando a necessidade de processamento em laboratório. É feito com firmicutes formadores de esporos selecionados por etanol.

  • O FMT é uma forma de "suplementar" o vírus, conhecido como FVT (fecal virome transplantation). Quando esse transplante é realizado, há a possibilidade de transferência de viroma.

  • O FMT é centrifugado e filtrado esterilmente, utilizando uma malha com poros muito pequenos, para obter um viroma enriquecido. O potencial dessas técnicas é que todas as doenças influenciadas pela microbiota intestinal poderiam ser modificadas pelo transplante de microbiota.


Prática Clínica


Na prática clínica, o médico deve adotar uma abordagem cuidadosa ao considerar o transplante fecal como tratamento para condições gastrointestinais, como a colite pseudomembranosa. É crucial selecionar adequadamente o doador, preferencialmente voluntários não relacionados, levando em consideração critérios como saúde geral, histórico médico e estilo de vida. Além disso, o médico deve estar ciente das diferentes técnicas disponíveis para o transplante fecal, como o transplante de lavado de microbiota, que oferece uma maneira controlada e padronizada de administrar fezes de doadores saudáveis. As vias de administração, como via nasogástrica, cápsulas orais ou endoscopia digestiva, devem ser escolhidas com base na condição do paciente e na preferência do médico.


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Referências Bibliográficas


Bustamante JM, Dawson T, Loeffler C, Marfori Z, Marchesi JR, Mullish BH, Thompson CC, Crandall KA, Rahnavard A, Allegretti JR, Cummings BP. Impact of Fecal Microbiota Transplantation on Gut Bacterial Bile Acid Metabolism in Humans. Nutrients. 2022 Dec 7;14(24):5200. doi: 10.3390/nu14245200. PMID: 36558359; PMCID: PMC9785599.

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