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  • Foto do escritorKcal da Science Play

Estratégias Nutricionais para a Gestação Saudável


No contexto da fertilidade e gestação, é essencial compreender como tratar a infertilidade e programar a gravidez de maneira eficaz, visando a concepção de bebês mais saudáveis e inteligentes. No entanto, ainda é comum encontrar casos em que a gravidez não é planejada e sua descoberta ocorre tardiamente, demonstrando a necessidade contínua de educação e conscientização sobre o planejamento familiar e os cuidados pré-natais adequados.


Macronutrientes


Um estudo avaliou a ingestão dietética durante a gestação e constatou que muitas gestantes não seguem as orientações e recomendações específicas para esta fase. Geralmente, a ingestão calórica fica abaixo do recomendado. Porém, observou-se que mulheres que já apresentavam sobrepeso antes da gestação continuaram consumindo um pouco mais de alimentos durante esse período, optando por ingerir quantidades adicionais de proteínas e açúcares.


Carboidratos


É recomendado que 60-70% dos carboidratos (CHO) sejam de alta qualidade e de baixo índice glicêmico, preferencialmente de digestão lenta, e não apenas complexos. A ingestão diária recomendada de CHO para melhorar o controle glicêmico é de 175g/dia, o que corresponde a menos de 40% do Valor Energético Total (VET).


Um estudo constatou que a ingestão de carboidratos ficou abaixo da recomendação estabelecida. No entanto, a conclusão revelou que, mesmo com um consumo reduzido de CHO, houve um alto consumo de açúcar e uma baixa ingestão de carboidratos complexos, sendo a maioria proveniente de gorduras processadas.


Os efeitos adversos do alto consumo de açúcar e adoçantes incluem aumento do risco de parto prematuro, diabetes gestacional (DMG), pré-eclâmpsia e a formação de uma preferência da criança pelo sabor doce. É importante destacar que o uso de adoçantes não resolve esses problemas.


Lipídios


Outro estudo revelou que a hiperlipidemia gestacional é uma condição frequente, com os ácidos graxos amplamente disponíveis durante esse período crucial. Contudo, muitas vezes negligencia-se a importância de incluir ômega 3 e ômega 6 na dieta, sendo fundamental prestar atenção à proporção adequada desses ácidos graxos. Recomenda-se particularmente manter uma proporção de ômega 6 para ômega 3 de 5:1. De acordo com as diretrizes do Instituto de Medicina (IOM), desvios nos macronutrientes podem resultar em deficiências de nutrientes vitais para o desenvolvimento fetal.


Proteínas


O aumento da ingestão de proteínas no útero está associado ao aumento da disfunção cardiometabólica. As recomendações atuais de proteína são as seguintes: Antes da gestação: 0,8g/kg - Durante a gestação: 0,88 a 1,1 g/kg. No entanto, um novo estudo sugere uma recomendação de 1,2 g/kg para a fase inicial da gestação, aproximadamente até as 16 semanas, e 1,5 g/kg para a fase tardia, por volta das 36 semanas.


“Quem segue cegamente os protocolos, sem considerar as necessidades individuais das pacientes, está cometendo um erro”.


Os aminoácidos desempenham um papel crucial durante a gestação. Há um estado de hiperaminoacidemia desde o início até o final da gestação. A ingestão desequilibrada de aminoácidos durante esse período está associada a um maior risco de hipertensão. Estudos em animais indicaram que a suplementação de aminoácidos como arginina, taurina, citrulina, glicina e N-acetilcisteína pode prevenir o desenvolvimento da hipertensão ou reverter a programação epigenética associada a ela.


Vitaminas e Minerais


É estimado que cerca de 20 a 30% das gestantes apresentem deficiência de vitaminas, e frequentemente essa deficiência afeta várias das vitaminas simultaneamente. Em um estudo recente, foi observado um desequilíbrio entre folato e vitamina B12 por volta das 26 semanas de gestação. Nesse caso, o aumento do folato em relação à vitamina B12 resultou em níveis elevados de homocisteína, associados a reduções no perímetro cefálico e torácico, no peso e no comprimento ao nascer. Outra pesquisa demonstrou que a deficiência de vitamina B12, combinada com um aumento do ácido fólico, pode aumentar o risco de diabetes gestacional em 60%, sugerindo que a suplementação com folato pode mascarar a deficiência de B12.


Um dado preocupante é que gestantes com deficiência de vitamina B12 no início da gravidez apresentaram até cinco vezes mais probabilidade de ter um filho com múltiplas malformações. A vitamina B6, por sua vez, desempenha um papel importante na prevenção de pré-eclâmpsia, parto prematuro e sintomas como náuseas/vômitos, além de reduzir o risco de malformações cardiovasculares e fissuras orofaciais, enquanto contribui para o desenvolvimento do sistema neurológico. No entanto, a ingestão excessiva de vitamina B6, acima de 100 mg/dia durante a gravidez, pode levar a alterações no desenvolvimento do sistema nervoso do feto e até mesmo à redução na produção de leite.


Durante a gestação, os níveis de vitamina C podem diminuir em cerca de 30% se não houver suplementação adequada, sendo recomendada uma ingestão diária de 50 mg. A suplementação de 500 mg de vitamina C no último mês de gestação pode resultar em uma redução significativa dos níveis de bilirrubina neonatal. Já a vitamina D desempenha um papel crucial no crescimento ósseo e na função imunológica, sendo recomendada uma dose diária entre 2.000 e 4.000 UI, com níveis ideais de 30-40 ng/ml. A vitamina E, por sua vez, é recomendada na dose de 15 mg/dia e níveis baixos podem aumentar o risco de ruptura das membranas; sua suplementação pode reduzir complicações relacionadas ao estresse oxidativo durante a gestação.


Além das vitaminas, os minerais desempenham um papel essencial na gestação. O ferro, zinco, cobre (cuidado com níveis elevados, que podem levar a parto prematuro), magnésio, selênio e iodo são cruciais para a saúde materna e fetal. Anteriormente, havia uma preocupação predominante com o hipotireoidismo materno, no entanto, atualmente, a hipotiroxinemia materna, que afeta o transporte de hormônios para o feto, tem sido uma preocupação maior, pois afeta o desenvolvimento cerebral do feto desde o início da gestação, com efeitos permanentes mesmo em casos leves.


Prática Clínica


Dentro do consultório, é fundamental orientar as gestantes sobre a importância de seguir uma dieta equilibrada, rica em nutrientes essenciais como vitaminas, minerais, proteínas e carboidratos de qualidade. Além disso, é necessário alertar sobre os riscos associados ao consumo excessivo de açúcares e gorduras processadas, destacando os benefícios de uma alimentação saudável para o desenvolvimento fetal e a saúde materna.


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Sugestão de estudo: Ômega-3 e Gestação



Referências Bibliográficas


Gadgil, M., Joshi, K., Pandit, A., Otiv, S., Joshi, R., Brenna, J. T., & Patwardhan, B. (2014). Imbalance of folic acid and vitamin B12 is associated with birth outcome: an Indian pregnant women study. European Journal of Clinical Nutrition, 68(6), 726–729. doi:10.1038/ejcn.2013.289

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